terça-feira, 28 de julho de 2009

Do parto eu parti

Partida em pedaços, me procuro e não me acho. Tô espalhada por caí em cacos, tentando achar meu espaço. O futuro chegou e com ele um frio na barriga. Muita coisa deu certo até agora e depois? Os ares continuarão fluindo?

Parto para um novo ponto. Em breve, não agora. Os passos....Ah o caminho. É ele que conta e não o destino, diria Mia, minha eterna inspiração. Ele e outros tantos são partes desses pedaços espalhados por aí. Peças do quebra-cabeça da vida.

Eu sonhei muito e cheguei a ter um tempo da utopia. Naquele momento eu jurava que mudaria o mundo. Era e eu mais nove. Éramos os dez mais. Hoje...não sei o que somos. Somos dez em cantos distintos. No mar, no sertão. No ar, com os pés fincados no chão. Nossos desejos se transformaram da mesma maneira que nossos rostos, nossa trilha e nossa esperança.

Ainda acho que posso mudar, tenho aspirações que podem ser possíveis com garra e fé. O mundo real está de portas abertas e com um outdoor na porta dizendo “entre e seja bem-vindo”.

Vou nascer de novo, com o mesmo corpo, mas com olhos e coração mais atentos. Em busca de luzes e sons mais doces capazes de tirar toda a angústia de ver o futuro bem aí e não saber o que fazer com ele.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Histórias do asfalto

O asfalto de Brasília conta histórias. A primeira delas é o descaso da política na cidade. O descaso dos políticos, reitero. Vivo em um local em que os pobres votam errado pela esperança e os ricos pela pilantragem. Me entristeço, me revolto.

A raiva vem com mais força quando me sinto em alto-mar em pleno Eixo Sul. Pista remendada, sobre e desce, quando não os buracos, capazes de engolir um carro sem grandes esforços.

Carros. Eles são as pernas do brasiliense. A bicicleta não aguenta o tranco. Os pés não suportam os quilômetros. O asfalto é o leva e traz, é a aorta de Brasília.

Outro dia, aqui, do lado de casa, vi sangue no chão. Vi porque sabia do acidente noticiado no jornal. Era uma senhora que ia na farmácia. Não chegou lá. Ela, a mulher com o corpo estirado que fez o Eixão parar e outros tantos narram os atropelamentos do dia a dia. O sangue - para lembrar o cuidado e atenção dobrada - some com o tempo, com a chuva ou se perde pelos pneus dos veículos. A história desaparece e só fica gravada no coração daqueles que perderam um pedaço, irreparável.

Uns, mais insistentes, picham o chão, como está a pista na direção norte-sul, na altura da 712 Sul. Um menino de 16 anos não chegou ao colégio. A revolta da perda fez com que um protesto silencioso registrasse a dor em grafite. Está lá, é só parar e ver.

E eis porque não vemos: não paramos. Na verdade, nem precisa parar, é só passar com cuidado pelas ruas frias e vazias e ver, no asfalto, prostitutas, meninos de rua e outros à margem. Existe um rio de piche que vai e vem, mas tome cuidado, para não morrer afogado.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Samba, a gente não perde o prazer de cantar...

"Eu canto samba porque só assim me sinto contente. Eu vou ao samba porque longe dele não posso viver". Quando Paulinho da Viola escreveu essa música ele sabia o que dizia. Vão dizer que o samba acabou, mas só quando o dia clareou.

O samba é um negócio inexplicável e não é à toa que tem forte relação com a religião. Dizem alguns que o samba era uma maneira de chamar as entidades, e não duvido. Quando o couro do pandeiro come, a cuíca geme e o cavaquinho malandro toca, ahhhh, o samba. Ele toma conta do corpo. Samba, o dono do corpo, escreveu Muniz Sodré. Ele também sabia das coisas.

Muita gente sabe muita coisa, mas o que eu sei é sobre o sentimento que o gênero carrega. Não sei. Rio loucamente quando o som vai alto, penetra nas entranhas e me sacode... E choro quando ele suavemente acaricia meu rosto, trazendo lembranças e melancolias que, muitas vezes, insiste em existir.

Gosto do samba apesar de às vezes achar que ele se perde. Perde na cerveja em excesso, no papo em demasia, na saudade desenfreada. Gosto dele assim, nu e cru, do jeitinho que veio ao mundo.

Prefiro em doses cavalares: noites e noites ouvindo do melhor, relembrando o futuro que não chegou e esquecendo o passado póstumo. Contudo, não me importo que venha em conta-gotas, o importante é que venha e preencha, em partes, a dor do amor – mote para outras tantas letras recitadas em noites de luar.