domingo, 28 de dezembro de 2008

“Este Rio de amor que se perdeu...”

Minha relação com o Rio de Janeiro é inexplicável. Uma vez me disseram que eu tenho um caso de amor com ele... é...acho que ele é meu amante.

Porque relacionamento sério, de papel passado é com Brasília. Minha cidade querida, de origem e pra sempre. Se eu for embora, eu vou ter que voltar; só porque é Brasília.

Mas e o Rio? É a minha utopia, meu desvio, minha fuga. Um lugar só meu e de todos. Rara e clichê. Viva e colorida.

Sem os concretos típicos da capital me perco pelos paralelepípedos branco e preto, cheios de areia. Sem a terra vermelha me deixo levar pela maresia insistente. Sem o silêncio de domingo ensurdeço com os ecos de "Sssskol gelada", "Bisssscoito Grobo" ou "Olha o mateee". Adoro.

O Rio se revelou pra mim por meio dos livros. Como boa navegante, viajo por aí... no mar de palavras. Tudo começou quando chegou a minhas mãos “Noites tropicais” de Nelson Motta.

A história da música brasileira, pra mim, era tudo aquilo que eu queria ter vivido, visto e sentindo - a mesma sensação que tive ao ler “Ao som do mar e à luz do céu profundo”, também do Nelson, “Quase tudo”, da Danuza Leão e os tantos livros do Ruy Castro. Mesmo (nem sempre) não falando de música, eles me mostraram aquele Rio preto e branco, com menos violência, com mais malandragem do bem, um Rio perdido nos meus pensamentos e tão próximo, que me arrepia só em lembrar.

Tudo o que eu não vivi no Rio é tudo do que eu sinto falta. E tudo o que vivi é o que me chama de volta, sempre. É o sebo, ali, no Bairro Peixoto; é o ar-condicionado, amolecendo o corpo recém saído do sol; é a Lapa ansiosa, com seus arcos abertos para todo mundo, com todos os cheiros, gostos e cores; é o mercadinho perto do metrô; a padaria da esquina; a pastelaria coreana; as lojas de suco...

Se não, é a Praça General Osório, fim da linha do ônibus, a minha lembrança do Bar Jangadeiro, dos tempos de Banda de Ipanema e de Hugo Bidet, que eu nunca vi, só ouvir falar...

Cada canto conta uma história, mas todas, no fim, falam do mesmo: saudade. E é por isso eu tô voltando, pra buscar, o que no fundo, também é pouco meu.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ironias

10/12/2008: São 14h05, viaduto ao lado do Conic, parte inferior. Menores de idade estão se prostituindo por poucos reais.

7/12/2008: um torcedor são-paulino é mais uma vítima do despreparo da polícia brasileira. No mesmo dia, no mesmo lugar, um homem, imobilizado por policiais, leva um tapa na cara de outro policial.

10/12/1948: A Declaração Universal dos Direitos Humanos é assinada em Paris.


"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito"


Não é o que eu vejo por aí.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Porta

Era uma vez eu. Eu na frente de uma porta sem número, com aparência de velha. A anciã passagem, que já tinha presenciado inúmeras despedidas nossas, agora, mais uma vez, via uma cena que poucos seriam cúmplices.

Era eu lá. Receosa, medrosa, sem paciência. Eu tinha ido mais para dizer que tinha feito minha parte do que por qualquer outro motivo. Era para me despedir, dizer boa viagem e só.

Esperei um vizinho abrir a portaria, já que não ia berrar à espera de alguém que aparecesse. Algum solidário (e solitário) morador surgiria. Sim, claro.

Com o coração na boca e com as mãos suadas bati três vezes na porta. Havia marcas de dedos de pó de tinta. “O apartamento seria pintado”, lembrei. E justo, o cheiro de tinta gritava.

Ela gritava e eu muda. Torcendo para que ninguém aparecesse. Para que despedidas? Lágrimas, apelos e mentiras? Não vê-lo seria o melhor a acontecer.

E foi.

Descendo as escadas, que foram cúmplices de mãos dadas e de pés ansiosos, fui aliviando a necessidade da obrigação. Dizer “boa viagem”, “volta logo”, “você foi importante pra mim” não seria mais necessário. Foi uma daquelas partidas típicas da minha vida: silenciosa, lenta e subjetiva.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Em busca de vôos mais altos

Gente, queria compartilhar uma coisa com vocês...

Ontem, vi um negócio super bacana na TV Brasil. O programa Caminhos da reportagem falou sobre a eleição que levou Barack Obama ao poder e as possíveis conseqüências dessa vitória. No programa foi exibida uma fala do rapper Jay Z, que é mais ou menos assim:

"Rosa Parks sentou para que Luther King pudesse andar. Luther King andou para que Obama pudesse correr, e hoje, Obama corre para que possamos voar".

É, a esperança está no ar...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Samba de A a Z

"eu canto samba porque só assim eu me sinto contente. eu vou ao samba porque longe dele eu não posso viver..."


Em homenagem ao Dia Nacional do Samba, vai aí um abecedário bem simples para quem quer saber um pouquinho dos grandes nomes desse gênero musical tãoo brasileiro.

Bom samba!

A Adoniran Barbosa, Alcione, Arlindo Cruz
B Beth Carvalho, Bide
C Cartola, Clementina de Jesus
D Demônios da Garoa, Dona Ivone Lara
E Elton Medeiros

F Fundo de Quintal
G Guilherme de Brito, Guinga
H Heitor dos Prazeres
I Ismael Silva

J Jamelão, João Nogueira, Jorge Aragão
L Leci Brandão, Luiz Carlos da Vila
M Martinho da Vila, Marti’nália
N Nelson cavaquinho, Noel Rosa
O Os Originais do Samba

P Paulinho da Viola, Paulo da Portela, Pixinguinha
Q Quinteto em Branco e Preto
R Riachão
S Sombrinha
T Tereza Cristina

V Vadico
Z Zeca Pagodinho
W Wilson Batista

domingo, 30 de novembro de 2008

A profissão que escolhi

Jornalismo é uma profissão complicada. Pro vários motivos.

Quando as pessoas dizem que vai fazer jornalismo os pais se desesperam temendo que os filhos morram de fome ou se tornem alcoólatras. Ou os dois. Mas uma coisa que eu aprendi é que tem como ganhar grana com a profissão: basta ser bom. E tem como não se tornar alcoólatra. Mas essa parte aí eu ainda não descobri como. =O

Jornalismo é uma competição, o tempo todo. Quem escreve mais, melhor e mais rápido. É duelo com os outros e consigo mesmo. A luta começa antes mesmo da graduação, com os estágios. Quem arranja o melhor? Quem é contratado? Se a pessoa não tiver equilíbrio e boa índole tá ferrado. Inveja permeia demais essa área, mas há como ter competições saudáveis. O exemplo disso são indicações de amigos pra outros estágios e estímulo entre os colegas. Tem um amigo meu que diz que a nossa competição é super saudável. Também acho, e vai ser por isso que um dia seremos ricos, bebendo numa mesa de bar. Hahaha

A competição aliada com outros fatores causa uma doença muito complicada: o ego. Nada pior que um mega-ultra-power ego, coisa que, normalmente, jornalista tem. A humildade é pra poucos. Entra numa redação que em 10 minutos de conversa você vai entender o que eu digo.

Jornalismo é bom, mas é ruim. É bom porque você informa as pessoas, e ruim porque essa informação pode acabar com a sua carreira. Por isso insistem tanto para que sejamos rígidos quanto a apuração. Mas mesmo assim, algumas vezes, com tudo apurado, certinho, tem alguém pra meter pau, dizer que é mentira ou sei lá. Assim, surge um desafio: a reputação.

Reputação se adquire com tempo e talento, e não é pra qualquer um. Tem gente muita boa por aí com mais de 20 anos de carreira, e mesmo assim não tem reputação. É o sonho de todo foca.

Não é fácil ser jornalista (por mais moleza que pareça ser a graduação). Mas quem escolhe esse ramo tem o privilégio de escrever sempre: factual, ficção, o que for. Pode gerar raiva, emocionar ou fazer chorar. Enfim, tem o dom de fazer sonhar, refletir e questionar só com uma ferramenta: a palavra.

É...tô no caminho certo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Coisas de Festival (2008)

Mais um festival. O 41º para ser mais exata. O meu mesmo eu não sei qual é; perdi a conta. Mas dos poucos que fui e do muito que vi... Aff! Que repetitivo.

Assim, além daquele esquema pseudo-intelectual de palmas para frases pseudo-impactantes dos filmes, tem o pessoal de sempre. Pô, talvez eu esteja no hall do pessoal de sempre, mas ao menos sou discreta. Não uso bonés roxos, botas vermelhas ou echarpes azuis com bolinhas amarelas.

Tá, então, mais um festival. Fila quilométrica, atraso, gente no chão... Gente em todo lugar na verdade. Principalmente na porta. E se você quiser ver alguém no evento é só ir pra porta principal. Dez minutos é tempo suficiente para encontrar meia dúzia de colegas da época do segundo grau que se tornaram mais pseudo do que você poderia imaginar. Coisas na Universidade pública.

Dica pra não esperar muito: se você realmente quiser ver os filmes, vá para a sessão das 20h30 que começa 21h, porque é mais maneira já que os diretores apresentam o elenco fazem uma sinopse breve (ou não), porque é mais cedo e porque depois da sessão você poderá fazer a exposição da figura na Medina (vulgo Cine Brasília) na porta principal.

O festival pode ser classificado vários quesitos. Ressalto dois.

Roupa
Porque as pessoas não podem usar roupas comuns? Tipo jeans e blusa da C&A?
Mas não... as pessoas tem que juntar que há de mais exótico no armário e sair por aí achando que tá abalando. Tem gente que não saca "Menos é mais", já diria um fashion por aí.

Pânico de semi-conhecidos
Brasília+ um único evento barato+ badalado = gente pra caramba junta. E pior, conhecida.

Não adianta fugir, olhar pro lado ou fingir que o celular tocou. Sério, vai ser pior. Nada mais chato que ver um semi-conhecido na sua frente e se fazer de invisível. Cumprimenta, sorri. Educação é jóia rara nos dias de hoje (Ai ai ai ...Essa dica fica pra mim também).

Agora...
As premiações

Ano passado eu fiz um resuminho de cada filme que vi e soltei minha opinião sobre eles. Esse ano é complicado porque vi pouquíssimas películas já que fui vítima do marasmo coletivo que assolou o Festival nesse ano. Na segunda-feira, último dia de exibição, foi um horror: cheguei atrasada e vi cadeiras sobrando. O que será que aconteceu com a edição de 2008?

Documentários em excesso? Poucos nomes de expressão? A dúvida cruel fica no ar.

Abaixo os longas, médias e curtas que passaram nas sessões de 20h30 e 23h30.

À margem do lixo (Evaldo Mocarzel) – Desde do começo do Festival já sabia que ia levar o Prêmio do Júri Popular. Levou também o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio Aquisição TV Brasil e o de melhor fotografia. Achei o filme bacana, mas tendencioso demais. As palmas no Cine Brasília para o discurso pró-Lula me irritaram. Assim como o papo de socialismo. Não sei. Tem certas coisas que não colam mais.

FilmeFobia (Kiko Goifman) – Melhor filme do Júri Oficial, melhor ator, melhor direção de arte e melhor montagem. Como no ano passado (com Cleópatra), o gosto do júri não encaixou com o do público. Desde o dia da exibição todo mundo criticou.

O milagre de Santa Luzia (Sergio Roizenblit) – Melhor trilha sonora e Prêmio Vagalume como melhor longa.

Siri-Ará (Rosemberg Cariry) - Melhor atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor ator coadjuvante. Não vi por causa das críticas excessivas.

Ñande Guarani (Nós Guarani) (André Luís da Cunha) – Melhor som e Troféu Conterrâneos. O documentário é bem didático. Mas só. Não achei nada de demais.

Tudo isto me parece um sonho (Geraldo Sarno) – Melhor direção e melhor roteiro. As duas primeiras cenas apareceram na tela e eu desisti de ver o filme.

A arquitetura do corpo (Marcos Pimentel) – Melhor montagem.

A minha maneira de estar sozinho (Gustavo Galvão) – O filme do ex-aluno da UnB era um dos mais esperados. Decepcionou todo mundo.

A mulher biônica (Armando Praça) -

Ana Beatriz (Clarissa Cardoso) – Melhor roteiro. Gostei do filme. É bem leve e sem indagações intelectuais. Me lembrou o Café com Leite do ano passado. Senti falta disso nesse ano: leveza nos curtas.

Brasília (Título Provisório) (J. Procópio) - Prêmio Júri Popular. Achei bobo. Fui assistir com certa ressalva porque antes de entrar na sala me disseram ser homofóbico e racista por causa de declarações da película. Tais declarações são sutis, mas me levaram a um outro questionamento: quantos preconceitos se tornaram banais? Chamar o amigo de viadinho pode ser engraçado, mas e quando há um homossexual presente? Ele certamente não acharia graça de algo que se tornou tão banal. Um olhar mais treinado viu facilmente os traços homofóbicos do filme.

Cães (Adler Paz e Moacyr Gramacho) – Melhor ator, melhor fotografia, melhor curta e Prêmio da Crítica. Não entendi lhufas, mas, sem dúvida, mereceu o prêmio de melhor fotografia.

Cidade Vazia (Cássio Pereira dos Santos) –

Minami em close-up – A boca em revista (Thiago Mendonça) - Melhor direção. Achei interessante por mostrar temas que quase ninguém sabe: os filmes da Boca do Lixo e a revista Cinema em Close-up.

Na Madrugada (Duda Gorter) – Melhor atriz melhor curta pelo Pêmio Vagalume. Lindo. O melhor curta do evento. Conta a história de amor de duas mulheres de meia idade. Ana Lúcia Torre mereceu demais ganhar o prêmio de melhor atriz.

Nº 27 (Marcelo Lordello) -

Que Cavação é Essa? (Estevão Garcia e Luís Rocha Melo) -

Superbarroco (Renata Pinheiro) – Melhor filme pelo Júri Oficial, Prêmio Aquisição Canal Brasil. Tão confuso quanto Cães. Talvez não esteja preparada para análises cinematográficas tão abstratas.

*esse texto também pode ser lido em http://www.estudiocapital.com.br

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mais um Dia da Consciência Negra. Ainda bem.

"Se hoje estou aqui, só devo a Dandara, só devo a Zumbi"

A data criada para questionar o dia 13 de maio (Abolição da escravatura) veio para pôr em prática o que é ser negro, como é ser negro e o pensar negro. E justamente nessa semana fui testemunha de mais uma prática do racismo.

Talvez se não existissem datas e ações como o da Consciência o fato passasse despercebido. Mas a luta do movimento negro não é vã. O racismo tem que ser admitido para que seja combatido.

Ouvi um ofender outro por causa da sua cor de pele. "Seu preto nojento" ou qualquer coisa do tipo. Meu sangue ferveu. A justificativa da pessoa que emitiu tal comentário não cola. Não adianta pedir desculpas nem dizer que não tem racismo. Tem sim, e o pior deles: o velado. E é por causa desse racismo não admitido que no Brasil não é possível combater essa praga. Exemplo clássico onde o racismo exarcebado gerou a mudança de consciência - em partes, claro : os EUA. Até a terra do Tio Sam, caldeirão efervescente de segregação racial, está a um passo a frente: elegeu Obama. E nós, continuamos aqui, atrelados à hipocrisia.

Eu chorei. De raiva, de revolta e de tristeza. Não compreenderam.
Choram em filmes, e porque eu, na vida real, ao ver absurdo como esse não posso chorar?

A vida real é muito mais passional que melosas tramas hollywoodianas.

Ano passado disse que dia esperava por dias melhores. Reitero minha afirmação. Sigamos lutando.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Black Power



"I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today!"




(Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças um dia poderão viver em uma nação onde eles não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo o conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!)
Martin Luther King Jr.





Muitos me disseram para não torcer para o Barack Obama porque não moro nos Estados Unidos e por tampouco ser norte-americana. Mas se há brasileiros que torcem pro Milan, Real Madrid, Manchester United (comparação esdrúxula) por que não posso torcer para a política norte-americana?

Pois bem, deixem-me torcer para quem eu quiser.

Torci para o Obama mesmo com algumas falhas, como a falta de uma política consistente para a América do Sul. Mas, apesar de tudo, eu queria ele no poder dos EUA.

Muitos reclamam do excesso midiático e do teatro sobre o fato de Obama ser negro. Acho ótimo. Após 43 presidentes e mais de 200 anos depois um afro-descente é o homem mais poderoso da nação mais poderosa do mundo.

Muitos me questionaram porque não apoiar Hillary Cliton, afinal, ela é mulher. Porque antes de ser mulher sou negra. É a minha cor de pele que me caracteriza, que move. “É a tua cor que eles olham”, já diria a música. Justo, é ela que se destaca, que grita, pedindo passagem.

Todo esse alvoroço não é vão. Porque...

Quando Jesse Owens calou a boca de Hitler...
Quando três ativistas negros foram assassinados no Mississipi por um membro do Klu Klux Klan...
Quando Rosa Parks se negou a ceder seu lugar no ônibus para uma mulher branca...
Quando Martin Luther King proclamou o clássico I had a dream...
Quando Obama ganhou as eleições deste ano...

Representaram, de alguma maneira, que algo pode ser mudado.

Quando os discursos raciais não se fizerem mais necessários, talvez seja o sinal que alcançamos o sonho de Luther King. Um sonho traçado de pouco em pouco, com pitadas de rebeldia, equilíbrio e luta.


**arte: Cláudio Fonseca

domingo, 26 de outubro de 2008

Abandono

Esse blog, coitado, anda tão abandonado.
Mas é o tempo, sabe? Sempre culpa dele.

Trabalho em excesso, tribulações cotidianas e todas essas coisas. Fim de semestre é sempre assim, e parece que esse anda impossível.

O mundo anda meio abandonado também. É a morte desastrosa de uma menina de 15 de anos, é a mídia caótica, é a polícia do meu país em pé de guerra, é a oscilação da bolsa, é a fome, são as queimadas, as monções, a corrupção...

Não sei se é coletivo ou local, mas sei que uma nuvem de desânimo pousou na minha cidade e os jovens que deveriam borbulhar energia estão mais parados que os ventos daqui.

É o calor, são as histéricas cigarras, é a lei seca.

Uma cidade que não tem mar precisa de bar. Nem as cervejas estão dando conta do marasmo coletivo.

Fico aqui, na espera que o Sol, a Lua ou algum planeta mude de posição, trazendo boas novas para gente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Breve comentário 2

Deu na France Press que o escritor Paulo Coelho é um dos convidados da 60ª edição da Feira do Livro de Frankfurt. Até aí tudo bem, mal gosto para convidado não se discute. Mas porque ele estará lá? Porque ele vai comemorar os 100 milhões de exemplares de livros vendidos no mundo!

E isso não é o pior.

Paulo Coelho também irá receber um Livro Guinness dos Recordes Mundiais Especial por seu romance O Alquimista, como o mais traduzido no mundo (67 idiomas – por Dios!).

O mundo tá perdido e ainda não se deu conta disso.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cem anos de Cartola


“Os tempos idos
Nunca esquecidos
Trazem saudades ao recordar
É com tristeza que eu relembro
Coisas remotas que não vêm mais”

Tempos Idos – Cartola e Carlos Cachaça



Desde o começo do ano eu pensei em preparar um texto bem especial para o dia 11 de outubro, ontem. Mas o destino não quis. Falta de tempo, organização, cansaço e preguiça. Vários fatores me fizeram não fazer uma pesquisa aprofundada sobre Cartola.

Eu até comecei a ler uns livros sobre música, que contava a história desse músico genial, criador da minha querida escola Estação Primeira de Mangueira. O nome veio de uma estação, óbvio, que tinha uma mangueira na frente. Mais simples impossível.

Querida escola, mas digo, um tanto quanto ingrata. Nem todos ali concordaram, eu bem sei, mas me revolto. Ao invés de escolher seu criador como tema de samba enredo deste ano, o frevo ganhou espaço na quadra. Por isso faço questão de engrossar o coro daqueles que lembraram de Cartola em seu centenário. Já que a escola não o fez.

Falar da vida de Angenor de Oliveira é difícil pra mim. Perdão, escrever sobre ele que é difícil. Falar é fácil. É só sentar uma boa mesa de bar, que a história por si só toma conta das palavras e verbaliza sobre o nascimento complicado, o amor por Zica, o encontro com Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) ou sobre o restaurante mais badalado na rua da Carioca, o Zicartola.

Filmes, livros e discografias são capazes de contar um pouquinho da vida dele também. Cartola nasceu no dia em que Machado de Assis morreu. O mundo tirou um poeta para deixar outro, mais simples, pontual e contemporâneo. Em 30 de novembro de 1891, o mundo nos tirou mais um talento; e deixou um vão enorme.

Bibliografia:
Inúmeras

Filmografia:
Cartola – Música para os olhos (Lírio Ferreira e Hilton Lacerda)

Discografia (extraída de http://www.cartola.org.br/discografia.html) :

Fala, mangueira
Nova história da MPB – Cartola
Cartola – Por seus autores e intérpretes
Cartola (1974)
Cartola (1976)
Cartola – Verde que te quero rosa
Cartola – Ao vivo
Cartola – 70 anos
Adeus mestre cartola
Cartola – Documento inédito
Cartola – História da mpb
Cartola – Entre amigos
Cartola - 80 anos
Cartola – Bate outra vez
Cartola 70 – Edição comemorativa do lp –“Fala, mangueira”
10 anos sem cartola - Disco 1 e 2
Arranco – Sambas de cartola
Cartola – O sol nascerá
Cartola – Série aplauso
Cartola – MPB compositores

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Senhor das situações

Parece que não foi só que eu senti saudade do passado. De umas semanas pra cá, ele voltou com muita intensidade, e como era de se esperar, eu o recordei. Guardei os melhores momentos na lembrança e os folheei como quem revê um álbum de fotos antigas. Em menos de um ano, tudo virou de cabeça pra baixo e revelou mudanças anunciadas há tempos.

Eu ouvi um antigo companheiro dizer “Ah! Que saudade”, quando comentei sobre um almoço de outro dia. Era como se tivéssemos entrado em uma máquina do tempo e voltado para a nossa adolescência, o Ensino Médio, cheio de provas... Poderia ser como eram naquelas semanas que estudávamos o mundo, e para esquecê-lo, uma salvadora cerveja era paga com uns trocados da mesada.

Ao longo da conversa nomes que pareciam tabus iam aparecendo e trazendo o gosto da saudade, de tempos que jurávamos ser para sempre. Nada nos destruiria, nada. Até que o tempo se mostrou transformador e destruidor. Sua ação foi sutil, como a maresia que enferruja os portões de uma casa a beira-mar.

Não falo mais com fulano que brigou com o sicrano que mudou de cidade tem uns dois anos. A Mariazinha, vizinha do Pedrinho, viu o João, que foi grande amigo de Joaquim. É mais ou menos assim que a nossa história pode ser contada. Gente que ficou para trás num emaranhado de lembranças.

Explicava ao antigo companheiro: “Demos tempo ao tempo”, e ele relutante não compreendia a magia da espera.

E foi justamente por querer abraçar o mundo com as pernas que nos perdemos e nos tornamos agridoces histórias a serem contadas em encontros marcados pelo destino – o misterioso senhor das situações.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cegueira cor-de-rosa

Essa semana assisti Ensaio Sobre a Cegueira. O melhor filme dos últimos tempos, mesmo com críticas estapafúrdias, como a de um crítico britânico que chamou a obra de Meireles de “deprimente”. Saca nada esse cara.

Fernando Meireles se superou. Para quem não sabe, ele é o mesmo diretor de Cidade de Deus - pra mim, melhor filme da retomada cinematográfica brasileira.

Ensaio Sobre a Cegueira é baseado no livro homônimo de José Saramago (jornalista e poeta português, vencedor do Prêmio Nobel), que conta a história de uma cidade que é tomada por uma cegueira branca e os “contaminados” são deixados em um lugar à parte, jogados à própria sorte.

A partir daí os instintos humanos se sobressaem. O melhor e o pior. Solidariedade e crueldade. Respeito e violação. Para quem não viu corra ao cinema mais próximo. A única certeza é a inquietação após a película.

E Brasília também está sendo tomada por uma cegueira, só que cor-de-rosa. Nessa semana, o jornal Correio Braziliense escancarou o que a gente tá cansado de ver pelas madrugadas, por ali, nas redondezas do Hotel Nacional.

Meninas fazem sexo oral por R$ 3 e meninos são espancados, além de violados sexualmente. Todo mundo sabe que isso existe, mas parece que ler os detalhes dói mais. Ouvir deve ser pior ainda.

Mas essa cegueira não é exclusiva da capital federal. É uma epidemia espalhada pelo país todo.

Quando eu tinha uns 13, 14 anos, estava em alguma praia do nordeste. Conheci uma menina que devia ter a minha idade e conversamos bastante entre uma onda e outra. Ela era de lá e visualmente dava pra perceber que suas condições financeiras não eram das melhores.

Passado um tempo um homem branco, feio e barrigudo se aproximou. Com uma cara maliciosa ele começou a conversar com a menina que dava trela pro papo furado dele. Ela sumiu em questões de minutos. Ele também.

Depois das matérias do Correio um monte de político disse que vai fazer isso, o governo aquilo, mas eu quero só ver até quando vão durar essas mudanças. Já já a cegueira cor-de-rosa volta e tudo fica por isso mesmo.

E quando ela voltar o que faremos? Assim como no filme precisamos de alguém que nos guie. E sem dúvida, os únicos imunes a cegueira serão esses meninos e meninas que sofrem na pele a dor do descaso.

domingo, 14 de setembro de 2008

A readaptação

Como é (e está sendo) cruel voltar ao marasmo da vida cotidiana. Depois de tanta coisa e de tanta história, é difícil olhar com meus novos olhos para o que continuou estático.

Eu amo muito minha cidade e tenho a leve sensação que sempre precisarei partir para poder voltar. Mas sempre, sempre mesmo, fico com uma angústia aqui no peito, quando piso no solo vermelho.

Outro dia tava num desses eventos de graça aqui em Brasília, quando uma ciranda foi formada. Cara, que saco. Detesto esse papo de ciranda. Sabe porque? Porque é uma grande roda de hipocrisia. Todo mundo lá dando as mãos e dizendo “ó somos irmãos, somos iguais”. Peraí! Só até um certo ponto. Até ali, com seus semelhantes de ideologias e de economia.

Porque quando o morador de rua, cheirando a cola, chega perto, a ciranda se fecha e ele se torna invisível? Porque fechamos o vidro do carro a cada vez que paramos em um semáforo? Porque a gente vive tantas contradições?

Esses e outros porquês me afligem, me questionam e me fazem querer partir mais uma vez.

Me sinto um peixe fora d’água.

domingo, 7 de setembro de 2008

Parte 8 - Enfim, lá.



Machu Picchu
A superioridade inca


Enfim, o destino esperado. Após duas semanas viajando chegamos lá. Levantei três e meia da manhã e peguei um ônibus que sobre até Machu em 25 minutos. Esse percurso pode ser feito a pé e leva 1h30, mas como boa sedentária...

Ao sair do ônibus, “Cadê Machu Picchu?”. Calma...tem a fila (que é pequena nesse horário de 5h30), tem uma escadinha, tem um monte de coisa. E naquela bagunça de cadê a atração, pum! Surge a nova maravilha do mundo.

O primeiro momento não tem nada de comum, é como qualquer outro ponto turístico, com muita gente e com guias explicando as coisas e talz... Mas o tempo para meditação é imprescindível para quem quer sentir algo a mais lá. Foi o que eu fiz, mentalizei muito e senti muita coisa. Tem uma frase que achei num site que diz tudo: “Em Machu Picchu você não encontra o que você pensa que foi buscar, você encontra o que você precisa”. Pronto. Simples desse jeito.

A volta
Marcas inesquecíveis


A volta foi um batidão. No domingo, dia 27, saímos de Cuzco rumo à La Paz. O time estava reduzido já que umas cinco pessoas iam voltar de avião. Luxo ganho junto com infecções gastro-intestinais. Durante a viagem várias pessoas passaram mal com altitude, comida, água...Quem não teve se sentiu como ganhasse na mega-sena.

Atravessando a fronteira com a Bolívia, ali, quase em Copacabana, o grupo se dividiu. Muitos desistiram de encarar o ônibus e Trem da Morte e foram de avião até Puerto Quijarro. Pra quem ficou, restou muitas horas de viagem.

Em La Paz só tive 1 hora pro almoço, mas pensei “com táxi fica tudo bem”, certo? Errado. Na avenida principal, para ser mais exata, na frente da Igreja São Francisco, havia uma manifestação. Não sei de quem, mas era contra o Evo Morales (pra variar). Assim, quatro meninas descem correndo, rumo à Eli’s (restaurante melhor que o Dumbo’s) mais perto. Dois pedaços de pizza com coca-cola depois, volto a tempo para o terminal e para mais um caminho.

Sempre dá pra piorar. O bloqueio de La Paz tinha me injuriado um bocado, mas claro, tinha mais pela frente. Ainda faltavam 5 horas pra chegar em Cochabamba quando o ônibus pára. Um bloqueio de mineradores protestando contra o Evo (sempre) nos fez ficar parados por duas horas e meia em uma estrada escura, em um ônibus frio e sem banheiro.

Agora é Santa Cruz. São sete e meia da manhã quando chegamos lá, só que a previsão era para chegar às oito. Aêee! Pela primeira em toda viagem chegamos adiantados. Santa Cruz é muito quente e quase não chove nessa época do ano. Caía um toró na hora do desembarque. Coisas da viagem.

Chuva, frio e fome na Estação Ferroviária de Santa Cruz. Com pouquíssimos bolivianos (o dinheiro de lá) no bolso, fiquei ilhada na Estação... Pra passar o tempo, fiquei dormindo em chão frio (snif :~~) e tive que almoçar por ali mesmo, pra economizar a fortuna que eu tinha.

Quatro e meia da tarde: mais um Trem da Morte, só que dessa vez, durmi que nem um bebê.

Depois de uma ótima noite sono, chego em Puerto Quijarro, tomo um banho (coisa rara no fim da viagem) e pego o ônibus rumo ao Brasil. Nas malas, roupas bolivianas, artesanatos e fotos; no coração, uma saudade antecipada dos melhores momentos da minha vida.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Parte 7 - O Peru!





Cuzco
A Capital do Império Inca


O “umbigo do mundo”, segundo os Incas, é um dos locais mais belos da viagem. Uma cidade cheia de Sol - com turistas de todos os cantos do mundo - colorem Cuzco.

No centro, encontramos la Plaza de Armas, ponto de encontro de gente de todo planeta que provavelmente vai para Machu Picchu. Cuzco tem diversos pontos turísticos bacanas, mas sem dúvida, o que marca a cidade é sua agitada vida noturna.

Ao chegar na Plaza de Armas acontece o impossível: as pessoas oferecem drinks de graça caso visite a casa noturna delas. E assim começa a peregrinação de boate em boate. Normalmente, os drinks oferecidos são os clássicos Cuba Libre e Vodka com Sprite. O melhor lugar, na minha opinião foi o Mama África (mesmo com as músicas repetitivas). Há outros muito bons espalhados pela praça, tem gosto que agrada rock, reggae, pop é só escolher!

Em Cuzco, o pessoal começa a se preparar para a trilha. Mantimentos como biscoito, chocolate e água são fundamentais. Quem encara a caminhada de 4 dias só curte a capital Inca um pouquinho, mas eu, que fiquei lá mais tempo, tava quase me sentindo da terra. Andei pelas ruas sozinha e conheci uns lugares bem legais. Cuzco tem essa vantagem: por ser umbigo do mundo, acolhe todos, com muito carinho.

“A trilha”
Simbólica

Minha trilha foi simbólica.E como havia dito antes, escolhi a de dois dias já sabendo da minha disposição física, daí saímos de Cuzco rumo aos Muros de Moray (ao lado). Terrenos agrícolas circulares impressionam pela forma e tamanho.

A caminhada começa e só são três horinhas e meia debaixo do sol quente. Enquanto isso, o pessoal da outra trilha tá no seu terceiro dia de trilha, com direito a muito frio e bolhas nos pés.

Mas bem, nós, passamos pelas Salinas de Maras, um lugar belíssimo, em que mais de 400 salinas estão em atividade. O sal brota da terra. Coisa que só dava pra ver no Peru.

Lá de cima das Salinas já dava pra ver o Vale Sagrado dos Incas. Sagrado, pois era muito fértil, graças ao rio Urubamba (que pode ser visto lá de Machu Picchu também).

Depois de um almoço delicioso (coisa rara) vamos para Ollantaytambo, um pequeno vilarejo em que as ruínas são destaque e de lá pegamos um trem, rumo à Águas Calientes, cidadezinha que está nos pés da montanha. É lá que os turistas, rumo à cidade perdida, dormem e se alojam. Águas Calientes é minúscula e até charmosinha; suas ruelas e albergues com ar de interior deixam a gente em casa...






próximo capítulo: enfim, Machu Picchu.
*imagens: maíra brito

domingo, 31 de agosto de 2008

Parte 6 - O lugar mais lindo do mundo


Copacabana
Um presente de Deus


A chegada em Copacabana foi a melhor sensação da viagem. Uma cidade pequena, iluminada de Sol e com o lago mais azul do mundo. Um sentimento de paz vai enchendo a alma e todos os perrengues que até então tinham surgido desapareceram. Copacabana é pura tranqüilidade.

E é de lá que saem os passeios para a Isla del Sol e para a Isla de la Luna, as principais ilhas das 41 existentes no Lago Titicaca.

Conheci a Ilha do Sol e sem dúvida é um lugar mágico. Logo na chegada, entramos em um templo em que desejos são feitos ao soprar uma folha de coca. Caminhadas, Sol quente e vento frio até chegar no fim do passeio, lá na base da ilha, com uma fonte em que a água dizem rejuvenescer. Ao lavar o rosto três vezes com aquela água pensamentos ruins vão embora deixando espaço para as energias positivas. A ilha sagrada dos Incas é assim, do começo ao fim magia e bons fluidos por todo lugar que se passa.

Em Copacabana, há o Morro do Calvário. Ele está há mais de quatro mil metros acima do mar e de lá é possível ver toda a cidade. Eu subi o tal do morro, mas não sei onde estava com a idéia quando fiz isso.

Tenho muito medo de altura, mas mesmo assim resolvi encarar a subida, que estava tranqüila até sentir que era alta demais. Por três vezes pensei em parar, na última, quase no topo eu pensei “desisto”. Tremendo, sentei em uma rocha e fiquei lá, decidida a não subir mais. Foi quando surgiu alguém com o nome mais apropriado impossível: Rafael. Esse companheiro de viagem com nome de anjo, foi quem me ajudou a chegar até o topo e deixar de lado muito medo.

O Rafa com palavras de apoio começou a me incentivar dizendo que eu ia conseguir subir tudo, que ia superar meu medo e que seria uma vitória minha. “Olha Mamá, olha o presente que Deus fez pra gente, vamos contemplar”, disse ele. E assim caí no choro, emocionada com tantas palavras bonitas, emolduradas pelo Sol indo embora. Subi o pouco que faltava e admirei como ninguém aquele pôr-do-sol com o Titikaka como protagonista. A visão mais linda e mais forte de toda viagem.

O Lago Titikaka - maravilla del mundo, como diriam os nativos de lá - com seus 8.500 km² é o lago navegável mais alto do mundo. E o mais bonito também.



próximo capítulo: A capital inca e a trilha simbólica
*imagem: maíra brito

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Parte 5 - La Paz


Cochabamba à La Paz
Os efeitos da altitude


Mais de seis horas de ônibus e chegamos na capital boliviana. La Paz está a 3.660 metros de altitude e é muito seca e fria no inverno. Mas antes da chegada, mais emoção.

A mata que marcou o caminho para Cochabamba vai sumindo e se torna montanhas secas, com muita poeira e pedra. Antes de sair daqui, sabia que a altitude poderia causar alguns sintomas, mas não esperava sentir todos. Taquicardia, tontura e nariz sangrando. Chegar no hotel foi um alívio.

La Paz
Prédios, outdoors e buzinas


Nuestra Señora de La Paz é o verdadeiro nome da capital da Bolívia. Cidade que lembra uma São Paulo mais caótica. Tudo lá é muito intenso. Há muitos prédios altos – coisa que não havia visto desde então; muitos outdoors - colorindo e enfeiando a cidade e buzina, pra tudo.

La Paz é uma cidade como qualquer outra capital e por isso é mais agitada. A noite foi uma das melhores da viagem (claro, perdeu pra Cuzco) e o tempo todo tem gente na rua. Gente, carro, mais carro e mais gente. Basicamente isso.

Pertinho da capital está Tiwanaku, um sítio arqueológico considerado patrimônio da humanidade e de extrema importância para a história da América Latina. Na verdade, do mundo todo. Nesse sítio viveu uma civilização de mesmo nome, anterior aos Incas e muito sábios. Os Tiwanaku tinham avançadas técnicas de astronomia, o que torna o passeio mais cheio de informações e mistérios. Imprescindível no roteiro Bolívia-Peru.





próximo capítulo: Copacabana. E não é a princesinha do mar. he he he
*imagens: maíra brito

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Parte 4 - Cochabamba


Santa Cruz à Cochabamba
Uma miséria compartilhada


Se eu estava achando o Trem da Morte ruim era porque eu não tinha visto nada ainda. Nesse caminho que deveria ter sido o tranqüilo, afinal é só uma estrada, foi o mais tenso de todos. Pegamos um ônibus que apelidamos de “O Ônibus da morte”, porque ele era muito³ pior que o Trem da Morte.

A começar pela própria estrutura: o tal do ônibus não tinha banheiro. Agora me explica, como eu faço esse trajeto – de mais de 12 horas – sem banheiro? Ah, isso porque ainda tinha a parada pro “almoço”. Simbólico, como qualquer outra coisa na Bolívia.

Pense num lugar sujo, agora pense num lugar que cheira a urina, agora pega isso e misture com um lugar em que as pessoas botam a comida no prato com a mão. Justamente. Era assim lá. Foi a experiência mais louca minha vida, pois ao mesmo tempo que era desesperador ver tanta miséria espalhada, era aliviador pensar na minha situação.

Todos os dias aqui no Brasil eu via a pobreza, mas lá na Bolívia era diferente: eu compartilhava da pobreza. Eu tava ali, como qualquer outro, só uma opção de almoço, mas ainda sim eu estava em vantagem: tinha o luxo de ter cream creaker e pode pagar por uma coca-cola. Loucura. Experiências.

Cochabamba
A cidade de nome engraçado

Cochabamba tem um nome engraçado e é a terceira maior cidade boliviana. Tem um Cristo (de la Concórdia) quatro metros mais alto que o nosso, e que foi construído pela Petrobrás. Lá de cima (da base do Cristo mesmo) é possível ver a cidade, bem pequeninha.

A cidade também tem uma feira super-bacana com vários produtos artesanais, onde a gente fez a festa. Ponchos, casacos típicos, mantas e touquinhas fizeram parte dos nossos achados.

Agora um Momento História – Foi em Cochabamba em que nasceu o famoso Simon I. Patiño. É, talvez você nunca tenha escutado esse nome, mas sem dúvida já ouviu falar no Tio Patinhas. Pois é, foi esse boliviano, magnata do estanho, que inspirou Walt Disney para criar seu milionário personagem. Patiño veio de uma família humilde, mas depois de encontrar estanho em terras que possuía, se tornou um dos homens mais ricos do mundo. Riqueza que pode ser vista em sua casa, que hoje é a Fundação Simon I. Patiño. As fotos dentro da casa são proibidas, por isso vale a pena “perder” um tempinho e conhecer esse pedaço da história.



próximo capítulo: o árido percurso entre Cochabamba e La Paz
*imagem 1: sheyla. imagem 2: maíra brito

domingo, 24 de agosto de 2008

Desabafo

Vou fazer uma pausa nos relatos da viagem pra falar um pouco das Olimpíadas.

Confesso que me emocionei muito ao ver a final feminina de vôlei. Quando a bola foi fora da quadra e as americanas incrédulas fizeram cara de “perdi”, nem eu acreditei.

A medalha de ouro que as meninas, comandadas por Zé Roberto, ganharam era um entalo na garganta. Era não só aquela derrota em Atenas; era o ouro que o futebol perdeu; que a ginástica não ganhou e que arrancaram bruscamente de Fabiana Murer.

Muitas vezes ouvimos: “AH! Mas chegar nas Olimpíadas já é uma vitória”. Mas pow! Não, não é uma vitória.

Eu sei que é uma ralação só, que o Brasil não dá apoio nem estrutura, mas vitória é mesmo sem patrocinador chegar em Pequim, passar por atletas muito mais bem preparados e mesmo com toda pressão e subdesenvolvimento, ganhar o ouro.

Por sorte e por talento só César Cielo, Maurren Maggi e o time feminino de vôlei subiram mais alto no pódio. Só eles souberam o que é a vitória plena. O Brasil, que ganhou a ilusória alcunha de “país do esporte”, precisa aprender uma lição com seu desempenho em Pequim: só vence o melhor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte 3 - Santa Cruz



Santa Cruz de la Sierra
Começo do contato com a Bolívia


Em quesito calor Santa Cruz empata com Quijarro, mas tem um ponto positivo crucial: não tem tanta poeira e é mais limpo. A cidade de Santa Cruz é a capital do distrito homônimo mais rico da Bolívia. E por isso, a partir de agora é interessante observar as questões políticas bolivianas. Santa Cruz é a favor da autonomia (administrativa e financeira) em relação à La Paz, e contra o presidente Evo Morales. Viajando pelo país é bem clara a posição dos distritos de acordo com a sua situação econômica. Os mais pobres apóiam Evo e são contra a autonomia e os mais ricos seguem a posição de Santa Cruz.

E é lá também onde se intensifica o contato com a comida boliviana. Fomos apresentados ao Dumbo’s, uma das redes de comida mais seguras por ali, mas nossa como era ruim. Assim, não horrível, mas uma coisa que os bolivianos não sabem: fazer comida com pouco óleo. Pedi um bife que boiava, (argh!). E claro que isso irá resultar em um intestino solto no futuro; foi só uma questão de espera.

Proximidade com a comida e com as pessoas do local. Vamos conhecendo os bolivianos e percebendo a discrepância entre eles. Uns muito simpáticos, outros rios de grosseria, mas no time da simpatia, encontrei uma menininha linda, chamada Carolina. Ela deve ter uns 5 anos de idade e é uma fofa (assim como qualquer criança boliviana), porém, ela tem algo a mais: não tem medo dos estrangeiros e conversou coma gente numa boa.

A bolivianinha estava aprendendo a escrever e a contar e foi revelando no papel as letras que compunham os nomes das brasileiras bobocas, que estavam perdidamente apaixonada ela. Carolina ganhou meu coração de vez quando disse “Tus cabellos son lindos. Me gustaría ser negrita como tu”. Putz haja coração, quase coloquei ela debaixo do braço e levei pra casa.


Assim foi nossa passagem ligeira por Santa Cruz, que sem dúvida, foi marcante.



próximo capítulo: o perigoso caminho ente Santa Cruz e Cochabamba
*imagem: maíra brito

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Parte 2 - Quijarro e o Trem da Morte

1ª Parada – Puerto Quijarro
Calor, poeira e Zona Franca


Puerto Quijarro foi fundada por Antonio Quijarro e se conecta o resto do país com estradas e ferrovias. A mais conhecida é a que possui o famoso Trem da Morte. Quijarro é quente à beça e só tem, além do calor, poeira e uma Zona Franca marotíssima.

Lá é possível comprar José Cuervo por U$ 8, Red Label por U$ 17 e Black Label por U$ 27. Mas nem só de álcool vive a Zona Franca; produtos de beleza, como Victoria’s Secret saem por preços simbólicos e perfumes são uma verdadeira pechincha, como o Calvin Klein One por U$ 44.

Depois de comprar, chega a hora do descanso. Uma festinha com karaokê boliviano e Absolut anima o pessoal da viagem. O resultado? Muitas risadas e uma ressaca colossal no dia seguinte; dia de sair para pegar o tão famoso Trem da Morte.

O Trem da Morte
Desespero à 20 km/h


Quando me falavam sobre o Trem da Morte eu queria saber o porquê do nome. Será que era tão zela assim?

Há várias teorias em torno da nomenclatura. Uns dizem que é por causa dos assaltos que existiam há uns 30, 20 anos trás; outros especulam que é pelos passageiros que viajavam “surfando” em cima do trem e alguns ainda comentam sobre uma epidemia de febre amarela que assolou a Bolívia há algumas décadas e o trem teria se tornado transporte para corpos. Mas sem dúvida a melhor resposta que ouvi foi de uma senhora muito simpática que conheci na fila pro Trem. Quando perguntei sobre o nome ela me respondeu bem humorada: “É porque a morte demora a chegar, que nem o trem”. Hahaha! Que bem humorada, não? Não, era a pura verdade.

Esse trem, com o percurso de Puerto Quijarro até Santa Cruz, vai no máximo à 25 km/h, e na melhor das hipóteses! Escolhi o Super Pullman por ser um dos menos piores, mas tem uma galera que gosta de aventura e se arrisca em uns mais populares, porém, eu não recomendo. Além de ser extremamente desconfortável (você pode ir com uma galinha no seu ombro ou com uma criança desconhecida no colo), é perigoso. Não fui nele, mas quem foi adverte: é uma experiência boa, mas se for feita, vá de galera.

O Super Pullaman até que é limpo e tem ar-condicionado, que vira um gelo depois de algumas horas de viagem; eternas diga-se de passagem. Saímos por volta de 16h, 16h30, de Quijarro para chegar em Santa Cruz umas 10h da manhã do dia seguinte. Dores nas costas, noite mal dormida e corpo sem banho. Era só o começo da aventura.





próximo capítulo: Santa Cruz de la Sierra
*imagem: de uns dos membros da excursão (esqueci de quem eu peguei)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aventuras na Bolívia e no Peru - Parte 1


A partir de hoje começo a contar como foi a viagem mais louca da minha vida. Desde a idéia, até a volta, vários causos vão passar para aqui só para dar uma pequena noção das maravilhas e dos desesperos vividos por 22 dias.


A idéia

Sinceramente eu não sei de onde eu tirei a brilhante idéia de ir para Machu Picchu de ônibus. No começo, quando eu dizia isso pros meus amigos, eles assustados me perguntavam “Sério? Você é louca!”. E eu toda orgulhosa dizia que sim.

E foi mais ou menos em Santa Cruz ou Cochabamba, não sei, quando me dei conta da loucura que estava fazendo. Ninguém normal vai de Brasília até Cuzco de ônibus, e justo, era aquilo que eu e mais uns 40 estávamos fazendo. Às vezes, quando as costas estavam moídas ou olhos fundos pelo pouco sono, batia um arrependimento, mas logo depois toda dor e cansaço sumiam, assim como o remorso.

A preparação

Depois de Santa Cruz o frio aperta e eu precisava de roupas, muitas roupas de frio, melhor dizendo, e assim eu me desesperei. Apesar de fazer um friozinho bem xarope aqui, eu não tinha NENHUMA blusa de manga ou casaco grosso, nem calças confortáveis para andar muito no clima andino.

Dessa maneira, comprei uma calça bailarina, uma de tactel (que eu nunca mais vou usar), e duas blusas de manga comprida, além de um casaquinho. Como eu já sabia que isso não seria o suficiente, peguei emprestado mais duas blusas, um casaco e um corta-vento. Quem quiser fazer uma viagem dessa, vá preparado: a média em La Paz e em Cuzco é de 7°C, além do vento que coloca a sensação térmica lá em baixo.

Escolhi a trilha de 2 dias já sabendo que eu sou mole e sedentária, mas para não chegar muito mal lá, eu prometi que assim que eu entrasse de férias, caminharia todo dia. Ledo engano. Como toda promessa que eu faço, descumpro, caminhei pouquíssimos dias e cheguei lá do mesmo jeito que saí daqui. Mas dou a dica: faça um exercício, vai fazer falta.

11 de julho – A saída

A hora prevista para saída era 9 da manhã. Com um friozinho na barriga saímos com uns 40 minutos de atraso, cheios de idéias e desejos. Esse começo foi bem bacana porque foi o momento em que o pessoal se conheceu. Tinha gente de Brasília (a maioria), gente de Goiânia, até do Piauí, que tava encarando aquela aventura só pra conhecer a cidade perdida dos Incas.

Até chegar na Bolívia, passamos por São Paulo, Mato Grosso do Sul, fronteira e carimbo dos passaportes, até o hotel, em Puerto Quijarro, bem ali, colado com Corumbá.




próximo capítulo: Quijarro e o Trem da Morte
*imagem: Google

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Breve comentário

Sim, esse blog ainda existe.
Mais de um mês sem atualizar volto só pra comentar o que vi no Fantástico esse domingo.
Lá deu que o "escritor" Paulo Coelho estava perto de alcançar o número de dez mil exemplares vendidos em todo o mundo.

Quanto desperdício de papel...

ps: depois, no dia em que meu computador voltar a funcionar, eu escrevo minhas aventuras dessas férias.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

“Só um tapinha”

Pouco mais de oito meses depois, Elza Soares volta à Brasília, ao Teatro Nacional e traz novamente inquietações.

No post de 18/10/2007 (A carne mais barata do mercado é a MINHA carne negra) critiquei o discurso anti-cotas declarado no Teatro na época. Hoje critico o público, como um todo.

Quando Elza, vinda do Planeta Fome - como ela mesma declarou certa vez a Ary Barroso, falou sobre as cotas, a necessidade de educação e sobre a falta de respeito aos professores foi aplaudida timidamente. E no momento em que a cantora pediu respeito às mulheres e falou da quantidade de meninas violentadas todos os dias, um certo eco permaneceu incômodo.

A burguesia presente, que dessa vez se conteu ao cantar Rap da Felicidade, não entendeu, fingiu que não entendeu ou não está nem aí mesmo pra qualquer reivindicação que não seja a sua. A incompreensão da platéia é o resultado mais claro do descaso e do egoísmo da sociedade brasileira. Costumam nos chamar de anfitriões e generosos, mas somos melhores ajudando o outro, que está bem distante, de preferência: vítimas de um tsunami, terremoto ou algo assim; mas em ninguém que esteja na cidade, no bairro ou na ponte ao lado.

Ao gritar “A carne mais barata do mercado é a MINHA carne negra” ou “É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado”, ela chama atenção ao latente problema do racismo no Brasil. Durante todo o show ela chamou atenção a várias coisas, cutucando o marasmo, o descaso e a ignorância, afinal, um tapinha não dói.

domingo, 29 de junho de 2008

Uma vitória verde, amarela e negra.

Hoje se comemora os 50 anos do primeiro título mundial do país do futebol. Após a triste derrota de 1950 em pleno Maracanã e a inexpressiva participação na Copa da Suíça (a Seleção empacou nas quartas-de-final), em 1954, o time comandado por Vicente Feola foi para Suécia fazer o que não tinha feito nas duas copas anteriores: trazer a taça.

Mas o episódio mais marcante da Copa está nos bastidores. Surgiu um relatório recomendando a escalação do maior número possível de jogadores brancos, o que ocorreu nas duas primeiras partidas. Contra a Áustria, Didi foi o único negro a jogar. Após o empate com a Inglaterra o quadro mudou e Pelé e Garrincha foram escalados.

Racismo no futebol, contudo, não era daquela época. Em 1920, evitou-se ao máximo a presença de negros no campo do Fluminense, em um jogo assistido pelo rei Alberto da Bélgica. E na década de 30, o jogador Leônidas acabou sendo afastado do jogo por seus companheiros não treinarem com ele.

Em um campeonato marcado pelo racismo declarado, os maiores destaques são os jogadores negros. Comento dois: Pelé, um mineiro de 17 anos, intitulado Rei; e Valdir Pereira, mais conhecido como Didi ou como o Príncipe Etíope, alcunha dada pelo gênio da literatura Nelson Rodrigues.

Mas antes de Bellini imortalizar o gesto de levantar a taça com as duas mãos sobre a cabeça e do Brasil vencer os donos da casa com gols de Vavá (2), Pelé (2) e Zagallo (1), é bom lembrar de Didi. Foi o Meia, que começou a carreira em 1943, lá em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, quem classificou a Seleção Brasileira com a história “folha seca”. Um negro.

Os campeões mundiais

1 Castilho 2 Bellini 3 Gilmar 4 Djalma Santos 5 Dino 6 Didi 7 Zagallo 8 Oreco 9 Zózimo 10 Pelé 11 Garrincha 12 Nilton Santos 13 Moacyr 14 De Sordi 15 Orlando 16 Mauro 17 Joel 18 Mazzolla 19 Zito 20 Vavá 21 Dida 22 Pepe

Técnico: Vicente Feola



Jogos do Brasil na Copa de 1958:

1ª Fase:
08/06 - Udevalla – Brasil 3x0 Áustria
11/06 - Gotemburgo – Brasil 0x0 Inglaterra
15/06 - Gotemburgo – Brasil 2x0 União Soviética

Quartas-de-final: 19/06 Gotemburgo – Brasil 1x0 Gales
Semifinal: 24/06 - Estocolmo - Brasil 5x2 França
Final: 29/06 - Estocolmo - Brasil 5x2 Suécia




*imagem: Google

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Suporte

Ela me acorda com aquele beijo cotidiano, cheirando a café. Odeio café, mas por ela, suporto o amargor misturado com o enjoativo.

Ela liga o som e coloca Chico Buarque. Não sei o que mais me desespera: a voz dele ou a repetição da Rita. É.. ela levou tudo do cara; devia ter levado o som também, assim, não me torturaria tanto. Odeio o Chico, mas por ela, ouviria a mais desafinada melodia.

Ela sempre compra comida natural. Insossa.
Sempre caminha no parque aos domingos. Desgastante.
Sempre lê Milan Kundera. Leve demais.
Sempre deixa os sapatos na porta. Demasiado ritualístico.

Odeio tudo isso, mas por ela, suportaria qualquer coisa.

sábado, 14 de junho de 2008

Verde e Rosa de luto

Hoje a Estação Primeira acordou de luto. A Mangueira e o Brasil perderam uma das vozes mais marcantes que existia. Jamelão, conhecido por não gostar de ser chamado de “puxador”, faleceu hoje, no Rio, de infecção generalizada.

Lendo algumas notícias, percebo o carinho que tinham por ele e fico feliz. Apesar da tristeza da partida, o céu está verde e rosa e em festa, como diria uma mangueirense por aí. Zeca Pagodinho disse que enterro de sambista não pode ter chororô, tem que ter alegria. Que seja feito assim então. Vou escutar nas alturas um LP Lupicínio, cantado pelo Jamelão, seu melhor intérprete.

Pranto de Poeta - Cartola

Em Mangueira, quando morre um poeta, todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque, sei que alguém há de chorar quando eu morrer
Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço que alegra a gente
Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro ou de um tamborim

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Parabéns, meu bem

Com a preguiça habitual, ela acorda e o vê sorrindo. Com os mesmos dentes amarelados de cigarro e com a gargalhada única, otimista.

"Bom dia querida". Ele diz docemente com seus olhos cor de mel.
"Bom dia", ela responde, como em qualquer outro dia.

Por horas ficam na cama entrelaçados um nos braços do outro. Lembram histórias e dores do passado, coisa sem cor, cheriando a mofo. Até que chegavam em suas histórias e ele a recorda da sua primeira declaração de amor. Seu sorriso é de desdem. O marfim dos dentes dela solta uma risada tão debochada, que constrange até mesmo as paredes bege-claro.

Ela não percebeu o mal-estar, assim como não reparou nas flores ao redor da cama, no café da manhã caprichado e na mudança do porta-retrato.

Os lábios moldados pela barba ruiva murchou até parecer flor morta.

Ele só queria que as amêndoas dissessem: "Parabéns, meu bem".

terça-feira, 3 de junho de 2008

Malandragem de amor

"Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem,
que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem
não existe mais..."

Homenagem ao malandro - Chico Buarque


E assim começava o sambinha do Chico, no mesmo lugar de sempre, cheio de rostos novos e desconhecidos, e com uma saudade ferrenha, abafada pelo som do surdo.

Ainda posso me arrepiar lembrando da dança no salão. Uma noite fria, de algum mês perdido no tempo e na lembrança de tanto lembrar. Naquela época, nem sabia das malandragens de amor, muito menos dos delitos que cometem nos corações.

O amor chega assim: com um olhar atento, cheio de colares no peito, com a blusa aberta aparecendo os pêlos; de calça branca, acompanhada por sapatos da mesma cor. O bigode, impecável, como a blusa bem passada listrada.

O amor bebe cerveja gelada, mas não dispensa uma cachaça. Tá sempre com um cigarro na mão, na outra violão.

O amor te pega pela cintura e rodopia por todo salão, cheira o cangote e te lasca um beijo. Daqueles de cinema ou de música dor de cotovelo.

A noite cai e o Sol se levanta preguiçoso, levando o amor e suas malandragens, dando espaço para a saudade, chorar as mazelas nas cordas de um violão.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um dia de caos

No mês passado, o Distrito Federal atingiu a absurda marca de 1 milhão de carros, praticamente um veículo para 2 habitantes. A ilha concreta (Brasília e seus arredores) está inundada de automóveis, e quando o transporte público - ineficiente - pára, o caos toma conta.

Hoje acordamos sem ônibus. Nove mil motoristas e cobradores reivindicam reajuste salarial de 20%, redução da jornada de 40 para 36 horas semanais, entre outros. Eles possuem todo o direito de luta, mas me bate um desespero ver um monte de gente plantada nas paradas de ônibus, torcendo por um milagre ou uma por uma carona e quando chegam no trabalho, quando chegam, atrasados e exaustos, ainda escutam desaforos dos chefes, incompreensíveis com seus carros 0km na garagem.

O Governo do Distrito Federal soltou na capa do Correio Braziliense que concordou em reduzir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o óleo diesel para evitar o aumento das passagens; só não disse a grana que rola solta entre os proprietários das empresas de ônibus, o que explica, em partes, o baixo salários dos empregados.

O metrô transbordou de gente pela manhã, o que deve se repetir no fim da tarde. Os funcionários do Itamaraty foram liberados pouco depois das 14 horas, para facilitar a volta para casa. Infelizmente nem todos possuem essa sorte.

Amanhã, tudo indica que as coisas voltam ao normal: ônibus e metrôs cheios, carros insandecidos pelas ruas e muita gente andando a pé, para economizar o preço absurdo de uma das passagens de ônibus mais caras do país.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Viagens em sonhos

Outro dia vi um senhor que me chamou a atenção. Era sua cor que gritava. Silenciosamente ela me prendia. O senhor era preto. Retinto, como diria minha mãe. A pele contrastava com os cabelos cor de neve e com o cavanhaque mesclado, como um sorvete de flocos.

Fazia frio e esse senhor se encolhia todo, quando li em cima da mesa: "O último vôo do flamingo". Seria ele de Moçambique? Ou lia Mia Couto pelo simples gosto da literatura?

A mulher da palestra falava sem parar e sutilmente fui caindo no sono até chegar em sonhos.

Em espanhol sono e sonho possuem a mesma grafia, e assim, meu sonho se confundia em sonhos, como los hermanitos do outro lado do oceano.

Nos sonhos via vários livros e letras, e assim pensei na ponte de ligação do meu idioma com o do senhor contrastante. Com português daqui ou de lá, nos comunicaríamos do mesmo jeito, com palavras grafadas, viajando barcos em impressos, chamados livros.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Que rufem os tambores!

Muito samba e festa junina agitam a cidade nas próximas semanas.


Amanhã só os clássicos! A Festa Babulina no Arena Futebol Clube traz a Banda Salve tocando Jorge Ben e Tim Maia. Até às 23 horas mulher paga R$ 5 e homem paga R$ 10, depois sobe um pouquinho: mulher paga R$ 10 e homem R$ 15.

No sábado e domingo, o Teatro da Caixa recebe mais uma vez a Velha Guarda da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma chance imperdível de ver (e rever) os músicos cariocas. Em janeiro, eles estiveram no mesmo teatro, que lotou, e muita gente ficou de fora. Por isso, eles prometeram voltar e cumpriram. Os ingressos são R$ 2 a inteira, e R$ 1 a meia. Sábado às 21 horas e no domingo, às 20h.

Neste final de semana, também se apresenta na cidade o Barbatuques. Usando o corpo para produzir os sons mais inusitados, o grupo paulistano estará no CCBB no sábado (21h ) e no domingo (20h). Ingressos: R$ 15 a inteira e R$ 7,50 a meia.

Domingo é pros forrózeiros. Às 16 horas, lá no gramado do Complexo Cultural da Funarte, Oswaldinho do Acordeon se apresenta pelo projeto Choro Expresso. É de graça!!!

Domingo também é o último dia para ver a exposição Magnum 60 anos. Fotos de membros da famosa agência de Henri Cartier-Bresson estão expostas das 9 da manhã às 9 da noite. Entrada franca.

Terça-feira que vem é dia de samba de altíssima qualidade. O Café Cancun com o Projeto Terça Carioca traz para a cidade a Velha Guarda da Mangueira. É um pouquinho do carnaval carioca em quase inverno brasiliense!

Dia 29, quinta-feira, o açougue mais cult de Brasília traz os anos 80 de volta. A banda Blitz irá se apresentar na 22ª edição da Noite Cultural do T-Bone, e melhor: de graça. Só uma dica: o evento também é uma ótima chance para doar livros para o Projeto Parada Cultural!

Dia 4 de junho é pra quem gosta de Chico. Não, não Chico Buarque não virá à Brasília, mas estará aqui pela voz da paulista Mônica Salmaso. Mônica, acompanhada pelo grupo Pau Brasil, se apresentará na Sala Villa-Lobos para lançar seu Cd Noites de gala, samba na rua, só com músicas de cantor e compositor carioca.

No dia 14 de junho, a Festa Junina de Brasília, no Iate Clube, vem com muito samba e com Diogo Nogueira, filho do saudoso João Nogueira.

Fechando o mês de junho, dia 28, tem a famosa Festa do Seu João, na Asbac, que esse ano vai contar com participação das bandas Falamansa e Monobloco.

Em breve trago mais coisa nova pra vocês.

; )

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Final feliz

Quando a conheci, ela devia ter uns vinte e poucos anos, e mesmo com aquela idade, eu daria 18, de tão pequena e frágil que parecia. Cabelos crespos e curtos, olhos puxados e oblíquos. Pouco me recordo do passado, mas bem sei dizer do presente.

Do pouco que sei, sei que ela foi marcada por muitos desamores, dores intensas, feridas abertas, custosas de cicatrizar. A amargura já havia enchido seu peito e seu sorriso nem lembrança era.

Até uma viagem. Ali, do outro lado do continente, existia um homem alvo, com olhos cor de oceano que a esperava sem saber. A partir daqui contaria uma história de amor que cruzou tempos e mares e culminou no fim.

As ciladas do destino a trouxeram para sua terra, deixando mais desesperança e dor, em um coração tão moribundo, que só queria paz.

Há um tempo atrás eu a vi, e mal sabia que seria a última vez. Com um olhar saudoso e aflito, ela estava do lado de uma mala ainda aberta, talvez na espera de levar mais lembranças quando partisse. Há pouco soube que ela se casou um uma cidadezinha do interior da Europa, com aquele homem de olhos de bolinhas de gude. Todas as dores têm finais felizes.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O tempo leva

- Como pode alguém sonhar o que é impossível saber?
- Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer e isso, eu vi,o vento leva!
- Não sei mais sinto que é como sonhar que o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer...
Los Hermanos - O Vento


Outro dia quase senti saudade. Por alguns instantes senti falta do sorriso que não tinha, das minhas falsas gargalhadas, dos pseudo-companheiros, daquele sentimento que era um placebo. Nada mais. Vi fotos de exato um ano atrás e pensei nas coisas que não foram. Nos amores não gerados, nas dores recicladas, nas vidas transformadas.O tempo leva.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

De perto...

“Só vê ser humano quem é ser humano, o resto é animal”
Do curta “De perto, quem é normal?”




Ontem, no UniCEUB, ocorreu a Abertura Solene da Semana da Luta Anti-manicomial. Desde do dia 5 até o dia 18 de maio, vão acontecer diversas atividades pela luta contra discriminação por pessoas chamadas de loucas.

Foram exibidos o curta “De perto, quem é normal?”, de Raoni Machado e André Viana, e o vídeo produzido pelos alunos de Comunicação Social e de Psicologia da instituição, junto com a TV Pinel do Rio de Janeiro e com usuários e militantes da saúde mental. Ambas produções serão apresentadas em estações do metrô e na rodoviária, visando divulgar o movimento.

Os filmes encantaram o público, mas o ponto alto da noite foi a apresentação do coral Harmonia e voz do Instituto de Saúde Mental, aplaudido de pé pelo auditório lotado. Me arrepiei toda vendo eles cantarem.

Antes de entrar naquele auditório, não tinha noção do tamanho da discrimação que existe e nem do tanto de ignorância que caminha junto com ela. No mesmo dia do evento, escutei tanta besteira vinda de uma pessoa que trabalha comigo, que me senti na obrigação de escrever sobre isso.

É extremamente compreensível quando alguém sem instrução comete determinados preconceitos por que não tem EDUCAÇÃO, mas quando esse tipo de intolerância vem de alguém que está no Ensino Superior, penso que o respeito às diferenças é coisa de índole e formação.

“Ai que medo de entrar lá, com aquele tanto de doido. Vai que algum deles quer me agarrar?”.

Sim, tive que escutar isso.

É por esses comentários e por outros bem piores que a Semana da Luta Anti-manicomial deve existir.

Procure mais informações sobre o evento. Nunca é tarde para a conscientização.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dia de luta

"Livre do açoite da senzala. Preso na miséria da favela".

Samba-enredo “100 anos de liberdade - realidade ou ilusão?”. Estação Primeira de Mangueira, 1988
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13 de maio de 1888: No Rio de Janeiro, a Princesa Isabel assina a Lei Áurea e abole a escravatura do Brasil.

Site do Correio Braziliense de 13 de maio de 2008: A população negra será igual ou mais numerosa que a branca no Brasil ainda em 2008. A projeção foi feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou nesta terça (13/05) o estudo “Desigualdades Raciais, Racismo e Politicas Públicas: 120 Anos de Abolição”.

Site da Folha de S.Paulo em 13 de maio de 2008: A população negra deverá ser maior do que a branca no Brasil ainda neste ano, segundo projeção feitas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). (..) Em 1976, ano da primeira Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a população brasileira tinha 40,1% de negros e 57,2% de brancos. Em 2006, havia 49,5% de negros e 49,7% .

7h da manhã, a televisão grita: “Hoje é dia da Consciência Racial”.

É por essas e por outras que ninguém entende a falta de consciência e de luta brasileira.

Dia 13 de maio. 12o anos da abolição da escravatura no país, não da consciência racial. Teoricamente hoje seria um dia para comemorar, mas como o Movimento Negro, repudio a data. Na verdade faço melhor, procuro usá-la como bandeira para gritar por liberdade, mais uma vez.

Quando eu era pequena, pensava que a Isabel era uma princesa legal, e que tinha assinado uma lei bacana e com isso, tornava o Brasil o último país a deixar de ter escravos. "Ô mulher boa", acreditei. Anos depois, com a consciência racial sendo trabalhada, entedi porque dia 13 de maio não é dia de festa.

Há pouco mais de 1 século atrás, tiraram as correntes do meu povo e os deixaram no relento; disseram que eles eram livres,mas não deram escola, saúde, oportunidade ou sorte. Assim, a história do meu povo povo preto é marcada mais uma vez pelo descaso e pelo preconceito.

Hoje foi dia de reafirmar lutas e causas e daí, vi que muita gente foi dizer "sim" às cotas no Senado. Então repito: Sim, sim e sim!

Sim pela Lei dos Sexagenários, do Ventre Livre, Áurea etc. Sim por cada não em entrevistas de emprego. Sim por causa de cada comentário jocoso durante as aulas (de história, principalmente) sobre a etnia negra. Sim pelo povo que do açoite, foi pra favela.

Sim pela liberdade que tanto sonhamos. E sim, pelo desenvolvimento de uma consciência racial combatente - por que segundo estudos de não sei da onde, a igualdade econômica entre brancos e negros só será possível em 2040. Então sim, para que o meu povo se veja negro, porque o negro é lindo, o negro é forte, o negro é luta.

Como diria a canção “Se hoje estou aqui, só devo a Dandara, Só devo a Zumbi”.

A luta continua.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Salva-vidas

Era uma vez eu, eu e os meus milhares de amigos.

Em uma explicação subjetiva diria que o fato de ter muitos amigos ocorre por eu ser aquariana. O signo de ar, penúltimo do zodíaco, Aquário confere muita fraternidade para quem o carrega em alguma de suas casas astrais, e como meu Sol está em Aquário não seria diferente.

Em uma explicação mais objetiva e menos modesta, tenho muitos amigos por ser gente boa. Simples assim.

Mas teve uma época que eu tive muitos amigos, que hoje os classificaria como “amigos de buteco”. Não que não valham muito, mas por serem típicos dessa fauna.

Todo grupo de amigos tende a acabar um dia, cedo ou tarde, por motivos vários. Aquele que eu fazia parte durou muito: cinco anos após, lá estavam todos, ou quase, sempre com a cerveja gelada na mão e com muita energia.

Mas todo carnaval tem seu fim, como diria a música, e o nosso chegou sem pedir licença.

Vendo aquela minissérie Queridos Amigos, percebia a cada capítulo como a história da tevê parecia (ou não) com a história daqueles meus amigos. Nós sempre estávamos dispostos, éramos descolados, modernos e felizes. Minto, felizes não, mas tínhamos o grande dom de acreditar “que tudo estava bem o tempo todo”, e foi nesse embalo que a ponta do iceberg surgiu.

As amizades devem ser baseadas na cumplicidade, respeito e confiança, mas essa tríade não caminhou sempre conosco. Um dia, uma mentira foi contada, alguém não aceitou mais aquele tipo de política e rompeu laços aparentemente indestrutíveis. Léo, também aquariano, protagonista da minissérie, disse uma vez “Sinto saudade do que fomos”, e eu em uma nostalgia às avessas digo “Sinto saudade do que não fomos”.

A relação criada naquele grupo era uma utopia doce e viciante; quanto mais se tinha, mais se queria, porém, alguns enjoaram da docura.

De pouco em pouco, vi vários, daqueles que jurei amigos, partirem. Uns acham outros grupos, outros acharam a si mesmo e no final, senti uma certa leveza dos que foram para outros rumos.

Outro dia, conversava com uma dessas, que trilham novos caminhos, e a última mensagem do bate-papo foi “O último que sair desse barco afunda”. Os salva-vidas já estão a postos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Verdades de Blog

Outro dia li num blog sobre um fim. Um desses tristes fins que você torce para que não dure muito. É estranho e engraçado, porque às vezes eu leio coisas no blog do alheio e penso "será que a pessoa passou mesmo por isso?". Normalmente não. As pessoas custam a acreditar, mas se inventa demais nesses casos. São histórias ué, coisas que foram criadas, outrora vividas, mas nem tudo é verdade. Nada é verdadeiro o tempo o todo, assim como aquele fim que eu li. O que mais me impressionou é que lá no fundo eu sabia de quem se tratava. Era uma menina bonita, de olhar meigo e sol em um elemento de ar. As histórias ficam mais tristes quando se enxerga através do espelho. E mais belas também.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Salve Salve!!!

Acordei e nem me dei conta de que dia era. A televisão me lembrou: 23 de abril.
Hoje, mais que nunca queria estar no Rio de Janeiro. Ali na rua da Alfândega, do lado do Parque Sant’Ana, quase na Vargas. Simplificando, na Igreja de São Jorge, no Centro da cidade.

Dia 23 de abril é dia de São Jorge. Ogum pra alguns, e Santo de devoção pra mim. Ano passado, um amigo meu estava lá e me descreveu a festa: Católicos misturados com adeptos ao Candomblé e Umbanda. Blusas vermelhas, brancas e azuis. Brasileiros e estrangeiros. Todos juntos. Celebrando a força do meu Guerreiro Santo, tão complexo como a fé do povo do meu país.

Eu queria estar lá. No meio de tanta gente, com velas acesas e tambores falando. Ali de joelhos, em frente da imagem, na Igreja pequenininha, no fim do Saara. Mas tempo e dinheiro não me permitiram estar lá. Não importa. Fé remove montanhas e em pensamento estou na Cidade Maravilhosa, em dia do jogo do Mengo, em tempos de sincronia religiosa.

Que São Jorge Guerreiro ilumine o caminho de todos nós.


“Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge.
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter, para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem. Amém.”

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Nova Postagem

Escrever sobre o que?
As postagens andam lentas, esparsas...vagas.
Mas tem o bar. O papo do vizinho. A dor de cutuvelo. A paixão recém saída do forno. O debate da tevê. A música nova na rede. O sapato novo. A chuva que cai lá. O sol que sai aqui. O sorriso sereno. A risada calma. A paz de espírito. Tudo caminha. Como vai? Devagar e sempre, por que sei lá, de repente...

sábado, 12 de abril de 2008

Peito nú

Ela acorda com o tremor dele.
Quando dorme tem espasmos musculares que a assustam um pouco.

O ângulo de visão dela é um peito nú, com poucos pêlos, mas o suficiente para se distinguir homem. Homem. Ele era seu homem, não pra sempre, mas por aqueles instantes.

E por aqueles instantes ela se vagava. Passava pelas linhas do tempo e se perguntava "onde estaria o outro?". Bebendo em um bar sujo? Trabalhando como escravo? Ou entre as pernas de outra?Isso era o que mais a incomodava.

O orgulho e o rancor a transformaram em dois castanhos oblíquos e interrogativos. Seu sorriso era um marfim esperançoso e sua risada era um soluço de desespero.

Uma mistura de sentimentos, dúvidas, certezas, premonições, sonhos e devaneios.

Ela pensou no quanto queria caminhos novos e finais felizes.
Cansou de pensar.
Voltou a dormir.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cores e calores de uma tarde quente

Cor
Color
Calor
Fevor
Febre
Tese
Tenso
Denso
Duro
Puro
Curto
Corte
Forte
Dose
Dor
Calor
Color
Cor