quinta-feira, 27 de agosto de 2009

poesia par(t)ida

Parte
Reparte
Pedaços
Partículas
Pequenas
Perdidas
Pelas pontas
Pela paisagem
Pela passagem
Pelo passado
Póstumo
Pelo presente
Perene
Para pensar
Partilhar
Para permanecer
Pertencer
Ou só para perder.

domingo, 23 de agosto de 2009

O mundo em livros

Uma das melhores coisas que adquiri no curso de jornalismo foi o gosto por literatura do mundo. A brasileira é fantástica, rica e diversificada como qualquer outra expressão cultural nossa, mas há certas coisas que só o outro lado pode contar. Sem vícios, hábitos e bossas, bem coisas nossas.

Começo por Xinran, autora de Enterro celestial e As boas mulheres da China. Neste último, a jornalista chinesa dribla a dor em ser mulher em um país marcado pelo silêncio com situações inusitadas, como pintar somente uma unha de vermelho ou borrar o batom de propósito. Dessa maneira, ela chamava a atenção e as pessoas puxavam assunto com ela. Ao longo das conversas, ela trazia à tona tradições cruéis, discriminação e dor que muitas mulheres sofriam e que ainda sofrem.

Ao ler as perturbações físicas e psicológicas que aquelas mulheres passavam o coração dói.

Xinran veio ao Brasil neste ano para participar da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) e deixou com mais vontade de conhecê-la. Merece ser lida e ouvida.

Milan Kundera é uma das melhores heranças literárias que o leste europeu nos deixou. Milan continua vivo, mas a inspiração de algumas de suas obras já passou. O tempo de uma Europa divida já passou. Apesar de alguns preconceitos ainda serem latentes, a comunidade europeia (em outros aspectos) está mais avançada do que o Mercosul e o próprio Brasil.

O autor tcheco escreveu belas obras como Risíveis amores (1969), O livro do riso e do esquecimento (1978) e Os testamentos traídos (1993), mas, definitivamente, A insustentável leveza do ser (1983) é o seu melhor livro.

A leveza e o peso, o amor e a compaixão e outros pólos nem tão opostos assim são a força motriz do enredo. Os encontros e desencontros de Tomas, Tereza, Sabine e Franz me fizeram pensar muito sobre os relacionamentos que tive. Esse papo pode soar como auto-ajuda, mas saiba, não é não. Com cenário histórico (a Primavera de Praga), Kundera traz ficção, romance e filosofia de uma vez só. Vale a pena ler. (Ver já não me responsabilizo. Há um filme com o mesmo nome do livro. Nunca vi, mas para quem ficou interessado, a direção é de Philip Kaufman).

De uns 5 anos para cá, apareceu a moda do oriente médio. O livreiro de Cabul, Eu sou o livreiro de Cabul (a contestação do primeiro), O caçador de pipas e uma lista interminável. Talvez a fórmula tenha se esvaziado ou o mote (ações do governo Bush) tenha acabado. Mas uma coisa inegável é que a abertura das cortinas serviu para abrir os olhos. Uma outra cultura totalmente diferente da ocidental existe e deve ser respeitada. Não há certo, nem errado, só o diferente.

Agora literatura africana. Ainda muito em moda também com uma série de título que falam principalmente sobre guerra. Mas há um autor que soube falar sobre esse tema sem soar clichê ou inconveniente.

Mia Couto é um biólogo apaixonado pelas palavras. O autor de Vozes anoitecidas, O fio das missangas e O outro pé da sereia se superou em Terra sonâmbula, meu livro predileto dele.

Não me canso de ler a história do miúdo Muidinga e do velho Tuahir. A fuga da guerra por meio dos misteriosos cadernos de Kindzu traz a história e a cultura do Moçambique. E são por esses escritos de Mia que eu descobri um continente lindo, cheio de cor e vida, longe dos clichês bélicos.

Mia Couto me apresentou com um novo olhar coisas que existem há tempos. Convido todos para a mesma viagem.

sábado, 8 de agosto de 2009

Música pra pular pernambucana (MPPP)

Quero voltar a escrever mais, contudo, confesso: blog enche o saco. Por mais que as pessoas escrevam bem, elas se tornam repetitivas. Um texto bom aqui, outro ali, mas a fórmula permanece a mesma. Fato. Quero tentar fugir da minha fórmula e espero conseguir. Será uma tentativa distribuída em alguns textos com temáticas variadas: música literatura, cinema, ficção...Vamos ver no que dá. Mãos à obra!

Música (neste caso, pernambucana)

Não sou uma expert em Chico Science, Nação Zumbi, Mundolivre S/A, mas sei que eles são expoentes do movimento Mangue Beat* que influenciou gerações de todos os cantos do país. Assim, é impossível falar de música sem citar a tendência que nasceu (e morreu?) na década de 1990. Eu particularmente não creio que ele esteja morto. Está vivíssimo e se reproduz involuntariamente em cada nova banda pernambucana que surge.

E esses grupos estão conquistando o país, e claro, Brasília. Outro dia escrevi um texto sobre a Orquestra Contemporânea de Olinda que ganhou o título de Brasília, nação pernambucana (valeu Yale!). Melhor impossível, já que a cada dia que passa o quadradinho no meio de Góais ganha novas cores, formas e parece ganhar um novo sotaque.

Orquestra Contemporânea de Olinda, Mombojó, China, banda Eddie, Cordel do Fogo Encantado, e outros tantos. Eles chegaram aqui até desconhecidos, como a Catarina Dee Jah, mas ganham o público com os acrodes bem elaborados e claro, com a batida única criada por Science.

Por exemplo? Mombojó. Os meninos de classe média era sete, hoje são cinco, mas continuam produzindo um som facilmente classificável de world music. Música do mundo? Não... Música do mundo é muita coisa. Não que não sejam muito, mas vão além, são específicos.

Escuto o quinteto e reconheço facilmente Los Hermanos, Tom Jobim, Nação...Rock? Sim. Bossa nova? Sim. Surf music ? Sim, Mombojó é um caldeirão de influências que reflete o clichê da globalização do século 21. A mistura deu certo, não há como negar.

Outra mescla bem sucedida é a Orquestra Contemporânea de Olinda que juntou a nova e a velha guarda do cenário musical olindense para fazer o melhor. Comparados ao grupo cubano Buena Vista Social Club, a big band brasileira (são 10 integrantes!) resgata músicos pernambucanos e dá visibilidade a eles. Canto da sereia é de Osvaldo Nunes, famoso na década de 1960, 1970.

Voltando um pouquinho ao Mombojó. Os quatro integrantes da banda, junto com o China (outro cantor muito bom lá da terrinha) criaram uma banda chamada Del Rey. O nome faz homenagem ao rei Roberto Carlos. Genial. Até em cover os caras são bons. Neste ano de comemoração de meio século (só de carreira) de RC é uma boa conhecer o trabalho do cantor de Cachoeiro de Itapemirim com um sotaque diferente. Será uma surpresa para o pessoal que acha que RC só tem música dor de cotovelo.

Para completar a lista tem Bonsucesso Samba Clube, Mestre Ambrósio (que tinha Siba na sua formação, quem criou outra banda superbacana: Siba e a Fuloresta), Academia da Berlinda, Buguinha Dub, enfim, muita gente fazendo somdubom. Seja com samba, com rock, maracatu, guitarras, pífanos e rabecas.

Tudo isso mostra parte da produção diversificada feita no estado.

O baile não pode parar, como diriam lá.


*Manguebeat (também grafado como manguebit ou mangue beat) é um movimento musical que surgiu no Brasil na década de 90 em Recife que mistura ritmos regionais com rock, hip hop, maracatu e música eletrônica. (fonte wikipédia)