domingo, 30 de dezembro de 2007

Nova chance

Toc toc toc, tem alguém aí? O último que sair de Brasília apaga a luz.

Como de praxe, não sobrou ninguém na ilha, só eu e meia dúzia de gatos pingados. Então escrevo para os sobreviventes: há uma chance de rever Noel!!!! Mas não o Papai Noel [hehehe - piada sem-graça, típica da minha mãe].

Terça-feira, a Rede Globo vai reprisar o especial Noel Rosa. Será uma série de reapresentações dos programas do Som Brasil que rolaram em 2007, e pra variar e não perder o hábito, os programas devem ir depois do Jornal da Globo. Ou seja, supeeeer tarde.

Pra quem não vao fazer nada, tá aí a dica. [Mas será que alguém vai ler esse trem em plenas férias?].

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Então é Natal

Desde ontem ensaiei palavras para escrever aqui, mas daí surgiu a preguiça típica das férias. Mas juro, vou me esforçar para postar pequenos negritos.

Natal pra um monte de gente é alegria, é rever gente distante, é ganhar presente. Pra outros é tempo de cultivar lembranças amargas e forçar sorrisos simpáticos.

Apesar dos pesares, de um tempo pra cá, penso que o Natal é tempo de ver minha família unida e vê-la rindo, apesar dos perrengues cotidianos.

Ontem eu fui à missa. Não costumo fazer isso, mas por algum motivo fui. Fui agradecer as coisas boas e ruins desse 2007 que tá quase acabando. Natal é isso também: tempo de renovar a fé e praticar o religare.

Natal é tempo de Roberto Carlos e de especiais toscos da Globo, é tempo de comer muito e trocar roupas em lojas. Natal é a esmola aliviadora e a culpa persistente.

O Natal virou um homem branco e gordo com uma roupa e um saco vermelhos. Natal, na verdade, pode ser o tempo de praticar a paz e semear o amor.

Feliz Natal.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Brasília, traço do arquiteto


Niemeyer faz 100 anos hoje. Existe uma piada que diz que ele, Dorival Caymmi e Dercy Gonçalves são pra sempre. Tô quase acreditando nisso.

Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro e se formou na Escola Nacional de Belas Artes, saiu de lá engenheiro arquiteto e ficaria conhecido pela sua marca principal: o concreto armado.

Le Corbusier foi um arquiteto de extrema importância para Niemeyer. Os princípios da nova arquitetura do francês influenciaram o carioca e Brasília mostra isso como ninguém. A Construção sobre pilotis, o Terraço-jardim, a Planta livre da estrutura, a Fachada livre da estrutura e a Janela em fita são prosaicas para o pessoal do cerrado.

Quem nunca brincou de baixo do prédio? Ou percebeu que os telhados dos prédios do Plano Piloto são lajes lisas, abertas, sendo possível caminhar por elas? E que o Sol sempre bate de manhã nos quartos maiores e de tarde nos quartos menores de cada prédio?

Na 3ª série estudei Brasília. Nunca me apaixonei tanto pela minha cidade como naquela época. Minha ilha quadrada...Concreta. Concreto. Bem Niemeyer.

Há uns 10 anos atrás, em um ônibus que fazia o trecho Araxá-Brasília, ouvi uma senhora explicar para sua neta como era Brasília. “Brasília é diferente de tudo o que você já viu na sua vida”, ela disse; e estava certa. Apesar da Igreja da Pampulha, da Mesquita em Argel e do Partido Comunista Francês, sem dúvida, tudo o que Niemeyer fez em Brasília foi o seu melhor.

Uma Catedral em forma de cálice, um museu lembrando Saturno, entre todas as outras belezas daqui, são coisas tão Niemeyer e tão nossas... Muitos reclamam da escassa funcionalidade de suas obras, ele nega a crítica, e no fundo, a gente até se acostumou com isso.

Os anos do centenário arquiteto, pra mim, poderiam se resumir nos, 4 ou 5, em que a capital foi construída. Apesar dos pesares, ele acertou em cheio.

Gosto tanto dela assim.
*Imagem: Google

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fins dos tempos

Terror e pânico. Acabo de sair dos tópicos da comunidade UnB – Universidade de Brasília. Com o perdão da palavra, só merda.

Um tópico mais imbecil com outro, cheios de asneiras. Um vem o papo de “ah porque cotas para negros é injusto, só negro rico entra na UnB” e blá blá blá. Aquele discurso fraco que já conhecemos. Nem me dou o trabalho de repetir minha posição, falada [escrita] aqui zilhões de vezes.

Outro vem dizer do Dia da Consciência Branca. Putz, como uma pessoa dessa passa no vestibular “da melhor instituição de Ensino Superior de Brasília”? Aí sempre tem um erro para usar o exemplo da camisa 100% branco. Já disse: quando você é o opressor isso se torna mais totalitário ainda; sendo negro, oprimido, isso serve de bandeira e resistência. Resistência como o “Orgulho Negro”. No mesmo tópico, alguém diz que é errado o Movimento Negro pregar o Orgulho Negro, já que não existem raças e blá blá blá.

Repito: o racismo só pode ser combatido se as diferenças forem assumidas. Raça pode até não existir, mas as diferenças étnicas existem, e são elas, que não são aceitas pelas sociedades.

Ler o mar de asneiras escritos pelos estudantes da UnB me assusta e me revolta. É o fim.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fim do festival II - A Festa

Só não são tão boas quanto os filmes do festival. As festas de abertura e encerramento são um prato cheio pra quem quer ver gente famosa ou quase-famosa, expor a figura ou simplesmente comer uns salgadinhos de graça. Ontem eu tava lá no Teatro Nacional, e me diverti um bocado.

Coxinha, empada e gente se matando por uma tulipa de cerveja. Todos os típicos da cena “eventos de graça” estavam lá [inclusive eu!]. Só faltou o cara do incenso.

Mas os filmes que interessam. Repasso alguns dos vencedores da Mostra Competitiva [Prêmios Oficiais]:

21 - Quarta-feira

Um ridículo em Amsterdã
[de Diego Gozze, 13 min, SP].
Espalhadas pelo ar [de Vera Egito, 15 min, SP]: Um absurdo não ter levado nada.
Amigos de risco [de Daniel Bandeira, 88 min, PE]: Outra injustiça...

22 - Quinta- feira

Café com leite
[de Daniel Ribeiro, 18 min, SP]: Levou o Prêmio Aquisição Canal Brasil, mas acho que não foi o suficiente.

Décimo segundo [de Leonardo Lacca, 20 min, PE]: Melhor direção. O diretor agradeceu a quem gostou e a quem não gostou. O prêmio foi um cala a boca nas vaias da quinta-feira.

Meu mundo em perigo [de José Eduardo Belmonte, 92 min, DF]: Melhor ator, Melhor ator coadjuvante. Ver o ator Eucir de Souza chorando de novo deu gosto. Foi um choro de alegria, como disse o próprio.

23 – Sexta-feira

O presidente dos Estados Unidos
[de Camilo Cavalcante, 23 min, PE].

Uma [de Nara Riella, 13 min, DF].

Cleópatra [de Júlio Bressane, 116 min, RJ]: Melhor filme, Melhor atriz, Melhor Fotografia, Melhor Direção de arte, Melhor Trilha sonora, Melhor som. O exagero de prêmios do filme de Bressane revoltou a platéia do Teatro Nacional. As tímidas vaias se tornaram coletivas com o anúncio de Melhor Filme.

24 – Sábado

Enciclopédia do inusitado e do irracional
[de Cibele Amaral, 17 min, DF]: Melhor ator. Wolney de Assis [que também está em Meu mundo em perigo] me encantou no curta de Cibele Amaral.

Trópico das cabras [de Fernando Coimbra, 23 min, SP]: Melhor direção, Melhor atriz, Melhor fotografia. Levou um tantão de prêmio. Vai entender...

Falsa loira [de Carlos Reichenbach, 101 min, SP]: Melhor atriz coadjuvante - Djin Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla.

25 – Domingo

Tarabatara
[de Julia Zakia, 23 min, SP]: Deviam ter dado mais atenção ao curta 35 mm de Julia...

Eu sou assim – Wilson Batista [de Luiz Guimarães de Castro, 16 min, RJ]: Melhor montagem. Ganhou também no Júri Popular. Junto com Espalhadas pelo Ar e Café com Leite, foi meu curta predileto.

Chega de Saudade [de Laís Bodansky, 92 min, SP]: Melhor direção, Melhor Roteiro. Vencedor no Júri Popular. Vai bombar na telona em 2008.

26 – Segunda

Busólogos
[de Cristina G. Muller, 12 min, SP].
Eu personagem [de Zepedro Gollo, 16 min, DF].
Anabazys [de Paloma Rocha e Joel Pizinni, 90 min, RJ]: Melhor montagem, Prêmio especial do Júri. As falas de Antônio Pitanga explicam porque as pessoas continuam a fazer cinema: “Viva Glauber!”.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Fim do Festival



A 40ª edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro acabou. Filmes cabeças, incompreensíveis ou pura besteira mesmo agora só ano que vem. Bati meu recorde: só não fui na sexta e na segunda [na segunda por puro cansaço].

O Festival é um barato: tem a tribo da chinela rasteira [a fauna mais típica do local], as deslocadas com bolsa platinada...Tem a galera que empacou no tempo e acha que tá nos anos 80.... E um monte de desconhecidos com rostos familiares. Mas Brasília é assim mesmo...Minha pequena ilha quadrada no meio do Goiás, com gente que não conhece rua de paralelepípedo.

Mas também sempre tem o pessoalzinho efusivo demais: sorrisos, gritos, aplausos, tudo em demasiado. Um saco.

Além disso, rola a parte que tem que sentar no chão pra ver o filme, levar uns chutes, querer esganar o pessoal que fica zanzando durante os filmes e ver gente famosa. Tudo incluso no pacote do Festival.

Mas vamos aos comentários, porque é isso que interessa. [infelizmente somente da Mostra Competitiva...]

21 - Quarta-feira
Um ridículo em Amsterdã [de Diego Gozze, 13 min, SP]: Não gostei, achei disperso demais o falso documentário produzido.

Espalhadas pelo ar [de Vera Egito, 15 min, SP ]: O Projeto de Conclusão de Curso da aluna da USP me encantou. Uns dos melhores curtas ao meu ver. Sensível, delicado, como toda transformação feminina.

Amigos de risco [de Daniel Bandeira, 88 min, PE]: O filme criado com magros R$ 200 mil, encantou a platéia do Cine Brasília. Até que ponto agüentamos as pressões? Quem são as pessoas ao nosso redor? Como as amizades são solidificadas. Amigos de risco em um certo momento cansa pela longa saga dos protagonistas, mas vale a pena, sem dúvida.

22 - Quinta- feira

Café com leite [de Daniel Ribeiro, 18 min, SP] : Não conto a sinopse do filme se não perde toda a graça. Mas a frase do filme resume tudo: “É difícil se acostumar quando as coisas mudam. Mas depois...ah depois sei lá.”

Décimo segundo [de Leonardo Lacca, 20 min, PE]: Com o mesmo protagonista de Amigos de Risco (Irandhir Santos, ganhador do troféu de ator coadjuvante do Festival do ano passado, com Baixio das Bestas) causou vaias e aplausos na sessão de 20h30. Acho que o pessoal não entendeu. Décimo segundo é assim mesmo: desconfortante.

Meu mundo em perigo [de José Eduardo Belmonte, 92 min, DF]: O cineasta formado em cinema pela UnB , e que trabalhou com Nelson Pereira dos Santos (!!!), me fez sentir um nó na garganta com Elias e seu mundo em pedaços.

23 – Sexta-feira

O presidente dos Estados Unidos [de Camilo Cavalcante, 23 min, PE].
Uma [de Nara Riella, 13 min, DF].
Cleópatra [de Júlio Bressane, 116 min, RJ].

Como havia dito não fui na sexta. Mas as fofocas que ouvi foram que todos os filmes desse dia foram chatos. O do Bressane era o mais aguardado e foi o mais detonado no saguão do Cine Brasília....

24 – Sábado

Enciclopédia do inusitado e do irracional [de Cibele Amaral, 17 min, DF]: o melhor do dia. O curta inspirado nos filmes de terror dos anos 20, deixou todo mundo em casa. A base das gravações foi na biblioteca da UnB.

Trópico das cabras [de Fernando Coimbra, 23 min, SP]: Achei confusa a viagem do argentino [brasileiro?!] no seu Chevette 79 ...

Falsa loira
[de Carlos Reichenbach, 101 min, SP]: É do mesmo diretor de Garotas do ABC. Não entendi lhufas, mas valeu pelas risadas com Maurício Mattar, Cauã Reymond e Rosanne Mulholland [que também faz parte do elenco do filme do Belomnte].

25 – Domingo

Tarabatara [de Julia Zakia, 23 min, SP]: Está no Top Curtas pra mim também. A fotografia arrasou.

Eu sou assim – Wilson Batista [de Luiz Guimarães de Castro, 16 min, RJ]: Pra quem gosta de samba um prato cheio. Maurício Tizumba é Wilson Batista, sambista carioca de primeira linha, que na ficção, escreve suas memórias e relembra aventuras vividas na década de 50. Merece nota 10 da mesma maneira que o filme Noel – Poeta da Vila. Noel e Wilson protagonizaram uma polêmica famosa, geradora de sambas inesquecíveis como Rapaz Folgado, Lenço no Pescoço e Palpite Infeliz.

Chega de Saudade [de Laís Bodansky, 92 min, SP]: Sempre vai ter um pra dizer “ahh, mas é Globo Filmes né?”. E daí? Globo Filmes ou não foi lindo. Conta com um elenco estrelar, mas vale a pena mesmo pela lição de vida dada e pelos convidados especiais. Elza Soares e Marku Ribas representaram muito bem a trilha sonora assinada por Bid, que não recebeu o número de palmas devidas. Sabe Mandingueira? Que a Elza canta..o clipe tem o seu Jorge e a Fernanda Lima? Então a música é dele!

26 – Segunda

Busólogos [de Cristina G. Muller, 12 min , SP].
Eu personagem [de Zepedro Gollo, 16 min, DF].
Anabazys [de Paloma Rocha e Joel Pizinni, 90 min, RJ].

A preguiça me fez perder Glauber Rocha na telona. Dizem que foi bacana.

.........

Acho importante de dizer que todas as críticas [positivas e negativas] são subjetivas ao extremo e não podemos jogar fora o trabalho de meses e anos desses cineastas. Esculachar o trabalho do alheio é fácil e se chegaram ao Festival foi por algum motivo.

Mas era só isso mesmo, até o próximo.

*Imagem: Google

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Racismo velado

20 de novembro de 1695 : morre Zumbi no Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.

21 de novembro de 2007 : eu abro o jornal e começo a ler as matérias sobre o Dia da Consciência Negra e me assusto.

Por todo país passeatas, palestras, manifestações sobre o tema. Uma semana só para falar da negritude, talvez um mês. Festas nas Universidades, shows de graça.... O povo preto tá em pauta.

No meu país miticamente democrático
todo são iguais perante a lei, dia de comemorar é 13 de maio e as cotas raciais causam furor porque "qual é a diferença entre brancos e negros?" ou "é injusto que os negros possuam duas chances no vestibular".

Leio que um menino se acostumou com racismo. Do lado, uma menina de pele preta, com curtos cabelos escovados diz " que não chega a ser negra", mas o pai dela é. E ainda me questionam se é preconceituoso vestir uma blusa 100% negro.

Nosso [meu?] povo mesmo recém liberto, não aprendeu a valorizar sua cor; o comentário da menina no jornal é prova do preconceito-debaixo-do-tapete. A camisa 100%, as cotas, as tranças e black power são as afirmações que o meu [seu?] povo preto não tem.

Parece sutil, mas os produtos de beleza, os outdoors, os âncoras de jornal, todos eles ajudam a construir a identidade negra perdida e não consolidada. O dia 20 de novembro não deve O dia de afirmação, mas uns dos dias. Um país que seus habitantes se acostumaram com o racismo e vêem o embranquecimento como corda de ascensão tende à um apartheid eterno e com marcas mais profundas que a do açoite. As marcas físicas e psicológicas que estão na população negra brasileira, atada à pobreza pela discriminação, não vão se apagar.


Espero por dias melhores.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Lembrete

Há dias quero escrever isto.

Pra quem gostou de O ano em que meus pais saíram de férias, tem também o filme Machuca.

Nessa onda de infância e regimes totalitários, o filme espanhol, lançado em 2004, traz Gonzalo Infante, Silvana e Pedro Machuca, três crianças que criam uma amizade durante a transição dos governos de Allende e Pinochet.

Em meio de um caos em que se encontrava Santiago do Chile, as crianças constroem uma relação que supera barreiras políticas, econômicas e sociais.

Merece. Muy precioso, como diriam...

sábado, 3 de novembro de 2007

"Brilha uma estrela"

Vou fechar a trilogia cinematográfica aqui no blog com um documentário: Peões de Eduardo Coutinho.

Eduardo Coutinho é um cineasta das antigas e ficou conhecido com Cabra Marcado pra Morrer. Assisti dele Babilônia 2000 e é fenomenal.

Coutinho utiliza a mesma abordagem de Babilônia em Peões. Perguntas feitas pelo diretor, praticamente em off, com a câmera atenta nos entrevistados. O suor, o riso, o olhar desconfiado... Nada fica de fora.

Peões mostra os metalúrgicos, companheiros de Lula, em 2002, ano da eleição e primeira vitória esquerda. Dói, dói tanto ver a fé de um povo que acredita na política e na revolução. As coisas cresceram demais e perderam a dimensão.

Homens e mulheres marcados pelas demissões nos anos 80, um mar de gente que acreditava [e acredita] na estrela vermelha. Uma mulher chega a dizer: "Ainda vou fazer um café pro meu presidente, lá em Brasília. Lula é meu pai, meu irmão meu tudo". Assutador.

Aí me pergunto cadê aquele cara de barba mal-feita, fumante, espontâneo, popular. A ideologia de Lula se perdeu, quando em 2003, ele recebeu a faixa no Planalto. Ele tinha que mudar sim, mas será que tanto? Será que tinha que ser assim? Não sei.

Não sei disso e não entendo como tanta gente pode agradecer a Wolks mesmo depois das demissões. Coutinho fez um documentário pra deixar a boca aberta e a mente pensante.

Em um determinado momento, uma das entrevistadas diz que sua parte predileta do hino é: "verás que um filho teu não foge a luta", e que Lula seria a representação desse trecho do hino.

Eu não entendo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Passando pelo Passado

Cinema de novo.

Antes de qualquer coisa: estréia hoje, [sim hoje!] Noel - Poeta da Vila. O filme dirigido por Ricardo von Steen está em três salas, aqui em Brasília.
....

Pois é, andaram falando de filmes latinos, e sem dúvida eles também merecem nossa atenção. São inúmeros os títulos de destaque dos nossos vizinhos, mas hoje recomendo El Pasado.

O filme , do conhecido Hector Babenco, é uma co-produção Brasil-Argentina. Baseado no romance de Alan Pauls, a narrativa revela a história de Rimini, um homem atordoado com a lembrança da ex-mulher Sofia, que mesmo depois da separação, ainda se faz presente em sua vida. O elenco traz o queridinho [e talentoso!] Gael García Bernal e novamente, Paulo Autran.

A película que abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está em cartaz em toda cidade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Férias para a ditadura

A pauta de hoje é cinema.

Domingo, assisti um filme bem bacana: “O ano em que meus pais saíram de férias”. Dirigido por Cao Hamburger e com um time da pesada. Paulo Autran [saudoso], Caio Blat e outros globais fazem parte da trupe.

Mas o destaque, claro, fica para as atuações das crianças Michel Joelsas e Daniela Piepszyk, Mauro e Hanna, respectivamente.

A história é de um menino que adora futebol e mora em Belo Horizonte com pais. A ditadura, pano de fundo do enredo [junto com a Copa de 70, no México], faz que os pais de Mauro o deixem na casa do avô, em São Paulo. Mas as coisas se tornam um pouco mais complicadas com a chegada do garoto.

Não vou contar a história, se não perde a graça. Mas queria dizer que o filme vale muito a pena, pelo álbum de figurinhas, pelo jogo de botão, pela paixão pelo futebol [de jovens, adultos,todo mundo, ah!, e meninas também! Hanna joga um bolão! ; ) ]. Todas coisas tão simples e que com certeza fizeram parte de cada um de nós, em um determinado instante.

O filme, que foi lançado em 2006, deve estar nas locadoras e merece uma atenção. É uma das obras de destaque desde a retomada cinematográfica brasileira.

Fica a dica de deixar a ditadura hollywoodiana de lado e apostar em películas tupiniquins.

Ah sim, pra quem quer apostar em filmes nacionais, está prevista para novembro o lançamento do esperado Noel – Poeta da Vila, com Camila Pitanga e Rafael Raposo, no papel do músico.

Até o próximo filme.

sábado, 27 de outubro de 2007

Sexta-feira

“De qualquer jeito amor (...), embora não mate a sede da gente.”
Caio Fernando Abreu


Mais uma sexta-feira. Uma manhã de primavera, cheia de cigarras chatas e de sombras frias. O calor, que só se revelaria depois das onze, gritava, duas horas antes.

Lá estava eu, debaixo das pilotis plano pilotenses: sentada, lendo Caio Fernando Abreu, vendo ele falar de amor. Amor e Deus, Amor e Sexo, amor, amor...Ah! Amor...Sai dia, entra dia e não sei se posso ou devo ainda acreditar na pauta predileta dos poetas.

Passa o cara do cd pirata [é, é a democracia por outras vias sim!], passa o tio do jornal, fica o porteiro do prédio, que não se cansa de pintar a calçada de cinza. Cinza como muitos outros dias, vazios assim, como hoje, sem amor, com um livro, no máximo um samba antigo. E dessa vez com esse cheiro, de tinta me embriagando.

Mas hoje é sexta! Dia oficial de porres, de mágoas afogadas e de esperanças renovadas. A mim me resta o sábado, com ressacas colossais.

sábado, 20 de outubro de 2007

Sábado setembrino seco




Nessa terra tão seca que vivo, nessa grama amarelinha, com ipês roxos, com um solo marcado pelo fogo, o amor vai envergando, como as árvores do cerrado. São os tortuosos caminhos da paixão.

Vai entortando, entortando, até um dia que precisa se endireitar, mas o tempo não ajuda. É só seca e o coração seco. É o mato queimando e a fumaça nublando esse tempo confuso, que corre, que desliza pelas mãos e nem sequer diz adeus. O tempo deixa marcas para que ninguém o esqueça.

Até que chega setembro, com novas flores e novos amores. As cigarras, desesperadas gritam por água, como o solitário que grita por compaixão. Mas a compaixão é pesada e nem todos conseguem carregar esse peso.

Um belo dia a fumaça toma conta tudo, embaça e inspira nuvens carregadas. Chove, esfria e as cigarras gritam menos, o fogo cessa, a seca alivia, e aparentemente as pessoas amam mais.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A carne mais barata do mercado é a MINHA carne negra

Ontem, minha querida cantora Elza Soares se apresentou aqui em Brasília, no Teatro Nacional. De graça, com os devidos atrasos e com clássicos como "Se acaso você chegasse". Mas em algum momento a casa caiu, o show que estava jóia - e me pareceu tão curtinho - ficou com um certo clima de tensão.

Elza, no seu direito de cidadã, ao cantar a música A carne, de Seu Jorge, Marcelo Yuca e Ulisses Cappelletti, disse que era contra as cotas, que queria era igualdade e educação. Alguns aplaudiram, outros não [eu não aplaudi]. Logo em seguida ela cantou o Rap da Felicidade e o público cantou junto, animado.

Critiquei forte na hora e me chamaram de "politicamente correta demais"; outro disse que eu "levo tudo a sério", mas acho que não entenderam a minha crítica.

A cantora pode falar o que quiser, cantar o que quiser, mas será que não soa hipócrita um público classe média, média alta, cantar no teatro [NACIONAL!] : "eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci"? Hipócrita porque alguns deles vão chegar em casa e recriminar o funk, e dizer que é coisa de preto e favelado e achar um absurdo alguém escutar e ser capaz de se entreter.

A atitude de Elza é válida no sentido de trazer o morro para qualquer lugar que não seja o morro. Mas bem...vamos entrar no outro tópico do bate-boca:

As palmas brancas contra as cotas. Novamente digo que a cantora pode achar o que quiser, mas a mídia, esse quarto poder que bota pra fu*, não tá nem aí, pode muito bem usar as palavras dela [Elza] para continuar a campanha "cotas-não". Os meios de comunicação são tão cruéis... Pois, são eles que trazem o dado que somente 6% da população é negra e são eles que se esquecem de falar sobre o problema da auto-afirmação brasileira.

Espero que a Elza continue cantando "A carne mais barata do mercado é a minha carne negra", e que os brancos, negros, na favela ou no blablá Hall, se sensibilizem, reconheçam seu racismo e a partir daí coloquem em prática a igualdade - o racismo só pode ser combatido se assumido.

"A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos"

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Osso duro de roer

Engraçado. Me perguntam hoje o que achava do filme Tropa de Elite. Disseram que até entraram no blog, esperando uma opinião minha, mas não tinha nada aqui.

Eu estou há uma eternidade pra escrever sobre o filme de José Padilha, mas o tempo e o cansaço não me permitem. Nem a boêmia tem tido espaço....

Vários cineastas xaropes disseram que Tropa incita a violência e perdeu o controle: “a obra é maior que o diretor”, li em algum lugar. Acho puro drama.

Alguns estudantes made in Universidades Públicas não gostaram da obra do mesmo diretor de Ônibus 174. Acreditam que é uma publicidade do BOPE – Batalhão de Operações Especiais – , que defendem os policiais em geral e que colocam a culpa toda no usuários. Acho que isso é discurso de usuário.

Na minha visão Tropa de Elite [que foi inspirado no livro Elite de Tropa de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel] é o nu e cru da sociedade brasileira. Triste, lastimável, mas a pura verdade.

A violência revelada pela telona é o que ocorre todo dia em vários cantos do Brasil; criticar Padilha por mostrar tão friamente a verdade é fácil demais. Lembro, que esses dias saiu uma pesquisa [procurei a fonte no Google, mas não achei] que mostra que a população mais pobre acha comum a violência policial, que ela é em partes justificada. O Brasil é uma retroalimentação: não há educação, não há saúde, não há consciência social. Logo quando chega o policial batendo, atirando, “tudo bem”, ...mas porque? No senso comum desse povo que grita, atado à pobreza, tudo é válido para obter justiça. Pior, tem gente que tem escolaridade e tudo mais e pensa do mesmo jeito. Tropa de Elite reflete a ignorância e prepotência, de raízes lusitanas de 500 anos atrás.

A construção do nosso país é baseada na corrupção, e a lição foi bem dada. Cinco séculos depois dói mostrar no cinema [programa de bacana] as conseqüências dessa desigualdade astronômica.

Parafraseando [ou copiando mesmo] o Correio Braziliense, Tropa de Elite é o saco plástico na cabeça da classe média brasileira.

domingo, 7 de outubro de 2007

Sufoco

Eu olhava nos olhos dela e via tanta paz. Aquela doçura de menina, tão menina, era só minha. Desacostumei a ter alguém envolta em meus braços.

Tão doce menina. Sorria-me branco e verdadeira. Dormia feliz, jurando que o mal não existia. Mas existia a saudade, que não morre, só se transforma.

Os longos cabelos vermelhos surgiam em minha mente. Não poderia ter de volta aquele mesmo cabelo. Cheio de cachos que enrolavam meus pensamentos. Os pretos, lisos e escorregadios me sufocavam após um tempo. Lembravam-me da mentira que levava cotidianamente.

Pensei em levantar e partir, assim que o Sol surgisse. O Sol surgiu e desejei "bom dia" aos longos cabelos pretos sufocantes.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Outro retrato em branco e preto...

...a maltratar meu coração."
Tom Jobim

Revia aquelas fotos. A última, em preto e branco, parecia prever o fim, doloroso, mas sutil.

Tinha me perdido de paixão até perceber que quando a dor se faz mais presente que o amor é hora de partir. O fraco é quem tem que ser forte quando o forte for fraco demais para partir.* Eu fui a fraca da vez. Outrora quando partimos fisicamente, ele foi o fraco; na verdade, ele sempre foi o fraco. Eu que resisti bravamente aqui esses anos todos, carregando sozinha esse amor capenga, de mão única. Eu sempre disse que tinha que ser mão-dupla, mas ele nunca praticou essa fé em nós dois.

A foto em preto e branco, linda, eu preta, ele branco, numa noite quente de fim de inverno, foi revelada. Só para constar como lembrança.

*Milan Kundera

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Novas regras e novos problemas

É uma decisão pior que a outra. A UnB tá mais perdida que cego em tiroteio.

O sistema de cotas mudou, as fotos foram abolidas, e em seu lugar, uma entrevista será realizada. Nota 10. Quem possui identidade negra vai ter a coragem de se expor e dizer “sim, concorro pelas cotas”. Dessa maneira, os hipócritas de plantão não terão vez. Chega de bronzeamento e penteados afros antes da prova. Chega de gente brincando com minha etnia.

A homologação das cotas só saíra depois do resultado do vestibular, e quem for reprovado na entrevista perde o vestibular, pois, não poderá concorrer no sistema universal. Nota 0. Quem garante que a banca examinadora saberá examinar tão bem assim? Quem serão os examinadores? Eles saberão o que é carregar a identidade negra sem ter cabelo crespo? Ser negro vai além dos fenótipos.

Os gêmeos, protagonistas do vexame no vestibular passado [vide post O racismo e a hipocrisia do dia 08/06/07], não passaram na UnB. Agora a mamata acabou. Eles que disseram ser contra as cotas terão que concorrer somente no universal, sem a mordomia da concorrência menor dos cotistas. Em falar em concorrência....

Os pardos e negros temem o aumento com essa história de entrevista, e assim, pensam até em concorrer no sistema universal. Aí vai tudo pro ralo, pois, a idéia era a auto-afirmação.

Lendo o jornal vi um comentário de doer: seria justo que os negros e pardos escolhessem somente um sistema, já que os brancos só possuem o universal. Justo. O que seria justo?

Meu povo por mais de 300 anos foi marcado pelo açoite e hoje luta contra forças invisíveis [o mito da miscigenação], e alguém tem o disparate de dizer que não é justo termos duas chances no vestibular. Justo seria a competição um pra um entre brancos e negros, justo seria não ter que provar o tempo todo competência, já que a cor da pele “é o eles olham, velha chaga”.

Bem, espero muito que as coisas entrem no eixo, que a UnB enfim encontre um sistema coerente e o mais importante: que o MEU POVO NEGRO ingresse no Ensino Superior e que a educação se torne colorida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sacudindo

"Quem pode pode, quem não pode se sacode." Eu tô aqui me sacudindo.

Esse final de semana foi o segundo e último, em que Sassaricando - E o Rio inventou a Marchinha se apresentou na cidade. O musical, com nomes de peso como Eduardo Dussek e Soraya Ravenle, deixou Brasília borbulhando.

Os ingressos evaporaram e mais uma vez eu perdi um espetáculo na Caixa Cultural. Eu não tenho tempo de ir na bilheteria em dia semana às 13h. Me disseram que é esse horário, porque eu mesma até hoje não conseguir ligar pra lá. Só dá ocupado.

Mas quem teve sorte e tempo viu o lindo espetáculo produzido pelo mestre Ségio Cabral e por Rosa Maria de Araújo, com as saudosas marchinhas de carnaval.

Eu amo marchinha. Sou nostálgica até o talo e com música não seria diferente.Apesar das politicamente incorretas como Cabeleira do Zezé e O teu cabelo não nega, eu adoro e canto todas, apesar do preconceito imbuído em algumas.

Mesmo não vendo, eu sei que esse baú musical [que é uma homenagem a João de Barro, o Braguinha, que faria 100 anos em março deste ano] abalou Bangu e Brasília.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Vocês que fazem parte dessa massa...

Na noite de 16 de setembro de 2007, chegam os vários. São homens, mulheres, jovens e idosos, todos com a marca do campo no corpo: a enxada cria calos nas mãos e queimaduras na pele. O amor a terra fez com que eles estivessem lá, no Instituto Nacional de Reforma Agrária, no calor típico de quase primavera, na secura mais típica ainda do cerrado.

A greve dos servidores do INCRA só atrapalha a ida à capital federal. Tudo fica parado e a invasão do prédio se torna incoerente. Os militantes do Movimento Sem-Terra se misturam aos funcionários públicos grevistas que tiveram seus pontos cortados. O governo atual, que é esquerda e representa os trabalhadores, andou esquecendo os seus companheiros.

Converso com um homem de blusa preta, sapato lustroso e ouro nos dentes e no pulso [herança do garimpo]; parece ser líder de uns dos acampamentos. Se mostra mais esclarecido e político do que os outros, e me conta que já deu palestras na Europa e na América do Norte.

O homem com traços do Norte me conta sobre sua esperança: quer ter uma terra melhor, sem seca ou cascalho e quer viver em paz, ao lado da sua mãe que ficou lá longe do Planalto Central.

Pergunto sobre a mídia. Ele diz que atrapalhamos muito o movimento, não todos dos meios de comunicação, mas alguns. A mídia acaba causando tumulto e confusão em situações que deveriam ser pacíficas. Admito um olhar burguês sobre o MST, da mesma maneira que admito meu novo olhar admirado: são gente com tanta fé, com tanta luta, mas nem todos também.

Lembro de uns dos líderes, de família boa, latifundiária lá do Nordeste. Minhas críticas sobre o movimento eram justamente nessa tecla: quem já tem terra e fica querendo mais e quem não tem, se ferra mais. Tem um montão de gente cansada de se ferrar.

Peço para bater umas fotos e homem me leva a alguns amigos dele. Bato uma foto aqui, outra ali, e de repente, as pessoas começam a se revelar, de pouco em pouco na minha máquina. O menino do picolé, o outro almoçando; as irmãs com o olhar cansado [não mais triste]; a senhora simples, com poucos dentes e com muita simpatia. Tem um bebê dormindo naquele sol quente de 11 horas; é a minha última foto. Lembro do Zé Ramalho dizendo “Vocês que fazem parte dessa massa”, e passo a acreditar que eles são muito mais brasileiros que a gente [classe média, intelectuatoíde, brasiliense].

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Festa no interior

Ontem, no Fantástico, no quadro Profissão Repórter, meus colegas focas foram cobrir o julgamento de Renan Calheiros. Renan foi absolvido. Carreatas e fogos de artifício comemoraram o feito em Murici.

O município de Alagoas, recheado de coronelismo, é a prova da ignorância desse meu Brasil.

A jornalista Mônica Veloso, pivô do caos no Senado, foi arredia quanto à entrevista. Pois, segundo ela, ficou muito exposta nos últimos 120 dias.

Aí fico pensando, onde o país vai parar: é político fazendo a farra do boi, é o povo imbuído de paternalismo até o último fio de cabelo, é jornalista na Playboy.

E Murici tá lá, pegando fogo de tanta alegria, que não cabe em si.

sábado, 15 de setembro de 2007

Pirataria política

Essa semana foi dolorosa para os brasileiros. Renan Calheiros, o mais novo picareta da área, foi absolvido com 40 votos. 35 foram pela cassação e 6 ficaram em cima do muro.

Se esses seis votos tivessem tido o bom senso, atípico na política brasileira, a coisa poderia ter sido diferente. Renan, mais um péssimo exemplo, teria sido cassado e nós ainda acreditaríamos em justiça nesse país, mais não, a corja corrupta, cheia de podres, é como uma teia de aranha: todo mundo está ligado a todos, cheio de dívidas, pendências e acusações. Se um cair, todos caem.

Essa semana saiu a informação que a capital federal também é a capital da pirataria. O jornalista conclui “ó que vergonha”. E eu digo que vergonha é ter o maior custo de vida do país e assistir de camarote a impunidade no Congresso.

Comprar O Diabo veste Prada por 5 reais não dá em nada. Da mesma maneira que as lavagens de dinheiro, as fraudes no painel do Senado e assim vai.

Ai que vergonha dessa pirataria política.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Talento imortal [ou Personagem da Semana]

"Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de 'ilustre', de 'insigne', de 'formidável', qualquer borra-botas."
Nelson Rodrigues



À sombras das chuteiras imortais – crônicas de futebol. Autor: Nelson Rodrigues. Anotado?

Se for a 4ª reimpressão é um livro verde, com uma faixa vermelha na capa. São quase 200 páginas da maestria do mesmo autor de Vestido de Noiva.

São 70 crônicas selecionadas pelo ícone lítero-musical Ruy Castro. Afinal, nem só de Bossa-Nova vivem os autores.Pois bem, das 70, 31 foram publicadas originalmente na revista Manchete. Li justamente essas e desconfio que são as melhores do livro.

Flamengo Sessentão abre o livro e faz parte das 20 temáticas rubro-negras da obra. Citações como essas arrepiam qualquer flamenguista atual, fervoroso, em busca de zonas menos baixas :

“Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: - quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.” [Manchete Esportiva, 26/11/1955]

É de chorar.

Outras como essas, revelam um pouco do brasileiro, tão sempre bem descrito:

“Ora, nenhum brasileiro consegue ser nada, no futebol ou fora dele, sem a sua medalhinha de pescoço, sem os seus santos, as suas promessas e, numa palavra, sem o seu Deus pessoal e intransferível." [Manchete Esportiva, 4/1/1958]

"O brasileiro gosta muito de ignorar as próprias virtudes e exaltar as próprias deficiências, numa inversão do chamado ufanismo. Sim, amigos - somos uns narcisos às avessas, que cospem na própria imagem" [Manchete Esportiva, 26/1/1957]

Mas fecho meus comentários de hoje com a primeira cônica em que Nelson chamou Pelé de Rei:

“Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etípoe. Racialmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis.” [Manchete Esportiva, 8/3/1958]

No mínimo irônico, por assim dizer. Esse rei, metafísico em campo, ficou pra trás, deixando lugar prum rei da não-consciência negra, ícone do misticismo da ausência de preconceito racial no Brasil.

Algumas coisas mudam, outras não. O talento de Nelson Rodrigues é para sempre.

sábado, 8 de setembro de 2007

Procuram-se Intelectuais Negros

Esses dias estava lendo Florestan Fernandes: “Significado do Protesto Negro”. Forte o título né? Mais cabuloso ainda o autor. Chato até o talo para qualquer negro.

Tenho mil amigos das Ciências Sociais, e muitos deles adoram uma etnicidade e uns estudos por esse ramo; a galera do Movimento Negro detesta eles. O argumento é “Porque não estudar uma família de classe média branca da Asa Norte?”. A delicadeza de estudar uma etnia é que sem querer, quem pesquisa, acaba dando voz ao povo, e no caso do povo preto, quem disse que eles não possuem voz?

Entendo ambos os lados, mas creio que estudos de todas as cores sobre todos devem continuar surgindo. Muitos serão erros, outros acertos, e no meio de tudo isso podemos construir uma nova visão do homem. (uhhh falei bonito).

Mas então, melhor seria se melhor fosse como diria o poeta. Quero dizer que bom mesmo era ter vários negros falando negros, estudando seu povo e gritando com maior veracidade suas características. O lance é: onde estão esses intelectuais negros? Eles são empregados, desempregados, são moradores de periferia tentando superar o racismo.

Somente 8% da população negra conclui o Ensino Superior; esse número mais que triplica quando se trata da população branca. E ainda me questionam o porquê das cotas.

Florestan fala bonito à beça, mas falta algo. Ele fala bem pros brancos que não sabem o que é ser perseguido em shopping center, ou ter sua expectativa de vida reduzida por problemas psico-sociais. Ele não diz novidade alguma pra pretoria.

É a Consciência Negra que vai fazer meu povo mais forte: Intelectuais Negros do mundo uniu-vos!

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Independência ou morte!

Em 1822, o Brasil se tornou independente, bem, em partes. A gente já conhece de cor aquela história de ser pau mandado de Portugal, depois da Inglaterra e depois de qualquer país mais rico que a gente. Essa data só serve pra ilustrar livros de história e botar um feriado em setembro.

Pois é, dia 7 serviu pra inspirar aquela galera “pra frentex”, em fevereiro de 1922. Os artistas modernistas queriam questionar se o Brasil era realmente independente - claro, não era – mas ao menos criou um movimento bem legal que revelou nomes incríveis como Tarsila do Amaral, Anita Mafalti e Oswald de Andrade. O Oswald, que tem o mesmo sobrenome do companheiro de luta, Mário, uma das grandes cabeças do Modernismo, é um cara incrível, que pouquíssimos brasileiros conhecem. Quem gosta de Tropicalismo, sabe que foram seus integrantes que tentaram reavivar Oswald com a peça O Rei da Vela, mas isso é uma outra história....

Voltando... Hoje é dia 7 de setembro de 2007, e em Brasília são 9 horas da manhã. A Esplanada dos Ministérios é um mar de gente, e eu estou lá, perdida, batendo umas fotos.

Crianças, várias, com bandeiras, blusas, bonés – aquele tanto de coisa cheirando a poeira de Copa do Mundo passada. Alguns adultos usam seus acessórios patrióticos também. Militares, civis, tudo lá orgulhosos de serem brasileiros, insistentes e persistentes, ao menos hoje.

Fiquei pensando de onde tiram tanta disposição pra ver esse desfile, nesse Sol quente, nessa secura sem fim. Eu, em 20 anos, me recusei veementemente em ir a esses desfiles; minha mãe acha lindo bater palma pra militar e ver os aviões fazendo “vrumm, trumm...ahhh” – segundo a mesma -, ela é ingênua demais eu acho. Tão ingênua quanto aqueles milhares na capital e no país. Quantas pessoas foram comemorar a liberdade dessa pátria presa? Desse país pobre? Desses líderes de meia-tigela?

Somos um povo fervoroso demais: Brasil bate sem dó todo dia na nossa cara, mas de noite nos contempla na certeza de um não-terremoto, tsunami, vulcão e etc.. Nos apavora com suas balas perdidas, com sua fome, com seu anafalbetismo; mas nos consola com seu carnaval, com seus santos e com esse sorriso, que só tem que vive aqui.

Mas a fé faz parte do contexto e tem um pessoal lá, balançando bandeirinha e se emocionando com os aviões dando rasante da Catedral. Eu quis chorar vendo aquele povo tão feliz. Talvez estejam comemorando a luta de permanecer. Mas é duro de esquecer :são 185 anos de prisão, com vista pro mar.

domingo, 2 de setembro de 2007

Trançando idéias

"Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Cê ri da minha pele
Você ri do meu sorriso"

Meus finais de semana andam bastante produtivos....A cada um que chega ocorrem novas percepções diferentes do mundo; desconfio ainda ser o Fotojornalismo.

Ontem, voltei a ser loira... haha, quem não me conhece, pensa até que pintei minhas madeixas, mas não, fiz minhas trancinhas com aplique loiro, e tá legal à beça.

Enquanto fiquei longas 5 horas sentada esperando o tal penteado, percebi coisas bacanas ao meu redor. As mulheres trançando e destrançando cabelos loiros, pretos, vermelhos; outras relaxando os fios na tentativa de permanecer com os cachos com menos volume, por causa dessa sociedade careta, inacessível aos blacks power autênticos, o menininho fazendo o novo corte; o cara que fez do salão seu divã, e de seu cabeleleiro terapeuta.

Zeca Baleiro diz que no salão de beleza é o lugar que possui menos beleza; ele não fala dos salões afro. Eles representam uma maneira de resistência ao mundo branco opressor; são pessoas de diferentes classes que se unem pela etnia que têm, pela pele preta que carregam. O preconceito é racial, não social como a mídia diz. Preconceito, primeiro é contra preto, depois contra pobre. A cor da pele é o fator-diferenciador nesse Brasil cheio de mitos.

Pois bem, naquele salão vi tanta coisa bonita, tanta gente preta, que pensei em bater umas fotos lá depois. Acho que é uma pauta bem bacana.

"Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Tá todo mundo baratinado
Também querem enrolar"

domingo, 26 de agosto de 2007

Do outro lado

Há menos de um mês estudo Fotojornalismo, uma matéria incrível que caiu do céu. Minha primeira pauta foi “Trânsito”, aparentemente chata, mas tão reflexiva quanto as seguintes: “Invasão de área pública” e “Atividades em semáforos”.

Nós, tipicamente prosaicos, não sabemos enxergar; a gente vê, mas não reflete. Não pensa que estacionar do lado da rampa vai atrapalhar um deficiente físico, não pensa no bar que freqüenta que atrapalha os passantes ou nas pessoas incríveis que existem ali, do outro lado.

Na última atividade realizada, bati uma série de fotos de pessoas pedindo, vendendo, etc. em semáforos. Tenho umas lindas, de uma doce menina que não me recordo o nome, que não chega aos sete anos e que torço para ter um futuro melhor que o presente. Mas a experiência inesquecível que tive foi com uma senhora de 75 anos e com histórias incríveis.

O nome dela é Raimunda, a mineira que mora em Samambaia, dona de uma pele preta contrastante aos seus olhos verdes. A mulher que pedia uns trocados para comprar arroz e feijão, me deu 30 minutos a mais na vida.

Ela recusou ser fotografada. Eu sentei ao lado dela e comecei a perguntar de sua vida, não sei porquê, um instinto de ouvinte me acometeu naquele instante; e era só aquilo que a senhora, homônima da minha avó precisava, ser ouvida.

Aquela senhora me disse sobre sua operação de vesícula que não sai, mas que precisa sair para possibilitar o retorno ao seu município mineiro de origem. Falou dos seus 5 filhos, 4 mulheres e 1 bendito fruto que saiu de casa tem 12 anos e nunca mais voltou. Me mostrou a 3x4 de sua neta e relembrou que já é bisavó, de uma menina de 3 meses.

Mas o que mais me doeu foi saber dos desejos da senhora que não se acha mais bonita, que adorava dançar quando nova, então possuidora de antigas tranças até o fim das costas. A mulher forte, com casca de rugas, ganhou marcas eternas ao sair da escola e ir para roça, de segunda a sexta, para nos finais de semana lavar roupa pra fora. A linda senhora que me deu meia hora ao invés de retirá-la só queria o dom das letras, esse aqui, que me permite contar e ser ouvida sem a oralidade.

Foi sentada num meio-fio que pude ver a vida assim, do outro lado.

domingo, 19 de agosto de 2007

Mais uma lição

Hoje, acabaram os Jogos Parapan-Americanos. Sem o mesmo alarde e apoio do antecessor Pan, os nossos atletas especiais brilharam muito, muito mais que se poderia imaginar.

Eu mesma vi pouquíssimo dos jogos, mas do pouco que vi me comovi, como os tenistas cadeirantes, um brasileiro, outro argentino, se abraçando e relembrando que o esporte é unificador, não segregador. Ou as crianças gritando fervorosamente o nome de Clodoaldo Silva. As lágrimas do nadador Adrano Lima é a prova de superação desses super-homens e super-mulheres.

Pela primeira vez líder no quadro me medalhas, o Brasil fechou com 228 no total, não dando a mínima chance para os Estados Unidos e México com suas 117. Foram 83 de ouro, 68 de prata e 77 de bronze. Foram 1.300 atletas dizendo o quanto somos ignorantes ao não construir passarelas, calçadas, ônibus e etc. ; ou não dando apoio a escolas para deficientes auditivos ou visuais...ou em resumo, não respeitando o próximo, esquecendo que eles também são brasileiros.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A CASA

"Os sonhos não encontram os respectivos donos quando homem e mulher dormitam entrelaçados."
Mia Couto em Terra Sonâmbula.


Eu me perguntava o que fazia ali, repetindo para mim mesma que quem vive de passado é museu, e era exatamente isso que eu vivia. Aquela casa era um museu de amargas lembranças rememoradas melancolicamente.

Já na porta podia lembrar de cada sorriso que ele emitia ao me ver; aqueles abraços com gosto de saudade que me levava ao sofá, cantinho onde eu pude ver pela primeira vez o olhar apaixonado dele.

A mesa da cozinha e o nosso pão compatilhado; a mesa da sala e o nosso prazer esparramado.Era cruel demais respirar aquela poeira de que já havia me curado.
A constatação mais indigesta era aquela cama, que permanecia ali, arrumada do mesmo jeito, tentando esconder como os lençóis já tinham sido usados, revirados, castigados.

Eu não me via ali, pois, aquele quarto, com paredes verde esperança, nunca foi meu. Nem sua cama marcada de medos e desejos, muito menos seus sonhos e sonos, compartilhados com uma outra, cujo cheiro ainda exalava, me nauseando.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Dreamer

Brasília, quase seis horas da tarde.
Esplanada dos Ministérios. Um lindo pôr-do-sol emoldura o Congresso Nacional.

Do Palácio do Itamaraty se vê gente, muita gente. São as passetas a favor e contra o aborto. Eu ouço gritos, protestos, músicas. Não posso descer. A burocracia não me permite.

Vejo a revolução pela janela.

A revolução não existe.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Acontece

Quinta-feira de final de outubro, eram uns míseros dois, quase três meses para mim, cinco, seis para ele. Combinamos um bar, sempre o de sempre, porque bar é a democracia que funciona: quem bebe bebe, quem não bebe, não bebe. A gente bebia e muito.

Além da vasta apreciação pelo etílico, tínhamos outra coisa em comum: a dor. Costumava dizer que a dor era o que nos unia; ambos tinham perdido um amor, seja pelo desgaste, seja pela precocidade, não importava, tanto fazia, ainda era dor, ainda estava exposta, ainda doía.


Chega a menina com nome de flor:"Oi, tudo bom? Blábláblá, posso sentar aqui com vocês, enquanto meu amigo não chega?" Claro, bar é democracia, lembra? Se conhece, pode chegar chegando, nem precisa ser amigo. Em falar em amigo, os amigos dela chegam: um desenhista com uma cara peculiar e uma quase atriz, que me lembrava uma menina das Letras; gente boa até, até começar a chover.


Eu, já alcoolizada, me lembrei que tinha prometido não beber muito, era dia de semana ainda.... promessa desfeita. Subia as escadas cambaleante, conversava com outras na fila do banheiro, afinal, todo banheiro feminino de bar que se preze deve haver fila - assim surgem assuntos e reclamações. Lá na fila me veio umas lembranças, olhei pro relógio e pensei, "Ele deve estar acordando a essa hora". Ele tinha partido a pouco tempo pro estrangeiro, queria achar um rumo na vida e foi se perder. Há um mês não tinha notícias dele, deixei de procurar, se a saudade tivesse que ficar que ficasse muda.


Volta do banheiro – alívio- a chuva começa a cair; claro, o verão se aproximava e aquele clima maluco da cidade de chove-sol escandante-chove tinha chegado; todos para dentro do bar. Ficamos de pé, com um engradado quase cheio do nosso lado. A menina com nome de flor e seus amigos começam a cantar: Cartola, Jorge Ben...Eu e meu amigo cantamos algumas, bebemos outras e bem, chega o momento de ir.


Ainda chove, um pé d'água desaba e o sono vem sutilmente, acelerando a partida. Impossível enxergar, melhor parar o carro. "Posso parar num lugar especial?" Sim, meu velho companheiro respondeu. Parei o carro em uma dessas entrequadras de Lúcio Costa e comecei a contar o início do fim. Ele me retornou com lembranças suas, do seu primeiro beijo com ela e de outras recordações que insistiam em ficar. Aí, me perguntou se ela já havia arranjo outro. Claro que não, não é assim que se tira alguém da sua vida, falei. E eu fazia eternas reclamações da não-saudade que, o agora estrangeiro, sentia. Não choramos dessa vez, não foi necessário, o céu fazia isso por nós. Olhava no rosto dele e a chuva, latente no vidro, se refletia lá; era como se eu pudesse ver a alma dele chorando.


Minha mãe costumava dizer que chuvas eram bênçãos e eu tentava acreditar nisso sempre. Naquele mesmo dia da tromba d´água eu tinha visto dois arcos-íris, e também tentei acreditar neles. Acreditar que era um sinal de sorte, bons presságios.


Depois de muita chuva, cheguei em casa e dormi, pesado com um quê de álcool; por volta das cinco da manhã acordei assustada, me lembrando de todo o papo do carro, não consegui mais dormir. Lembrei da minha dor e da dor alheia, da minha saudade e da saudade dos outros; pensei como tanta gente pode estar tão perto e tão longe. Talvez, subitamente, uns anjos me acordaram, tentando dizer que a chuva, os arco-íris, que tudo eram sinais, até mesmo os adjacentes que surgiram na mesa do bar: o chato desenhista em cima de mim ou quase atriz em cima do meu amigo. Sinais para manter a esperança, para ter fé no tempo, ou para simplesmente não parar de beber, mesmo quando a chuva cai.

domingo, 12 de agosto de 2007

Uma questão de fé

Ontem foi dia de Santa Clara. "Santa Clara clariai"!

É interessante pensar na fé e como ela é construída. Todo mundo tem fé; todo mundo acredita em algo, nem que seja um pouco. Acredita em Deus, nos Orixás, no horóscopo ou no seu time de futebol.

Ontem rezei pra Santa Clara clariar. Será que na vida a gente aprende a ter fé?

Disse a um amigo meu pra rezar também, pra pedir coisas boas e etc.; ele me disse que não sabia rezar. Mas desde quando se aprende? Ele argumentou que eu fui criada assim, assim em meio de rezas, no caso, do mundo católico, e que ele nunca soube o que era isso. Talvez se aprenda a acreditar no mundo "sobrenatural".

Eu aprendi a acreditar em tudo, o que acaba fazendo aumentar a fé, essa esperança sem fim em dias melhores.

Não gosto muito de missas, acho formal, mas mesmo assim, por Santa Clara fui a uma, por vontade própria o que não ocorria há uns cinco anos. A missa, a vela acesa, o santinho que está carteira, assim como a medalhinha que anda na bolsa, são símbolos somente, mas importantes para criar uma energia, capaz de atrair o bem.

Mesmo sem santos, anjos ou o que for a idéia mais importante é essa mesmo de atrair o bem, desejá-lo... E deixar rancores, mágoas e dores pra trás. A fé pode existir mesmo depois da fase da socialização, a fé pode ser um monte de coisa. Fé é simplesmente continuar a luta.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Conexão Brasília-Paris

Paris tem anos de história a mais do que o Brasília. A centenária européia também deixa na poeira, no quesito “revolução”, a moiçola do cerrado.

O povo aqui no Brasil em geral não sabe protestar, não como os europeus, que por um motivo inexplicável reclama de tudo e consegue tudo. Talvez sejam esses séculos que nos separam fisicamente e metafisicamente.

No Rio e em São Paulo a galera é mais mobilizada e arquitetura do local facilita muito: ruas estreitas e escassas que levam a um mesmo lugar. Brasília e suas imensas avenidas, cheia de atalhos, impedem grandes manifestações com grandes abalos. Trancar a rodoviária é uma boa, mas faltam voluntários.

Todo mundo reclama, mas ninguém bota a cara a tapa. Os brasilieros estão menos dispostos a apanhar do que os franceses. A cadeia francesa deve ser bem menos rock'n'roll que a brasileira.

A corrupção existe em todo lugar. Mas aqui ela parece tão mais...maior. A gente não grita nossos direitos porque ninguém ouve. “A gente é muita gente”. E é mesmo.

Um amigo meu francês veio pro Brasil, ele tá amando; do mesmo jeito que amei Paris. Quis chorar ao ver o Sena; ele ficou desnorteado com a Esplanada.

Falávamos dos movimentos revolucionários, brasilienses de preferência, cheios de filinhos de papai que lutam pelo direito de ir e vir, por educação, e outros mais. Tem gente que nunca andou de ônibus e luta pelas passagens baixas. Ao menos lutam. E não são todos. Mas muitos.

Falamos da utopia que eles carregam e de sua falta de organização; de sua semelhança com Os Sonhadores de Bertoluccie e do futuro/ função desses movimentos. Me chocou a percepção desse francês, que em menos de uma semana, vivendo ali, do lado da “revolução”, sentiu a existência de mais um movimento burguês que luta (?!) pelo povo.

Mas a esperança continua! Apesar de ser a elite em ação, é a elite em ação. É gente fazendo mais, buscando lutas um pouquinho mais igualitárias. É gente sonhando.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

piauí e a escrita

Hoje é quarta-feira, passam das nove e meia da noite, tô morrendo de sono e tento escrever um texto. Eu e essa minha promessa idiota de escrever todo dia. Sou péssima com promessas – tendo a não cumprir (nota-se).

Já escrevi algo para publicar hoje. É um escrito antigo, mas bem bacana.Vou publicar depois.

Leio minha nova piauí com um remorso por não ter acabado a de julho... Capinha maneira a desse mês, toda revolucionária e super-cool. Mania insistente essa de colocar ponto final em tudo, bem típico da revista.

Quero escrever sobre a revista. De PIMBA muitos dizem. [não sabe o que é PIMBA? Vá a Universidade Pública mais próxima, ao CCBB ou ao Cine Brasília em dia de festival. Vai ser auto-explicativo, pode acreditar].

Pois é, voltando... a piauí tem quase um ano [está na número 11] e foi lançada na FLIP do ano passado [se não souber o que é FLIP pode desistir de todo o texto]. Tinha o projeto inicial de durar dois anos no mercado. A seção de cartas nos revela um futuro bem mais promissor.

A revista, que é mensal, é bem popular no meio jornalístico e no meio amigos-de-jornalista. Alguns dos meus devem estar de saco cheio da frase “Na piauí desse mês tem uma matéria...”.

Tem de tudo lá. Muita coisa deslocada e muita coisa boa. Minhas seções prediletas são “esquina” e “horóscopo”. O primeiro conta uns casos bem surreais, meio difíceis de acreditar; o segundo não diz nada, como todos os outros horóscopos que existem por aí.

Das histórias desse mês, preferi as que abordam a arte da cola e a lista telefônica por apelidos. Assuntos bem úteis para a mesa do bar.

Pronto! Texto do dia escrito, posso dormir. Engraçado, lembrei agora de um texto da piauí que ensina como escrever sabe? Aí, o Steve Martin diz que...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Melancólicas melodias

Fico pensando no porquê, alguns de nós, cultivamos a tristeza. Lembro-me de um tempo que me alegrava ouvindo melancólicas melodias...

Hoje em dia não ouço mais; pode ser falta de tempo e/ou saco. Creio que em determinado tempo a ficha caiu e percebi que não preciso cultivá-la, ela já existe e está muito bem solidificada.

Existe tristeza na solidão, na doença, na dúvida, na maldade, na mediocridade... Assim, prefiro, hoje, escutar coisas alegres, gritar alto a felicidade, mesmo capenga, para ficar no lugar dessas coisas ruins.

Samba por excelência, amor rimando com dor, no máximo, até Chico Buarque, e que a saudade seja doce e que a tristeza seja enterrada junto com memórias amargas.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Adeus

Se dentro do adeus há Deus, ele não deve ser de todo ruim
Só soa como triste fim
De amores de amigos, de vidas
Recheados de indas e vindas.

Se dentro do adeus há Deus, ele pode ser justamente a falta de fé
Pode ser o desespero, o andar a pé
A chuva na hora marcada, a contradição
A lágrima doída, um reticente não.

Se dentro do adeus há Deus
Ele ecoa nas madrugadas de fim
Ele dói aos meus e aos seus
Mas larga a mão do não e vai crer no sim.

domingo, 5 de agosto de 2007

Dica do domingo

Domingo, pé de cachimbo, em Brasília, dia oficial de churrascos onde as meninas vão de calça jeans.

Nessa minha breve passagem recomendo a leitura de Mrs. Dalloway. Nem acabei de ler, mas recomendo só por ser Virginia Woolf.

Tenso e Denso.

Quem quiser complementar veja As Horas. Lindo.

Bom domingo.

sábado, 4 de agosto de 2007

Nostalgia

Es rara, ¿no?... La nostalgia...Porque tener nostalgia en si no es malo. Eso significa que te han pasado cosas buenas y las echas de menos. Yo, por ejemplo, no tengo nostalgia de nada, porque nunca me ha pasado nada tan bueno para echarlo de menos, eso si que es una putada ...

¿Se puede tener nostalagia de algo que aun no te ha pasado?... Porque a mi a veces me pasa, me pasa que me imagino como van a ser las cosas y luego me da pena cuando me doy cuenta de que aún no han pasado y que quizás no pasen nunca,y entonces me entra nostalgia y me pongo super triste...

Pero es como una trizteza a cuenta, como la fianza de cuando alquilas una casa, pero con la tristeza, que la pones por delante porque, total, sabes que la vas a acabar utilizando igual...

É do mesmo filme que falei ontem, Princesas. Achei um vídeo super-bacana [ http://www.youtube.com/watch?v=oCOZjka7v-s ] que reúne os melhores momentos, pra mim ao menos, aí, desde então tô pirando com essas citações.

Fiquei pensando nessa onda de nostalgia, e creio que sou exatamente assim, de sentir antes de viver, de não ter vivido e sentir falta... de sentir uma tristeza profunda....

Quantos de nós somos assim? Quantos de nós assumimos isso? Até que ponto é saudável sentir essas coisas, metafísicas demais?

Fica aberta a questão.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Coincidências

Há dois meses atrás, exatos, 03 de junho, falava da tal película Princesas.

O pensamento

- ¿Sabías qué el mar aquí es muy importante? Donde más...

- No hay mar aquí.

- Por eso. Es donde más se piensa en él. Las cosas no son importantes porque existan. Son importantes si se piensa en ellas. Como tu hijo que no está pero piensas en él cada día. ¿A que sí? Por eso existe. Porque piensas en él. Mí madre lo dice siempre: que existimos porque alguien piensa en nosotros y no al revés. Dice que lo dijo no se quien. Pero yo creo que se lo inventa ella. Se lo inventa todo según le convenga. Yo en realidad... No creo mucho en dios. Ni soy muy, muy religiosa, ni nada. Mi madre sí lo es, yo no. Lo único, si he pensado ¿no? Y creo que... Bueno, que lo peor no, no sería que no hubiera nada después de la muerte. Lo peor sería que hubiera otra vida, que fuera como esta.

Essa citação acima é de um filme espanhol chamado Princesas. É o um dos meus trechos prediletos.

Penso na importância do pensamento.
Penso se devo continuar pensando, afinal, se penso, ele se torna importante...
Penso na força desse pensamento e na duração que estipulo para ele.

Pensemos coisas boas, então, que se permaneçam importantes...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Simplicidade

A vida é mais simples do que aparenta. Eu confesso que direto reclamo dela, que sou má agradecida muitas vezes e que estou sim de barriga cheia. Mas ultimamente evito fazer isso. De um tempo pra cá, nessa onda de Energias Positivas, Lei da Atração, entre outros, tento levar tudo numa boa... Por iso começei a reparar os sutis acontecimentos que estão em minha volta...

Hoje, caminhando, o dia tava tão lindo, era a "sutileza do amanhecer" [apesar das 10 da man,hã...], era a grama meio verde, meio seca... Eram as pessoas desejando "BOM DIA", como pouco acontece...Eram andorinhas e pardais brincando de pega-pega, e os passantes no meio...

É tanta coisa boa e simples que nem percebemos... O café quente, o sorriso do lado, o abraço inesperado.

Que essa quarta-feira seja um bom dia de coisas simples, e completas.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Samba, suor e Monobloco

Ontem, Brasília teve a alegria de receber o Monobloco, em mais uma edição de Fenac no Parque [nesse caso, no museu].

A localidade democratizou um pouquinho mais o show, que foi entre o Museu da República e a Catedral, pertinho da Rodoviária. O horário deu uma colaborada também: 17 horas [mesmo sabendo que nunca começa na hora].

Ellen Oléria com seu balanço black abriu o espetáculo que, além do bloco carioca, teve a participação especial da big band local Móveis Coloniais de Acaju. [Nota fofoqueira: Lucas Santanna que arrasou no último Som Brasil – especial Noel Rosa, estava lá, junto com o povão, curtindo o samba].

Foram duas horas de muita batucada e energia. Tim Maia, marchinhas de Carnaval e funk embalaram a noite dominical, regada à lua cheia, que tinha tudo pra ser morgada.

Mesmo sem tocar o clássico samba enredo “A minha alegria atravessou o mar...”, o Monobloco animou os brasilienses e trouxe um pouquinho do carnaval e do Rio de Janeiro pra cidade. E o melhor: foi de graça.

domingo, 29 de julho de 2007

Fim do PAN

Domingo, 29 de julho de 2007, o último dia dos XV Jogos Pan-Americanos.

Pensei muito sobre o que escrever aqui, é muito assunto sobre o PAN, é a falta de tempo, é o Monobloco me esperando na Esplanada, mas vamos lá, às pequenas e divagações sobre o tal evento.

Escreveria sobre como o Rio de Janeiro me surpreendeu e que eu esperava o pior. É escreveria, pois o pior aconteceu e está ainda lá, latejante, sem o Brasil enxergar.

Mais de mil quilômetros me separam do Rio, mas cariocas que estão lá comentaram o caos em que se encontra a cidade. “Foram 40 mortos no Morro do Alemão”, um diz. “Estamos em Estado de Sítio”, outro completa. E o PAN atrasou duas horas e quase ninguém sabe, por que quase ninguém viu? Em nenhum momento vi a televisão [esse meio de comunicação gritando sem parar, que está em maioria esmagadora nos lares brasileiros] falar que incidentes na cidade maravilhosa... E para piorar no último dia 17 sofremos com mais um desastre aéreo. Mais de 200 mortos em um piscar de olhos. Nos olhos televisivos que não revelam as vítimas de uma política sem rumo e sem noção.

A grande mídia não mostra também as medalhas quebradas, sensíveis, de acrílico ou as desistências dos voluntários, motivadas pela péssima alimentação e assistência. Um blog que vai muito mais a fundo mostra esse outro lado da competição: http://averdadedopan2007.blogspot.com/.

Apesar dos percalços do caminho, demos uma salva de palmas para nossos atletas brasileiros, pelo esforço, fé e dedicação. Ouvi muito já que falta garra neles, que perdemos por pouco, que foi vacilo... Mas é bom lembrar da super preparação física/psicológica dos norte-americanos e cubanos, que mostraram resultados com as 97 e 59 medalhas de ouro, respectivamente. E mesmo com toda falta de apoio, patrocínio e outros, conseguimos 161 medalhas no total, atrás somente dos EUA, com 237.

Valeu e valeu muito. Valeram as oito medalhas do Thiago Pereira, o choro e a ascensão da pequena Jade e os incríveis gols da Marta no Maracanã. Valeu demais nosso primeiro ouro vir com o negro.

Mas que as vaias que ecoaram no Maracanã permaneçam para todas as autoridades que mascaram as lágrimas e dores de atletas, que lutam não por medalhas de ouro, e sim por sobrevivência.

sábado, 28 de julho de 2007

Um sambista na madrugada

Mais uma mancada da Globo. Entra ano, sai ano, críticas aumentam e ela não desiste.

A emissora dos Marinho tem o péssimo hábito de colocar os programas bons em horários impossíveis. Serginho Groisman é sábado às 7h da manhã ou já nas madrugadas de domingo. Quem está acordado ou em casa essa hora? Mas o besteirol continua firme e forte, às 2h da tarde...

Ontem fui dormir às três horas da manhã depois de ver o SOM BRASIL especial NOEL ROSA. Noel merece esse esforço. Relembrar o sambista, autor de mais de 300 sambas merece sempre; merece minha presença em casa em uma sexta a noite. Agora quem estava sexta à noite, de férias, em casa, para esperar passar às duas da manhã [e durar 50 minutos] o tal programa.

Eu já sabia que ia ser assim. Na primeira edição do programa, que homenageava Vinícius de Moraes foi do mesmo jeito, mas ao menos, foi uma horinha mais cedo. A segunda, o destaque era Caetano Veloso; não posso falar nada, não vi. Cantor vivo a gente acaba deixando um pouco de lado...

Maria Rita, Marcos Sacramento, Orquestra Imperial e Lucas Santanna e Seleção Natural. Gente saída do forno [nem todos, e nem tão quentes assim] relembrando o compositor de Um Pierrot Apaixonado, morto há 70 anos.

Jornalista é fofoqueiro profissional, dizem muitos; e estudante de jornalismo é palpitero de carteirinha, outros. Daí, me sinto á vontade para proclamar algumas opiniões...

Maria Rita é uma boa cantora, gosto dela particularmente, mas sua participação ontem foi tão fraquinha... Cadê Bethânia, que no projeto inicial comandaria o tributo ao personagem da Vila Isabel? Três apitos e Último desejo ficam mais poéticos com a galera da velha guarda, não tem jeito. MPB-4 e Quarteto em Cy são tão mais...Noel, não? E Conversa de Botequim? Dóris Monteiro fez a melhor versão ao meu ver....

Mas vamos aos elogios. Marcos Sacramento que tá na estrada tem tempo e ainda é pouco conhecido no cenário candango [confesso que ouvi o nome dele pela primeira vez ano passado, em um projeto de Bossa Nova do CCBB] trouxe uma delicadeza contemporânea para Meu Barracão. Gostei e gostei muito.

Lucas Santanna e a tal da Seleção Natural são novíssimos pra mim. Nunca ouvi falar. Descobri via Google que eles tocam muito no Rio de Janeiro, lá pela Lapa. Lucas é baiano e sobrinho de Tom Zé. Bem que eu senti um batuque a mais em Com que roupa? e em Palpite Infeliz. E Filosofia ficou bem bacana, tão carnavalesca quanto a trupe da Orquestra Imperial.

Ahhh!!! Essa Orquestra é show! Thalma de Freitas cantando Não tem Tradução foi uma disputa acirrada com Nina Beker e a Fita Amarela. Nota 10 pras duas. Rodrigo Amarante e Jacobina não ficam atrás e deixam os brasilienses em uma expectativa bem maior para o show da banda carioca, dia 11 de agosto, no Setor de Clubes Sul.

Apesar da hora, de poucas pessoas terem visto valeu a pena demais cantar baixinho de madrugada [para não acordar ninguém] esses sambas do saudoso mestre Noel. Mas vai ficar devendo: Tarzan, De babado e Provei. Assim é até melhor. Mais repertório para um outro programa, quem sabe, mais popular.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A volta dos que não foram?!

Minha 40ª postagem [digite isso em extenso se puder]. Quase uma semana sem postar, graças ao meu serviço capenga de internet. Eles mudaram o cabo do meu prédio que não reconheceu o sinal da rede externa que tava dando pala também. A gente liga pra eles incansavelmente desde o dia 24. Pedimos abatimento da conta desses dias sem internet. "Temos que fazer valer nossos direitos", xaropou minha mãe, certíssima, diga-se. Brasileiros, em geral, não lutam pelos seus direitos, porque sabem que não adianta de nada. Quero ver a próxima fatura; ai deles se vier o mesmo preço....

Ser politicamente correto no Brasil não dá mesmo não. Esses dias no mercado, vi um açúcar que custava o dobro do preço. "Deve ser todo saudável, sustentável e bláblá", disse eu para mamis. Não deu outra. Aí, olhamos novamente o preço do outro açúcar e levamos o mais barato. No dia que os políticos pararem de nos roubar, vai sobrar mais grana pra comprar produtos saudáveis e bláblá. Aí vem gente reclamar que compramos tênis, cds e dvs e tudo mais piratas. A ética deve vir daquele trem no meio na Esplanada. Que ética né? O presidente da República é vaiado num Maracanã cheio, o senado transborda enrolação e corrupção, o cara que fraudou o painel é o governador da minha cidade...ahhh que ética!?

Esses dias que estive fora [?! e dentro daquele ar-condicionado chato] pensei em escrever sobre tanta coisa. Sobre o PAN que acaba domingo [aí eu juro que escrevo algo, se bem que ainda temos o Para-PAN...]; pensei em escrever sobre o ACM que morreu [e eu nem acredito], mas a notícia ficou velha e sem graça, aí deixei pra lá [além do quê muito baiano ia chiar se soubesse o que certos brasilienses brindaram no bar sexta-feira]; aí pensei em escrever qualquer coisa, mas a minha conexão doméstica não me permitiu. Podia ter postado lá do estágio, mas essa semana eu trabalhei [por incrível que pareça].

Arranjei o que escrever aqui, né Eduardo? Até sobre dor de barriga mesmo. Mas esses papos escatológicos vão ficar prum outro post.

domingo, 22 de julho de 2007

Férias

As férias são cruéis para os estudantes de jornalismo. A gente dá um tempo desses papos de Indústria Cultural, a nova asneira da Veja, ou a matéria bacana da piauí. Há dias ando numa falta de inspiração monstra e até pedi ajuda para um grande amigo meu [ver texto abaixo], mas ainda assim não possuo negritos para pôr aqui. Pensei na minha própria auto-censura também. Não escrevo várias coisas, pois elas podem parecer tão reais, que não quero ter que me explicar mais tarde. Esse é o perigo da verossimilhança. Às vezes não é mera coincidência não. Em uma semana volto pro meu curso e quem sabe assim me inspiro um pouco mais. Além de tudo, esses meus novos ares de repartição pública não inspiram muito não; é muita burocracia. Os textos devem ser leves para voarem para todos os cantos. Menos ar-condicionado e mais ação! Em busca de novos escritos...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Indigestão

Clarissa acordou sem inspiração naquela manhã, bem típica de estação, bem seca e bem fria. Ligou o computador, preparou um café quentinho e preto, ao contraste da branca xícara de porcelana chinesa de sua avó. Sua avó era uma mulher serena, marcada pelo tempo de uma maneira positiva, crescente; uma mulher que soube viver apesar das tempestades.

Samanta acorda com ressaca e mesmo assim sente-se bem hoje. Qualquer dia que se acorda com carícias correndo pelo seu corpo, que desperta com sede, mesmo cansado após uma noite de amor, é motivo para estar feliz. O café fraco e mais amargo do que o costume, desce macio como o rosto perfeito pelo seu ventre.

Clarissa deveria escrever mais um capítulo de seu livro onírico,...Onírico porque só ela acreditaria nele. Faltava coesão, coerência, afinco no desenvolvimento; mas a moça do cerrado, de pele branca, que nem a tal porcelana da xícara, insistia nos tais escritos, arrastados em mais uma manhã de agosto.

Essa manhã é como uma montagem de como deseja ser seus dias daqui para frente, sem mais desculpas e toques que só parecem sinceros após discussões. Samanta está cansada disso, cansada do corpo que deseja e que parece sempre mais ocupado com passado e prazos ao invés de seus desejos.

O telefone toca e é sua mãe; outra grande mulher que ensinou a Clarisse o que é ser de rocha por fora e cristal por dentro. "Não se deve mostrar as lágrimas, elas mancham em demasiado", diria a mãe, em algum momento. Combinaram um almoço, no mesmo restaurante de sempre, e com a comida de sempre.

Neste momento, enquanto a água cobre corpos que parecem apenas um em meio ao banho, ela pensa em como é bom chorar de prazer, como é perfeito deixar um corpo entrelaçado ao seu e dizer que ama e está apaixonada mesmo não estando. Ela sorri quando sente o orgasmo chegar ao mesmo tempo que o telefone toca.

Já na sobremesa - uma saborosa torta alemã - Samanta chega, acompanhada de sua nova namorada. Clarissa desaba. Percebe o ar apaixonado que contamina o local, sente os tais anjos tocarem cornetas ao ver as duas e engasga com um pedaço da torta. À francesa, a aspirante a escritora sai, e volta para mais um dos seus capítulos. "Indigestão", seria o nome dele.

Essa menina me abraça com tanta ternura que sinto que irei começar a chorar, simplesmente por me sentir amada, desejada, prioridade aos seus olhos. Seu beijo é quente e doce como uma sobremesa cara. Um sentimento que havia esquecido depois de tantos anos sendo o toque quente a olhares frios. Desejaria que fosse Clarissa o formigar destes toques, mas está feliz por não ser. Eu que preciso me sentir viva, isso é importante. Provavelmente Clarissa está mais feliz em meio a sua dor, escritores escrevem melhor assim, não é mesmo?

Texto de Maíra Brito e Eduardo Ferreira.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Paris, je t’aime!

Parece que Paris anda me perseguindo. Esses dias me deu uma saudade... Fiquei lembrando de mil coisas, aí um conhecido meu que mora lá veio pro Brasil, aí eu ganhei um lenço parisiense, aí....

Parece chique dizer isso mas nem é. Eu juntei uma grana durante dezessete anos da minha vida e consegui ir até a capital francesa. Sempre, inexplicavelmente sonhei com ela. Fiz francês quando pequena e cantava “Sur le pont d'Avignon” e me imaginava subindo a Torre Eiffel... Tem gente que acha Paris clichê, e é mesmo, que nem o Rio. Mas confesso que me emocionei bastante quando fui a Avignon e andei na tal ponte...

Paris é mais bela por suas singularidades. Suas pontes sobre o Sena, as iniciais de Napoleão incrustadas nelas, suas livrarias-sebos ao longo do rio...Ah, Paris! Vai muito mais além da tal torre, do museu com a Monalisa ou da igreja com os gárgulas...

Aquela cidade, pra mim, é comer chocolate na frente do rio Sena, é beber cerveja em saco de pão do lado da Sorbonne , é ver fogos em um trilho de trem abandonado ou simplesmente encarar um metrô cheio depois da festa da Bastilha, com direito à luzes da torre e música clássica.

A cidade luz é a simplicidade do caminhar pela Champs-Elysees, é o que está fora dos roteiros turísticos.

domingo, 15 de julho de 2007

A escrita

Se falarmos de escrita, teríamos que citar Proust, Flaubert e Barthes. Daí seria chato à beça. Nem todo mundo entende eles. São técnicos, especializados, detalhistas...

Mia Couto, em Terra Sonâmbula, foi tão simples que reproduzo seus escritos:


- O que andas a fazer com um caderno, escreves o quê?
- Nem sei, pai. Escrevo conforme vou sonhando.
- E alguém vai ler isso?
- Talvez.

- É bom assim: ensinar alguém a sonhar.

Críticas, elogios, asnneiras, profundidades, verdades ou mentiras, não importa, é escrita. Mia estava certo: se ela fizer sonhar já basta.

Bons sonhos.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Espelho, espelho meu

Quarta eu quis escrever, fiquei com preguiça. Quinta eu quis escrever também, mas a conexão não me permitiu. Não sei mais quando vou postar esse texto...

Quis escrever sobre beleza, mas sobre a minha beleza negra específica; gritar ao mundo o que é ser mulher negra em um país de maioria negra, em que seus habitantes têm vergonha de dizer a cor da sua pele.

O meu mundo é branco. Desde pequena, acordo e vou para alguma instituição de ensino onde a maioria vai ser branca: meus amigos, meus professores... A única identificação negra que possuo nesses lugares são seus funcionários.

Sou estudante de jornalismo, mas não leio jornal, não gosto, não conta nada de novo, por incrível que pareça. Só quem faz jornalismo sabe a besteira que são os jornais. Claro, não todos, muitos jornais, revistas, sites e afins se salvam no mar de asneiras publicadas diariamente; daí, só leio a galera que vai contra a maré.

Mas não importa os veículos, todos eles são brancos. Nas propagandas, nas matérias políticas, econômicas, sociais, culturais. Eu não me enxergo no meu país.

Reclamo bastante, mas muito mudou: o mundo negro se insere a cada dia mais nesse mundo (ironicamente) branco. Hoje existem revistas e outros mais, voltados aos negros, o que é muito importante.

Será que a população brasileira sabe a importância desses produtos?

Vou ilustrar com um exemplo como é necessário ter um espelho na mídia para sua auto-afirmação:

A Xuxa é que nem o Faustão, nunca vai desistir da TV
, assim, quando eu era pequena ela já habitava a telinha da Globo, com seus fartos cafés-da-manhã, com o Dengue, e o outro boneco lá e com suas paquitas. Tinha a Angélica, sua pinta e o SBT. Um pouco depois apareceu a Eliana, a música dos dedinhos e Melocoton. O que as três têm incomum? São loiras, claro! (Não cabe citar a Mara, afinal, ela era morena, mas é bom lembrar da Jaqueline que veio anos mais tarde).

Parece pequeno e discreto, mas a opressão midiática me afetou em cheio quando eu pensei que não poderia ser uma das paquitas. Parece um desabafo patético, mas para uma criança de sete, oito anos é muito. Um dia surgiu uma ajudante da Xuxa, que era morena, mas que em algum momento fez luzes também. A cor do cabelo não importava, era a cor da pele que estava em questão. Eu jamais poderia pintar meu cabelo de loiro, a não ser que não tivesse o mínimo bom senso. Eu não podia estar na televisão como apresentadora, mocinha de novela ou âncora de telejornal; a minha pele representava a empregada doméstica, a prostituta (já citamos o seu valor aqui), o malandro, o bandido, e assim vai... “Ser negro era ser ruim”, parecia dizer os meios de comunicação, de uma forma inconsciente, e eu não queria ser ruim.

Lembro que na segunda série escrevi em uma redação que achava um defeito ser negra; hoje me envergonho de ter dito tamanha asneira. A sábia professora escreveu na redação “você é linda”, aí eu repensei e acreditei nela.

Graças aos meus estudos, esclarecimentos e etc., hoje sei como sou bonita e que posso tudo. Olho-me no espelho e não vejo defeito algum - a não ser a espinha que nasceu no meu nariz e que me motivou a escrever esse texto. Vejo meus olhos e minha boca mais indígena que negra e acho lindo; vejo meu largo nariz, meu cabelo encarapinhado (que insistem em intitular de “ruim”) e acho bárbaro. Não sei qual é a graça de ser igual a todo mundo, muito menos igual a todo mundo da mídia. Eu me vejo pouco nas bancas de jornal e só acho uma pena, porque lá no fundo, as bancas seriam boas distribuidoras de uma beleza não-efêmera (parafraseando a cantora Céu).

O dia que o Brasil estiver preparado para se olhar no espelho, serão outros 500, só não desejo que leve mais 500 anos.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Carta de Despedida

O que me resta nessa quinta-feira gelada de junho? Restam-me as mazelas e as mágoas que tu me deixaste.
De nada posso reclamar, eu também te traí, te apunhalei pelas costas, ou melhor, pela frente mesmo, atingindo em cheio o coração. Resolveste fazer o mesmo não é?

Quem era tua companheira, tua amiga amiga, tua mulher, caramba! Eu! Foi eu quem que sempre estive ali, foi eu quem reparei teus enganos, enxuguei tuas lágrimas, limpei teus vômitos...

E agora? Eu fico aqui então? Me lamentando por essa tua desastrosa traição... Porra, minha amiga? Não acredito que achaste que jamais descobriria...
Tua sorte é que ela é ingênua demais, não percebeu tuas segundas, terceiras intenções. Queria fazer com ela o mesmo que fizeste comigo. Bobo, juvenil, amador, vê se aprende! Muda de técnica na próxima.

Não quero mais te ver, não pelos próximos dias. Sei lá, talvez eu te perdoe, não por completo, para fazer exatamente como você fez comigo.

Some, vai pensar na vida, pensar na gente e tentar chegar a alguma conclusão; talvez seja melhor acabar por aqui mesmo, a gente tá desgastado, a gente já se cansou.

Nosso amor é pra todas as vidas, meu bem, não se preocupe, um dia, quem sabe? Talvez no futuro, talvez aqui, estaremos juntos de novo.
Sempre estaremos juntos, lembra daquele papo de eternos amantes? Sim, sim, isso existe, é a gente, meu amor...

Então ta, tchau e boa sorte nessa tua nova caminhada, e quando quiser voltar, avisa antes, só pra eu ver se realmente vale a pena...

Apesar de tudo ainda te amo (a gente acaba aprendendo a perdoar nessas histórias de amor).
Beijos e te cuida. Ah, sim! Tem um resto de frango de ontem na geladeira.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Pílula de Sobriedade

Ela acordava todo dia às cinco, fazia café ou passava umas roupas - conforme o dia- e acordava as crianças. Ela era moderna e independente. Deixava as crianças na escola e ia trabalhar. Ligava em casa e ele ainda estava dormindo.

Almoço, ele e os meninos comiam e iam ver TV, ela voltava para o trabalho e só retornaria às sete. Crianças sem banho e sem janta. Ela vai para a cozinha, consegue tomar um banho e vai se deitar. A cama está vazia, ele já foi pro bar.

A ultra-mulher acorda revoltada e toma uma importante decisão: vai comprar um microondas!

domingo, 8 de julho de 2007

Ela

Ela reza Ave-Maria enquanto benze a casa com água benta. Para muitos não há porque rezar ou para quem. Não compreendem.

Ela vai à missa todo domingo e pede para que o mal não os alcance.

Ela abre os armários e sente o cheiro dele ainda nas roupas dela. Um cheiro de homem, de desejo, de medo. Ela era ainda menina quando se perdeu nos braços dele.

No banheiro falta uma escova de dente. Ela torna a rezar. Não se sabe se é para que ele volte ou para que permaneça longe.

Ela não chora mais. As cicatrizes da alma não fecham com lágrimas.

sábado, 7 de julho de 2007

A Pál utcai fiúk

Ferenc Neumann é o autor do best-seller que acabei de ler a pouco. Seu nome se transformou para o húngaro, e desde então se tornou Ferenc Molnár, como é conhecido. Em português seria o "Francisco Moleiro".

Ele foi jornalista, correspondente de guerra, mas o que nos interessa é o seu livro de maior importância: Os Meninos da Rua Paulo.

Com forte influência do Novo Mundo, de mocinhos-e-bandidos, de apaches e afins, a obra trata de amizade, lealdade e honra. Um livro com uma doçura juvenil que se encaixa mais aos adultos, talvez por conservarem a aura da história contada.

Um duelo de meninos por um território, em uma Hungria que ainda respirava interioridade e não tinha sido marcada pelas Guerras Mundiais que surgiriam. A Pál utcai fiúk [nome do livro em húngaro] vai ficar marcado, assim como João Boka, Ernesto Nemecsek e os outros meninos da rua Paulo.

A tradução é de Paulo Rónai, o húngaro que aprendeu português sozinho e que ironicamente nasceu no ano de publicação do livro, 1907. Vale a pena conferir.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Do outro lado da ilha

Quando penso em Cuba me vêm à cabeça Fidel Castro, Che Guevara, Gantánamo, Comunismo e outros mais. Esforçando-me bastante, proclamo discursos sobre a medicina e a educação cubana, e só. Talvez uma ilha bonita no meio Caribe, água azul...

Há uns quinze anos atrás, uma família brasileira desembarca em Havana: pai, mãe e três filhos. Funcionários da embaixada com direito a casa à beira-mar, carro e salário em dólar, num país em que se seus habitantes usarem roupas ou possuírem dinheiro do Tio Sam são acusados de traidores.

A alegria acabou por aí. Eram meados dos anos 90 e com certeza Cuba mudou muito de uns anos pra cá. Mas alguns desses relatos ainda devem permanecer iguais. As coisas que ouvi desfizeram a imagem de bela ilha, resistente e vermelha para um pedaço de terra no meio do mar, longe de tudo, de todos e com gente gritando por ajuda ou discretamente pedindo clemência.

A família brasileira em questão é negra, assim como os habitantes do país e, por isso, ironicamente, sofreram mais preconceitos do que no Brasil – a terra mítica miscigenada. Tanto mãe como filha foram inúmeras vezes confundidas com prostitutas, humilhadas em cafés e bares ou bateram de frente com policiais, dizendo que não eram cubanas e que o consulado resolveria tais confusões.

Com o filho mais velho do casal não foi diferente. O documento teria que estar sempre em mãos e nem sempre o zelo era válido: delegacia, junto com os outros garotos locais.

Ouvindo tudo aquilo me senti aliviada, porque apesar de muito preconceito, apesar de já ser sido confundida com prostituta, empregada doméstica (que são profissões muito dignas, diga-se), menina de rua, jamais pararam um carro do meu lado me oferecendo duzentos dólares por um programa. Pensando bem, o mais desesperador é saber que as meninas do secundário, na terra de Fidel, se prostituem por um estojo de maquiagem, ou por um perfume. Claro que no Brasil também ocorre isso, mas imaginar a dor de mais milhares de mulheres é desanimador.

Na mesma terra onde todos lêem e escrevem, a educação básica passa longe de certos estabelecimentos. Donos de padaria, por exemplo, fazem seus clientes e conterrâneos buscarem o pão na garagem, próxima à loja. Açougueiros negam carne visando lucro em cima dos estrangeiros, que lhe pagam propina. Dizer-se brasileiro, africano, ou qualquer coisa, menos cubano é um cartão de passagem para uma vida mais tranqüila.

E a saúde? Tem que ser muito boa mesmo para os absurdos que eles vivem. Gelo, mercúrio e sacarose, é a receita para o geladinho de morango, vendido por lá. Além de um pano, que é congelado, cortado em fatias, temperado, colocado no pão, e vendido como sanduíche de carne. Nosso churrasquinho de gato fica no chinelo.

Além de todos esses absurdos, deve haver muito mais que não se conta, que não se vê e que queima como chagas na vida desse povo pedindo socorro.

Pra mim o Socialismo não deu certo, só foi uma utopia imposta e que destruiu milhares de pessoas e sonhos. Em Cuba é assim, na China [que falaremos mais tarde] também, e em outros vários lugares que sentiram a obrigação de criar a igualdade. Suas populações estão com feridas difíceis de cicatrizar.

Cuba ainda vai ser a quimera revolucionária de alguns, mas será sempre a prisão ilhada de muitos outros.