domingo, 30 de novembro de 2008

A profissão que escolhi

Jornalismo é uma profissão complicada. Pro vários motivos.

Quando as pessoas dizem que vai fazer jornalismo os pais se desesperam temendo que os filhos morram de fome ou se tornem alcoólatras. Ou os dois. Mas uma coisa que eu aprendi é que tem como ganhar grana com a profissão: basta ser bom. E tem como não se tornar alcoólatra. Mas essa parte aí eu ainda não descobri como. =O

Jornalismo é uma competição, o tempo todo. Quem escreve mais, melhor e mais rápido. É duelo com os outros e consigo mesmo. A luta começa antes mesmo da graduação, com os estágios. Quem arranja o melhor? Quem é contratado? Se a pessoa não tiver equilíbrio e boa índole tá ferrado. Inveja permeia demais essa área, mas há como ter competições saudáveis. O exemplo disso são indicações de amigos pra outros estágios e estímulo entre os colegas. Tem um amigo meu que diz que a nossa competição é super saudável. Também acho, e vai ser por isso que um dia seremos ricos, bebendo numa mesa de bar. Hahaha

A competição aliada com outros fatores causa uma doença muito complicada: o ego. Nada pior que um mega-ultra-power ego, coisa que, normalmente, jornalista tem. A humildade é pra poucos. Entra numa redação que em 10 minutos de conversa você vai entender o que eu digo.

Jornalismo é bom, mas é ruim. É bom porque você informa as pessoas, e ruim porque essa informação pode acabar com a sua carreira. Por isso insistem tanto para que sejamos rígidos quanto a apuração. Mas mesmo assim, algumas vezes, com tudo apurado, certinho, tem alguém pra meter pau, dizer que é mentira ou sei lá. Assim, surge um desafio: a reputação.

Reputação se adquire com tempo e talento, e não é pra qualquer um. Tem gente muita boa por aí com mais de 20 anos de carreira, e mesmo assim não tem reputação. É o sonho de todo foca.

Não é fácil ser jornalista (por mais moleza que pareça ser a graduação). Mas quem escolhe esse ramo tem o privilégio de escrever sempre: factual, ficção, o que for. Pode gerar raiva, emocionar ou fazer chorar. Enfim, tem o dom de fazer sonhar, refletir e questionar só com uma ferramenta: a palavra.

É...tô no caminho certo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Coisas de Festival (2008)

Mais um festival. O 41º para ser mais exata. O meu mesmo eu não sei qual é; perdi a conta. Mas dos poucos que fui e do muito que vi... Aff! Que repetitivo.

Assim, além daquele esquema pseudo-intelectual de palmas para frases pseudo-impactantes dos filmes, tem o pessoal de sempre. Pô, talvez eu esteja no hall do pessoal de sempre, mas ao menos sou discreta. Não uso bonés roxos, botas vermelhas ou echarpes azuis com bolinhas amarelas.

Tá, então, mais um festival. Fila quilométrica, atraso, gente no chão... Gente em todo lugar na verdade. Principalmente na porta. E se você quiser ver alguém no evento é só ir pra porta principal. Dez minutos é tempo suficiente para encontrar meia dúzia de colegas da época do segundo grau que se tornaram mais pseudo do que você poderia imaginar. Coisas na Universidade pública.

Dica pra não esperar muito: se você realmente quiser ver os filmes, vá para a sessão das 20h30 que começa 21h, porque é mais maneira já que os diretores apresentam o elenco fazem uma sinopse breve (ou não), porque é mais cedo e porque depois da sessão você poderá fazer a exposição da figura na Medina (vulgo Cine Brasília) na porta principal.

O festival pode ser classificado vários quesitos. Ressalto dois.

Roupa
Porque as pessoas não podem usar roupas comuns? Tipo jeans e blusa da C&A?
Mas não... as pessoas tem que juntar que há de mais exótico no armário e sair por aí achando que tá abalando. Tem gente que não saca "Menos é mais", já diria um fashion por aí.

Pânico de semi-conhecidos
Brasília+ um único evento barato+ badalado = gente pra caramba junta. E pior, conhecida.

Não adianta fugir, olhar pro lado ou fingir que o celular tocou. Sério, vai ser pior. Nada mais chato que ver um semi-conhecido na sua frente e se fazer de invisível. Cumprimenta, sorri. Educação é jóia rara nos dias de hoje (Ai ai ai ...Essa dica fica pra mim também).

Agora...
As premiações

Ano passado eu fiz um resuminho de cada filme que vi e soltei minha opinião sobre eles. Esse ano é complicado porque vi pouquíssimas películas já que fui vítima do marasmo coletivo que assolou o Festival nesse ano. Na segunda-feira, último dia de exibição, foi um horror: cheguei atrasada e vi cadeiras sobrando. O que será que aconteceu com a edição de 2008?

Documentários em excesso? Poucos nomes de expressão? A dúvida cruel fica no ar.

Abaixo os longas, médias e curtas que passaram nas sessões de 20h30 e 23h30.

À margem do lixo (Evaldo Mocarzel) – Desde do começo do Festival já sabia que ia levar o Prêmio do Júri Popular. Levou também o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio Aquisição TV Brasil e o de melhor fotografia. Achei o filme bacana, mas tendencioso demais. As palmas no Cine Brasília para o discurso pró-Lula me irritaram. Assim como o papo de socialismo. Não sei. Tem certas coisas que não colam mais.

FilmeFobia (Kiko Goifman) – Melhor filme do Júri Oficial, melhor ator, melhor direção de arte e melhor montagem. Como no ano passado (com Cleópatra), o gosto do júri não encaixou com o do público. Desde o dia da exibição todo mundo criticou.

O milagre de Santa Luzia (Sergio Roizenblit) – Melhor trilha sonora e Prêmio Vagalume como melhor longa.

Siri-Ará (Rosemberg Cariry) - Melhor atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor ator coadjuvante. Não vi por causa das críticas excessivas.

Ñande Guarani (Nós Guarani) (André Luís da Cunha) – Melhor som e Troféu Conterrâneos. O documentário é bem didático. Mas só. Não achei nada de demais.

Tudo isto me parece um sonho (Geraldo Sarno) – Melhor direção e melhor roteiro. As duas primeiras cenas apareceram na tela e eu desisti de ver o filme.

A arquitetura do corpo (Marcos Pimentel) – Melhor montagem.

A minha maneira de estar sozinho (Gustavo Galvão) – O filme do ex-aluno da UnB era um dos mais esperados. Decepcionou todo mundo.

A mulher biônica (Armando Praça) -

Ana Beatriz (Clarissa Cardoso) – Melhor roteiro. Gostei do filme. É bem leve e sem indagações intelectuais. Me lembrou o Café com Leite do ano passado. Senti falta disso nesse ano: leveza nos curtas.

Brasília (Título Provisório) (J. Procópio) - Prêmio Júri Popular. Achei bobo. Fui assistir com certa ressalva porque antes de entrar na sala me disseram ser homofóbico e racista por causa de declarações da película. Tais declarações são sutis, mas me levaram a um outro questionamento: quantos preconceitos se tornaram banais? Chamar o amigo de viadinho pode ser engraçado, mas e quando há um homossexual presente? Ele certamente não acharia graça de algo que se tornou tão banal. Um olhar mais treinado viu facilmente os traços homofóbicos do filme.

Cães (Adler Paz e Moacyr Gramacho) – Melhor ator, melhor fotografia, melhor curta e Prêmio da Crítica. Não entendi lhufas, mas, sem dúvida, mereceu o prêmio de melhor fotografia.

Cidade Vazia (Cássio Pereira dos Santos) –

Minami em close-up – A boca em revista (Thiago Mendonça) - Melhor direção. Achei interessante por mostrar temas que quase ninguém sabe: os filmes da Boca do Lixo e a revista Cinema em Close-up.

Na Madrugada (Duda Gorter) – Melhor atriz melhor curta pelo Pêmio Vagalume. Lindo. O melhor curta do evento. Conta a história de amor de duas mulheres de meia idade. Ana Lúcia Torre mereceu demais ganhar o prêmio de melhor atriz.

Nº 27 (Marcelo Lordello) -

Que Cavação é Essa? (Estevão Garcia e Luís Rocha Melo) -

Superbarroco (Renata Pinheiro) – Melhor filme pelo Júri Oficial, Prêmio Aquisição Canal Brasil. Tão confuso quanto Cães. Talvez não esteja preparada para análises cinematográficas tão abstratas.

*esse texto também pode ser lido em http://www.estudiocapital.com.br

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mais um Dia da Consciência Negra. Ainda bem.

"Se hoje estou aqui, só devo a Dandara, só devo a Zumbi"

A data criada para questionar o dia 13 de maio (Abolição da escravatura) veio para pôr em prática o que é ser negro, como é ser negro e o pensar negro. E justamente nessa semana fui testemunha de mais uma prática do racismo.

Talvez se não existissem datas e ações como o da Consciência o fato passasse despercebido. Mas a luta do movimento negro não é vã. O racismo tem que ser admitido para que seja combatido.

Ouvi um ofender outro por causa da sua cor de pele. "Seu preto nojento" ou qualquer coisa do tipo. Meu sangue ferveu. A justificativa da pessoa que emitiu tal comentário não cola. Não adianta pedir desculpas nem dizer que não tem racismo. Tem sim, e o pior deles: o velado. E é por causa desse racismo não admitido que no Brasil não é possível combater essa praga. Exemplo clássico onde o racismo exarcebado gerou a mudança de consciência - em partes, claro : os EUA. Até a terra do Tio Sam, caldeirão efervescente de segregação racial, está a um passo a frente: elegeu Obama. E nós, continuamos aqui, atrelados à hipocrisia.

Eu chorei. De raiva, de revolta e de tristeza. Não compreenderam.
Choram em filmes, e porque eu, na vida real, ao ver absurdo como esse não posso chorar?

A vida real é muito mais passional que melosas tramas hollywoodianas.

Ano passado disse que dia esperava por dias melhores. Reitero minha afirmação. Sigamos lutando.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Black Power



"I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today!"




(Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças um dia poderão viver em uma nação onde eles não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo o conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!)
Martin Luther King Jr.





Muitos me disseram para não torcer para o Barack Obama porque não moro nos Estados Unidos e por tampouco ser norte-americana. Mas se há brasileiros que torcem pro Milan, Real Madrid, Manchester United (comparação esdrúxula) por que não posso torcer para a política norte-americana?

Pois bem, deixem-me torcer para quem eu quiser.

Torci para o Obama mesmo com algumas falhas, como a falta de uma política consistente para a América do Sul. Mas, apesar de tudo, eu queria ele no poder dos EUA.

Muitos reclamam do excesso midiático e do teatro sobre o fato de Obama ser negro. Acho ótimo. Após 43 presidentes e mais de 200 anos depois um afro-descente é o homem mais poderoso da nação mais poderosa do mundo.

Muitos me questionaram porque não apoiar Hillary Cliton, afinal, ela é mulher. Porque antes de ser mulher sou negra. É a minha cor de pele que me caracteriza, que move. “É a tua cor que eles olham”, já diria a música. Justo, é ela que se destaca, que grita, pedindo passagem.

Todo esse alvoroço não é vão. Porque...

Quando Jesse Owens calou a boca de Hitler...
Quando três ativistas negros foram assassinados no Mississipi por um membro do Klu Klux Klan...
Quando Rosa Parks se negou a ceder seu lugar no ônibus para uma mulher branca...
Quando Martin Luther King proclamou o clássico I had a dream...
Quando Obama ganhou as eleições deste ano...

Representaram, de alguma maneira, que algo pode ser mudado.

Quando os discursos raciais não se fizerem mais necessários, talvez seja o sinal que alcançamos o sonho de Luther King. Um sonho traçado de pouco em pouco, com pitadas de rebeldia, equilíbrio e luta.


**arte: Cláudio Fonseca