Ontem, minha querida cantora
Elza Soares se apresentou aqui em
Brasília, no Teatro Nacional. De graça, com os devidos atrasos e com clássicos como "
Se acaso você chegasse". Mas em algum momento a casa caiu, o show que estava jóia - e me pareceu tão curtinho - ficou com um certo clima de tensão.
Elza, no seu direito de cidadã, ao cantar a música
A carne, de Seu Jorge, Marcelo Yuca e Ulisses Cappelletti, disse que era contra as cotas, que queria era igualdade e educação. Alguns aplaudiram, outros não [eu não aplaudi]. Logo em seguida ela cantou o
Rap da Felicidade e o público cantou junto, animado.
Critiquei forte na hora e me chamaram de "politicamente correta demais"; outro disse que eu "levo tudo a sério", mas acho que não entenderam a minha crítica.
A cantora pode falar o que quiser, cantar o que quiser, mas será que não soa hipócrita um público classe média, média alta, cantar no teatro [
NACIONAL!] : "
eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci"? Hipócrita porque alguns deles vão chegar em casa e recriminar o funk, e dizer que é coisa de preto e favelado e achar um absurdo alguém escutar e ser capaz de se entreter.
A atitude de Elza é válida no sentido de trazer o morro para qualquer lugar que não seja o morro. Mas bem...vamos entrar no outro tópico do bate-boca:
As palmas brancas contra as cotas. Novamente digo que a cantora pode achar o que quiser, mas a mídia, esse quarto poder que bota pra fu*, não tá nem aí, pode muito bem usar as palavras dela [Elza] para
continuar a campanha "cotas-não". Os meios de comunicação são tão cruéis... Pois, são eles que trazem o dado que somente 6% da população é negra e são eles que se esquecem de falar sobre o
problema da auto-afirmação brasileira.
Espero que a Elza continue cantando "
A carne mais barata do mercado é a minha carne negra", e que os brancos, negros, na favela ou no blablá Hall, se sensibilizem, reconheçam seu racismo e a partir daí coloquem em prática a igualdade -
o racismo só pode ser combatido se assumido.
"A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos"