terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Começo da semana

Seis e meia da noite.
Brasília é um negro azul marinho, cheia de luzes amarelas transeuntes.
Os invisíveis pedestres se banham com a lama.
As buzinas estão surdas de tanto gritar.
Rios de carros pedem passagem nas largas avenidas de Lúcio Costa.
E eu, exausta, me enjôo, no apertado Pálio prata de vidros embaçados.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Companhia da Cachaça

*em homenagem aos nossos dois anos.


Nessas férias da vida me bateu uma saudade... Li um e-mail da Kopko me desejando feliz aniversário, do ano passado, coisas boas sabe? Não somente aquelas que todo mundo deseja, mas que amigos desejam.

Amigos são raridade, e diz a frase clichê que os reconhecemos; bem, deve ser por aí mesmo. Assim, pensei nos meus amigos da faculdade e pensei no quanto eles são peculiares.

Lá atrás, no tempo da utopia, éramos 10, um dia fomos 11, e hoje devemos ser uns 7, estourando, do clã inicial. A gente sonhava muito sabe? Sonhamos com um montão de coisa, com vários jornais, com a fama, com a nossa permanência... Um dia sonhamos até que iríamos pro Moçambique, para contemplar a terra do eterno Mia Couto.

Mas ao deixar os sonhos de lado, fui percebendo que a realidade e o tempo de verdade são cruéis e deixam coisas e pessoas para trás. Por isso hoje deixo um beijo para meus sonhadores.

Um brinde à eterna Companhia da Cachaça e aos utópicos mais doces desse mundo:

À loira platinada mais foda do CEUB, à minha companheira de baladas, ao gatito mais fofo desse mundo, ao menino do Cirque, que desejou e consegiui, ao turista de plantão, à fofinha, à menina da ironia refinada, à mamãe mais linda e ao menino que virou lenda.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pensamentos breves sobre Cuba

Depois de quase meio século no poder Fidel Castro renuncia. O último reduto socialista nas Américas virou lista de prioridade dos EUA e da Europa. Quem garantirá sua vaga primeiro na pequena ilha?

Nessa corrida louca do imperialismo pós-moderno eu fico pensando nos cubanos: tadinhos, saem de uma ditadura socialista para entrar em uma capitalista. Lendo assim dá pra pensar que sou contra o socialismo. Não, não sou, mas toda forma de poder possui suas algemas.

Vi um filme muito bom que é um encaixe perfeito nesse contexto: Balseros. O documentário de 2002, traz a saga dos cubanos que criam balsas para atravessar os 145 quilômetros de mar que separa La Habana de Miami; e a pobreza sufocante do sonho americano. (A película espanhola possui 120 minutos e é dirigida pelos jornalistas Carlos Bosch e Josep Maria Domènech.)

Para onde vão esses cubanos a partir de agora? Ele fugirão? Não será mais necessário? E a saúde e educação tão elogiada mundialmente, permanecerá?

Um ponto de interrogação imenso é criado, do mesmo tamanho da esperança por dias melhores, dos conterrâneos de Fidel.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A dor que dói mais


- Você tá com dor?
- Sim.
- Onde?
- Em vários lugares.
- Na barriga, nas pernas, no coração?
- Na alma.
- É a que dói mais.

- Sempre.






*para a geminiana mais querida.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Chuva crônica

“Era leve o vento que senti roçar a pele
Me arrastando como ao pólen.
Carregadas nuvens cobriam meu céu

Choveu, choveu.
Molhando minha terra seca.”

Ellen Oléria


(Te vi hoje indo pro trabalho. Nem teria visto, se não tivesse reconhecido o carro. Esse era o novo né? Preto, quatro portas, placa MCG. As inicias dela. Sorte a dela ter um homem tão atencioso...)

Quase ali, na altura da rodoviária, a chuva tornou a cair. Chovia como se lá em cima alguém estivesse tão triste, que não cabia em si. A tristeza devia ser tão intensa, que devia ser compartilhada com todos, a fim de amenizá-la.

Ela já havia chorado que nem a chuva de hoje. Teria chorado uma tristeza tão avassaladora que não pôde carregá-la sozinha. Levou consigo pai, mãe, irmãos, amigos, vizinhos, cachorro, papagaio e assim vai. Não podia acreditar que um amor tão doce e tão sereno como aquele podia acabar assim: num passe de mágica (como um soco no estômago, eu diria mais apocalipticamente).

As gotas fortes machucavam seus braços e ela se lembrou da época que ele tinha que ir de ônibus. Ele sempre reclamava do tempo, porque sempre tirava o guarda-chuva no dia errado. A vida era mais dura, mas eles eram muito mais felizes.

(Ele parece muito bem agora...Me esqueceu tão rápido....Deve ter sido numa dessas chuvas fortes que as lembranças nossas escoaram pelo ralo.)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Conversas avulsas

As férias terminaram; bem, mas não pra mim.
Ainda me restam uns dias para desfrutar dessa delícia que é acordar 10 horas da manhã. Porém, contudo, entretanto, as burocracias da vida não me permitem tantos luxos todo os dias.

Odeio banco. Repito odeio banco. Tenho simplesmente pavor de entrar naquele ar-condicionado, ver mil pessoas mal-humoradas em uma fila quilométrica. Mas ontem lá estava eu, prepara psicologicamente para o pior. “Caixa até 2 transações” ou “Caixa comum”? Ah! Vai no comum mesmo.

Naquela meia hora eterna fiquei curtindo minhas músicas do mp3. Daí passou pela minha cabeça “Imagina, se do nada, todo mundo começar a dançar ‘Deixa isso pra lá’ na voz do Lulu Santos?”. Os caixas subiriam o balcão e começariam a rebolar. Os segurança 2x2 tirariam as blusas e fariam uma espécie de “animadores de torcida” e todo mundo que está para ser atendido iria despirocar, rebolando até o chão!

Mas bem, isso nunca iria acontecer. Então, pensei na possibilidade do pessoal pegar mais leve e dançar juntinhos, tipo em baile, e “Molambo” na vitrola, cantado pela Bethânia. As luzes se apagariam e todo mundo ia curtir um clima mais romântico.

- Sabe? Monobloco foi bom pra cara****. Grita um fortão atrás de mim, interrompendo minhas imaginações.

- Foi lindo, todo mundo lá...mais de 50 mil pessoas em Copa... É quase 80 mil, deve ter sido isso mesmo... Começou ás 9 da matina e só terminou depois da uma da tarde. Daí voltei só na segunda né? ...Voltei mal...estragado...

Ai que inveja. Dava de tudo pra ter passado o Carnaval no Rio esse ano. Mas ano que vem ele não me escapa, não mesmo.

Saindo da tortura bancária passo por duas senhoras que não deviam se ver há muito tempo.

- Mas, ah, você sabe, com essa reforma só me aposento daqui há 5 anos....

Engraçado. Chega uma idade que todo mundo só fala em parar de trabalhar, e eu aqui. Tentando arranjar um emprego que me dê um simples Plano de saúde. Aiai...

Ainda mais tarde presencio um diálogo surreal, que só poderia rolar no Itamaraty:

- Uai, mas você não tava em Roma?

Simples assim, como Roma fosse Uberlândia.

Moral do dia: parar de bicudar a conversa do allheio.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Maíra

“É bom viver como ensinou Maíra"
Página 216 do romance Maíra, de Darcy Ribeiro


21 anos atrás, em uma segunda-feira de quase carnaval, nascia um bebê preto, cheio de dobras, com olhinhos de jabuticaba, com o nome de Maíra. Maíra é o deus-sol para os mairuns (uma tribo indígena) e também era o nome de uma menina que passou pela vida da recém-mãe, por isso a escolha do nome. Maíra significa inteligência em árabe e é o nome de um romance de Darcy Ribeiro.

Maíra é um monte de coisa, inclusive a filha única de uma mineira de Araxá. Maíra, quando pequena tinha uma coleção de vestidos feitos pela avó e comia pedra no parquinho. Essa pequena aquariana era apaixonada por Barbies e ralou os joelhos zilhões de vezes. Até o dia em que escorregou e teve que levar seis pontos. Torceu o pulso jogando queimada, e o dedo, jogando vôlei. Maíra detestava Educação Física no colégio.

Maíra também não gostava de Matemática e de Física, mas amava História e Geografia. Maíra quis fazer Arquitetura, História, Filosofia, e assim vai... Até o dia que percebeu que era inevitável fazer Jornalismo. (Naquelas reuniões de pais e professores, ela sempre era a comunicativa...)

Por 10 anos estudou em colégio de freiras e foi lá que aprendeu que a honestidade e a verdade não são pra qualquer um. Aprendeu a rezar o terço e a questionar. Fez primeira comunhão, crisma e hoje em dia é devota de São Jorge.

Maíra sempre teve muitos amigos e muitos brinquedos. Ambos duram, até hoje. Torce pro Flamengo, pra Mangueira, pela paz e pelo amor. Amava o Topogigio e tem medo de altura.

Maíra odeia leite e adora barra de cereal e batata cozida.

Maíra teve decepções e alegrias como qualquer um. Nunca ganhou no bingo, mas já encontrou moedas no chão. A garota com lua e ascendente em Câncer gosta de música velha e de literatura brasileira. Maíra gosta de lavar louça, de escovar os dentes na sala e de bater fotos jornalísticas.


No mais, Maíra anda muito bem, obrigada.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Divagações de Quarta de cinzas

"Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela ainda está sambando"
Chico Buarque

Foi-se o tempo em que a quarta-feira de cinzas era um dia parado, sem comer carne ou sem beber álcool. Em Salvador, no Rio, em Recife, a festa não pára, vai até domingo.

Gosto demais de Carnaval para passá-lo aqui. Definitivamente Brasília não sabe aproveitar os confetes e serpentinas, e a prova cabal disso foi a intransigência que rolou no Galinho na segunda-feira. Vi pelo jornal e me entristeci. Essa cidade-zumbi que pouco tinha, corre um sério risco de não ter mais animação alguma.

Mas apesar do título e introdução vim falar sobre o filme que assisti ontem: O Caçador de Pipas. Baseado no romance homônimo de Khaled Hosseini, o filme é lindo e segue a risca o ritmo do livro.

Durante o filme várias frases e lições de moral surgem, mas a que mais me tocou sem dúvida é “Há um meio de ser bom de novo”. Após vários anos, Amir, o protagonista, ganha uma oportunidade de se redimir diante seu amigo de infância Hassan, e a partir daí a película se desenvolve.

Parei pra pensar na fala de Rahim Khan (amigo de Amir e de seu pai, Baba) e em um meio de ser bom de novo. Haveria realmente uma segunda chance na vida real?

Milan Kundera em A insustentável leveza do ser diz que “tudo será esquecido e nada será reparado”. Baba, em um instante, comenta que é melhor resolver logo as pendências, pois o tempo só piora as coisas. Não concordo com nenhum dos dois. Apesar de muitas vezes querer esquecer tudo, sei que é impossível e o tempo é capaz sim, de reparar certo erros e enganos. “Só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas”, escreveu Raduan Nassar em Lavoura Arcaica. Acredito na justiça do tempo e em um novo meio de ser bom de novo.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Vontade

Ela me acorda de madrugada ainda, dizendo que não se sente bem e que vai ficar.

Volto para cama e a obrigação me leva à sala.

Ela, com castanhos obscuros, diz que está com uma angústia no peito, com o coração acelerado e com vontade de chorar.

- Senta aqui. Pode chorar.

- Não, é só vontade.

Eu aprendi a ser que nem ela. Só tenho vontade.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Eu Me Sinto Bem pra Caralho!

Tem dias que as coisas não estão legais; tem tempos que as coisas parecem que serão ruins pra sempre, até o momento que percebe-se como a vida está na mais singela alegria.

As coisas andam meio tensas ultimamente, mas hoje, percebendo a vida dura do alheio, vi como a vida é bacana.

Apesar dos pesares eu tenho uma família bacana, tenho uma mãe gente boa à beça, tenho amigos ótimos, tô de cabelo novo, já conheci muita coisa do Brasil e do mundo, tenho umas ironias pra contar, sou aquariana e o sol entrou em conjunção com meu sol natal, acordo todo dia vendo e sentindo as coisas ao meu redor, ... e assim vai indo.

E são por todos esses motivos que entrei na comunidade Eu Me Sinto Bem pra Caralho!.
Chega de reclamar da vida.