quarta-feira, 9 de julho de 2008

“Só um tapinha”

Pouco mais de oito meses depois, Elza Soares volta à Brasília, ao Teatro Nacional e traz novamente inquietações.

No post de 18/10/2007 (A carne mais barata do mercado é a MINHA carne negra) critiquei o discurso anti-cotas declarado no Teatro na época. Hoje critico o público, como um todo.

Quando Elza, vinda do Planeta Fome - como ela mesma declarou certa vez a Ary Barroso, falou sobre as cotas, a necessidade de educação e sobre a falta de respeito aos professores foi aplaudida timidamente. E no momento em que a cantora pediu respeito às mulheres e falou da quantidade de meninas violentadas todos os dias, um certo eco permaneceu incômodo.

A burguesia presente, que dessa vez se conteu ao cantar Rap da Felicidade, não entendeu, fingiu que não entendeu ou não está nem aí mesmo pra qualquer reivindicação que não seja a sua. A incompreensão da platéia é o resultado mais claro do descaso e do egoísmo da sociedade brasileira. Costumam nos chamar de anfitriões e generosos, mas somos melhores ajudando o outro, que está bem distante, de preferência: vítimas de um tsunami, terremoto ou algo assim; mas em ninguém que esteja na cidade, no bairro ou na ponte ao lado.

Ao gritar “A carne mais barata do mercado é a MINHA carne negra” ou “É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado”, ela chama atenção ao latente problema do racismo no Brasil. Durante todo o show ela chamou atenção a várias coisas, cutucando o marasmo, o descaso e a ignorância, afinal, um tapinha não dói.