sexta-feira, 8 de junho de 2007

O racismo e a hipocrisia

O caso dos gêmeos idênticos foi resolvido: os dois concorrem pelas cotas na UnB. Várias coisas me chamaram atenção nesse fato. Antes deles e antes de escrever esse texto, pensei: "Lá vou eu escrever pra variar sobre cotas", pois é, mas se não for eu vai ser quem? Eu, como estudante negra, mais do que devo me pronunciar sobre o assunto. Convido todos a uma reflexão.

Bem, os irmãos são agora cotistas. Um deles, na televisão, afirmou que era contrário as cotas, porque era uma forma de racismo e só entrou no sistema porque era mais fácil de passar. Fiquei indignada com a declaração, mas depois percebi que ao menos ele não mentiu.

Na minha época de Ensino Médio e cotas recém-lançadas era um bafáfá esse assunto. Tendo estudado em uma escola particular pop da cidade ouvi e vi as maiores asneiras que poderiam ser proclamadas pelos ignorantes adolescentes que sempre acham saber tudo.

Certa vez ocorreu um movimento em apoio ao novo sistema e eu estava com um adeviso "eu sou a favor das cotas". Uma menina da minha sala chega e me indaga: "Você é racista? Como pode aceitar as cotas? Isso é racismo também!". Aí tive que explicar que não era racismo, era uma reparação mais que justa, que é emergencial e que no futuro talvez (assim espero) não sejam necessárias. As cotas são uma chance a mais para o povo preto encher as universidades, majoritariamente brancas.

Não satisfeitos, outro estudante me questiona se é justo que eu, estudante eterna de colégios particulares, concorra pelas cotas. Mais uma vez tive que explicar o óbvio, que muitos dessa elite não enxergam: as cotas são para cor, não para classe. Eu sou negra de qualquer jeito, sofro preconceito onde estiver e não só posso como devo usufruir de todos os direitos que me cabem. Mas confesso que uma certa dúvida me abateu. Seria eu hipócrita?

Na época das fotos para o julgamento da comissão responsável por dizer quem é negro e quem não é, vi o colégio cheio de gente queimada de sol, meninas que usualmente usavam chapinha com seus cachos à mostra, e algumas mais caras-de-pau com tranças. Gente que não se considera negra criando qualquer característica afro-descedente. Foi então que eu percebi quem era hipócrita nessa história.

3 comentários:

Anônimo disse...

Linhas em negritos que deveriam tranbordar cores como conhecimentos para leigos. Se pudessemos entender conceitos mais simples tudo isso seria desnecessário. Mas como alguém já disse uma vez.

"Não falta lutas dignas a serem travadas, o que falta é quem o faça."

Anônimo disse...

Além de sabermos quem sao os hipócritas, esses casos que ocorrem e a necessidades dos grandes meios comunicadores de evidenciar um problema que ocorreu isoladamente, só faz com que nós, comunidade negra, permanecemos na luta. Porque existem muitos, mas muitos hipócritas de verdade que só estao esperando um cochilo da nossa parte para arrancar o que já conquistamos.

Anônimo disse...

Hj tava vendo uma matéria na Record sobre isso e percebi que eu ainda não consegui ter uma opinião formada sobre as cotas. Ao mesmo tempo que concordo com a teoria da "dívida", fico pensando nessas formas ocultas de racismo e nas oportunidades que os pobres deveriam ter, também. É mais ou menos isso...