domingo, 8 de março de 2009

As sete mulheres

Em homenagem às mulheres. Todas. Com cores várias e crenças mil. De sonhos únicos e palavras múltiplas. De sorrisos ensolarados e com olhos nublados.

Eram sete, e número mais cabalístico não havia de ter.
Sete mulheres. Sete almas capazes de levar o mundo nas costas com o bom e velho sorriso aberto. Não consigo pensar em beleza mais intensa e força mais sólida; em coração mais bom, em karmas tão complexos.

Mulher 1: A mais velha virou mãe das outras miúdas quando a mãe natural morreu. O coração parou. Talvez não tenha suportado as mazelas do mundo ou talvez amasse tanto que explodiu de emoção. Mas, com hipóteses à parte, ela já tinha ido e deixado à cargo da número um o árduo trabalho de cuidar das outras seis. A um, era uma mulher bonita, de olhos charmosos e de sorriso galanteador. Casou-se, perdeu o brilho e ganhou filhos. Perdeu a autonomia e ganhou regras. A família multiplicava, no mesmo compasso da dor de não sabe o que fazer com o futuro.

Mulher 2: Era quem carregava com mais cuidado o dom da calma. Mulher mais paciente não existia e por ter o tempo tão lento, deixou que caminhassem a pé os desejos e vontades. Virou esposa tardiamente e mãe com mais atraso ainda. Não tinha diploma, mas o título de mãe e mulher – o que não lhe bastava. Porém, o tal Cronos traria para ela sonhos, nem que fossem só para serem sonhados.

Mulher 3: Por sorte ou destino nunca foi o clichê-mãe. Não que não quisesse, mas não lhe deram opção. E sem mais nenhum caminho para trilhar, foi rumo ao cuidado de todos os outros, e assim, foi materna com cada um que passou na vida dela. E justo a vida foi quem a mais ameaçou, e por algumas vezes quis lhe deixar. Mas como mulher não deixou que escapasse e multiplicou a existência com a voz e com o olhar.

Mulher 4: Filha do meio, não tinha lá nem cá e por isso, escolheu a metade. Metade menina, metade mulher. Meio ser humano, meio ser do céu. Era como um anjo protegendo seus queridos e semelhantes. E ao cuidar demais do outro fez com que cuidasse menos de si. Criou filho, marido e vínculos até com quem não era dos seus. A bondade era a qualidade que caminhava com o egoísmo, entornado para si. O equilíbrio era outra cara metade que ela não conhecia.

Mulher 5: A mais vaidosa. Tinha uma beleza mais histérica que a número um, e um charme menos sutil. Todavia, mesmo maquiada de paz e felicidade não escondia a dor que sem querer apontava no canto do sorriso amarelo, emoldurado por lábios vermelhos. Produzia-se para o mundo e desnudava-se dentro de si... Enfeiando-se. Todos os homens da vida da número cinco ou partiam deixando um vazio choroso como o ronco da cuíca, ou ficavam, castigando-a como a mão no couro do tambor. Na batucada da vida, um samba triste anunciava a quarta-feira de cinzas.

Mulher 6: A risada ecoada pela casa facilmente se confundia com o pranto espalhados pelos cantos. O bom humor típico era tão constante como a rabugice que surgia em dias nublados. Era de todos pela simpatia ímpar. Era de ninguém em dias que passavam de par em par.

Mulher 7: A última era doce. Mais doce que doce de batata doce. Tinha olhar meigo, mãos quentes e coração aflito. O talento em criar roupas, artes e alimentos não era identificado no amor. O tinha de sobra e deixava em cada cachecol, colar ou comida que fazia. Deixava amor em todos os lugares e de tanto distribuir, um dia, ficou sem para si. Criou fórmulas e receitas para tê-lo sempre que precisasse, e dessa maneira resolveu botá-lo sempre que a convinha. Pitadas de amor eram espalhadas como migalhas de pão, afim de atrair quem desejasse mais...

Eram sete, mas poderiam ser 14, 21 ou 1 milhão. Eram só uma parcela do gene XX que o mundo criou sem saber ao certo como administrá-la. Eram sete em uma casa com homens de menos e dores demais. Sete multiplicadas por outras tantas e divididas por outros mais.

domingo, 1 de março de 2009

Partida

"Eu não quero mais mentir

Usar espinhos que só causam dor

Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu

Dos cegos do castelo me despeço e vou

A pé até encontrar

Um caminho, o lugar

Pro que eu sou"


Nando Reis






Assim como os gatos, as mulheres possuem um sexto sentido apurado e ótima intuição. E talvez por isso, a dor não a tenha pego de forma tão avassaladora.


Nos castanhos vivos, se via uma nuvem de indecisão e tormento. "Não queria te magoar’, eram as palavras dele, saindo doces e descendo amargas feito fel. E esse papo de mágoa ela já conhecia, a gente magoa só quem a gente gosta, ela se lembrava. Ninguém quer magoar alguém, mas é o que sempre acontece.


A maior preocupação era com a saudade, que incomodaria em noites frias e chuvosas, sem cigarro e sem cerveja, sem carinho e sem atenção.


Como seriam os dias daqui pra frente? Outros homens com outros cheiros e medos haveriam de surgir, mas ainda não era tempo de mudar, pensava. Sendo assim ou sendo assado, ela arrumava as malas para mais uma vez partir.


Partiria para um próximo amor e uma nova dor. Com cores novas, simbólicas, poesias vivas e palavras bonitas…


Iria para longe e para mais um motivo de inspiração.