sexta-feira, 30 de maio de 2008

Viagens em sonhos

Outro dia vi um senhor que me chamou a atenção. Era sua cor que gritava. Silenciosamente ela me prendia. O senhor era preto. Retinto, como diria minha mãe. A pele contrastava com os cabelos cor de neve e com o cavanhaque mesclado, como um sorvete de flocos.

Fazia frio e esse senhor se encolhia todo, quando li em cima da mesa: "O último vôo do flamingo". Seria ele de Moçambique? Ou lia Mia Couto pelo simples gosto da literatura?

A mulher da palestra falava sem parar e sutilmente fui caindo no sono até chegar em sonhos.

Em espanhol sono e sonho possuem a mesma grafia, e assim, meu sonho se confundia em sonhos, como los hermanitos do outro lado do oceano.

Nos sonhos via vários livros e letras, e assim pensei na ponte de ligação do meu idioma com o do senhor contrastante. Com português daqui ou de lá, nos comunicaríamos do mesmo jeito, com palavras grafadas, viajando barcos em impressos, chamados livros.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Que rufem os tambores!

Muito samba e festa junina agitam a cidade nas próximas semanas.


Amanhã só os clássicos! A Festa Babulina no Arena Futebol Clube traz a Banda Salve tocando Jorge Ben e Tim Maia. Até às 23 horas mulher paga R$ 5 e homem paga R$ 10, depois sobe um pouquinho: mulher paga R$ 10 e homem R$ 15.

No sábado e domingo, o Teatro da Caixa recebe mais uma vez a Velha Guarda da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma chance imperdível de ver (e rever) os músicos cariocas. Em janeiro, eles estiveram no mesmo teatro, que lotou, e muita gente ficou de fora. Por isso, eles prometeram voltar e cumpriram. Os ingressos são R$ 2 a inteira, e R$ 1 a meia. Sábado às 21 horas e no domingo, às 20h.

Neste final de semana, também se apresenta na cidade o Barbatuques. Usando o corpo para produzir os sons mais inusitados, o grupo paulistano estará no CCBB no sábado (21h ) e no domingo (20h). Ingressos: R$ 15 a inteira e R$ 7,50 a meia.

Domingo é pros forrózeiros. Às 16 horas, lá no gramado do Complexo Cultural da Funarte, Oswaldinho do Acordeon se apresenta pelo projeto Choro Expresso. É de graça!!!

Domingo também é o último dia para ver a exposição Magnum 60 anos. Fotos de membros da famosa agência de Henri Cartier-Bresson estão expostas das 9 da manhã às 9 da noite. Entrada franca.

Terça-feira que vem é dia de samba de altíssima qualidade. O Café Cancun com o Projeto Terça Carioca traz para a cidade a Velha Guarda da Mangueira. É um pouquinho do carnaval carioca em quase inverno brasiliense!

Dia 29, quinta-feira, o açougue mais cult de Brasília traz os anos 80 de volta. A banda Blitz irá se apresentar na 22ª edição da Noite Cultural do T-Bone, e melhor: de graça. Só uma dica: o evento também é uma ótima chance para doar livros para o Projeto Parada Cultural!

Dia 4 de junho é pra quem gosta de Chico. Não, não Chico Buarque não virá à Brasília, mas estará aqui pela voz da paulista Mônica Salmaso. Mônica, acompanhada pelo grupo Pau Brasil, se apresentará na Sala Villa-Lobos para lançar seu Cd Noites de gala, samba na rua, só com músicas de cantor e compositor carioca.

No dia 14 de junho, a Festa Junina de Brasília, no Iate Clube, vem com muito samba e com Diogo Nogueira, filho do saudoso João Nogueira.

Fechando o mês de junho, dia 28, tem a famosa Festa do Seu João, na Asbac, que esse ano vai contar com participação das bandas Falamansa e Monobloco.

Em breve trago mais coisa nova pra vocês.

; )

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Final feliz

Quando a conheci, ela devia ter uns vinte e poucos anos, e mesmo com aquela idade, eu daria 18, de tão pequena e frágil que parecia. Cabelos crespos e curtos, olhos puxados e oblíquos. Pouco me recordo do passado, mas bem sei dizer do presente.

Do pouco que sei, sei que ela foi marcada por muitos desamores, dores intensas, feridas abertas, custosas de cicatrizar. A amargura já havia enchido seu peito e seu sorriso nem lembrança era.

Até uma viagem. Ali, do outro lado do continente, existia um homem alvo, com olhos cor de oceano que a esperava sem saber. A partir daqui contaria uma história de amor que cruzou tempos e mares e culminou no fim.

As ciladas do destino a trouxeram para sua terra, deixando mais desesperança e dor, em um coração tão moribundo, que só queria paz.

Há um tempo atrás eu a vi, e mal sabia que seria a última vez. Com um olhar saudoso e aflito, ela estava do lado de uma mala ainda aberta, talvez na espera de levar mais lembranças quando partisse. Há pouco soube que ela se casou um uma cidadezinha do interior da Europa, com aquele homem de olhos de bolinhas de gude. Todas as dores têm finais felizes.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O tempo leva

- Como pode alguém sonhar o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer e isso, eu vi,o vento leva!
- Não sei mais sinto que é como sonhar que o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer...
Los Hermanos - O Vento


Outro dia quase senti saudade. Por alguns instantes senti falta do sorriso que não tinha, das minhas falsas gargalhadas, dos pseudo-companheiros, daquele sentimento que era um placebo. Nada mais. Vi fotos de exato um ano atrás e pensei nas coisas que não foram. Nos amores não gerados, nas dores recicladas, nas vidas transformadas.O tempo leva.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

De perto...

“Só vê ser humano quem é ser humano, o resto é animal”
Do curta “De perto, quem é normal?”




Ontem, no UniCEUB, ocorreu a Abertura Solene da Semana da Luta Anti-manicomial. Desde do dia 5 até o dia 18 de maio, vão acontecer diversas atividades pela luta contra discriminação por pessoas chamadas de loucas.

Foram exibidos o curta “De perto, quem é normal?”, de Raoni Machado e André Viana, e o vídeo produzido pelos alunos de Comunicação Social e de Psicologia da instituição, junto com a TV Pinel do Rio de Janeiro e com usuários e militantes da saúde mental. Ambas produções serão apresentadas em estações do metrô e na rodoviária, visando divulgar o movimento.

Os filmes encantaram o público, mas o ponto alto da noite foi a apresentação do coral Harmonia e voz do Instituto de Saúde Mental, aplaudido de pé pelo auditório lotado. Me arrepiei toda vendo eles cantarem.

Antes de entrar naquele auditório, não tinha noção do tamanho da discrimação que existe e nem do tanto de ignorância que caminha junto com ela. No mesmo dia do evento, escutei tanta besteira vinda de uma pessoa que trabalha comigo, que me senti na obrigação de escrever sobre isso.

É extremamente compreensível quando alguém sem instrução comete determinados preconceitos por que não tem EDUCAÇÃO, mas quando esse tipo de intolerância vem de alguém que está no Ensino Superior, penso que o respeito às diferenças é coisa de índole e formação.

“Ai que medo de entrar lá, com aquele tanto de doido. Vai que algum deles quer me agarrar?”.

Sim, tive que escutar isso.

É por esses comentários e por outros bem piores que a Semana da Luta Anti-manicomial deve existir.

Procure mais informações sobre o evento. Nunca é tarde para a conscientização.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dia de luta

"Livre do açoite da senzala. Preso na miséria da favela".

Samba-enredo “100 anos de liberdade - realidade ou ilusão?”. Estação Primeira de Mangueira, 1988
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13 de maio de 1888: No Rio de Janeiro, a Princesa Isabel assina a Lei Áurea e abole a escravatura do Brasil.

Site do Correio Braziliense de 13 de maio de 2008: A população negra será igual ou mais numerosa que a branca no Brasil ainda em 2008. A projeção foi feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou nesta terça (13/05) o estudo “Desigualdades Raciais, Racismo e Politicas Públicas: 120 Anos de Abolição”.

Site da Folha de S.Paulo em 13 de maio de 2008: A população negra deverá ser maior do que a branca no Brasil ainda neste ano, segundo projeção feitas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). (..) Em 1976, ano da primeira Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a população brasileira tinha 40,1% de negros e 57,2% de brancos. Em 2006, havia 49,5% de negros e 49,7% .

7h da manhã, a televisão grita: “Hoje é dia da Consciência Racial”.

É por essas e por outras que ninguém entende a falta de consciência e de luta brasileira.

Dia 13 de maio. 12o anos da abolição da escravatura no país, não da consciência racial. Teoricamente hoje seria um dia para comemorar, mas como o Movimento Negro, repudio a data. Na verdade faço melhor, procuro usá-la como bandeira para gritar por liberdade, mais uma vez.

Quando eu era pequena, pensava que a Isabel era uma princesa legal, e que tinha assinado uma lei bacana e com isso, tornava o Brasil o último país a deixar de ter escravos. "Ô mulher boa", acreditei. Anos depois, com a consciência racial sendo trabalhada, entedi porque dia 13 de maio não é dia de festa.

Há pouco mais de 1 século atrás, tiraram as correntes do meu povo e os deixaram no relento; disseram que eles eram livres,mas não deram escola, saúde, oportunidade ou sorte. Assim, a história do meu povo povo preto é marcada mais uma vez pelo descaso e pelo preconceito.

Hoje foi dia de reafirmar lutas e causas e daí, vi que muita gente foi dizer "sim" às cotas no Senado. Então repito: Sim, sim e sim!

Sim pela Lei dos Sexagenários, do Ventre Livre, Áurea etc. Sim por cada não em entrevistas de emprego. Sim por causa de cada comentário jocoso durante as aulas (de história, principalmente) sobre a etnia negra. Sim pelo povo que do açoite, foi pra favela.

Sim pela liberdade que tanto sonhamos. E sim, pelo desenvolvimento de uma consciência racial combatente - por que segundo estudos de não sei da onde, a igualdade econômica entre brancos e negros só será possível em 2040. Então sim, para que o meu povo se veja negro, porque o negro é lindo, o negro é forte, o negro é luta.

Como diria a canção “Se hoje estou aqui, só devo a Dandara, Só devo a Zumbi”.

A luta continua.