domingo, 31 de agosto de 2008

Parte 6 - O lugar mais lindo do mundo


Copacabana
Um presente de Deus


A chegada em Copacabana foi a melhor sensação da viagem. Uma cidade pequena, iluminada de Sol e com o lago mais azul do mundo. Um sentimento de paz vai enchendo a alma e todos os perrengues que até então tinham surgido desapareceram. Copacabana é pura tranqüilidade.

E é de lá que saem os passeios para a Isla del Sol e para a Isla de la Luna, as principais ilhas das 41 existentes no Lago Titicaca.

Conheci a Ilha do Sol e sem dúvida é um lugar mágico. Logo na chegada, entramos em um templo em que desejos são feitos ao soprar uma folha de coca. Caminhadas, Sol quente e vento frio até chegar no fim do passeio, lá na base da ilha, com uma fonte em que a água dizem rejuvenescer. Ao lavar o rosto três vezes com aquela água pensamentos ruins vão embora deixando espaço para as energias positivas. A ilha sagrada dos Incas é assim, do começo ao fim magia e bons fluidos por todo lugar que se passa.

Em Copacabana, há o Morro do Calvário. Ele está há mais de quatro mil metros acima do mar e de lá é possível ver toda a cidade. Eu subi o tal do morro, mas não sei onde estava com a idéia quando fiz isso.

Tenho muito medo de altura, mas mesmo assim resolvi encarar a subida, que estava tranqüila até sentir que era alta demais. Por três vezes pensei em parar, na última, quase no topo eu pensei “desisto”. Tremendo, sentei em uma rocha e fiquei lá, decidida a não subir mais. Foi quando surgiu alguém com o nome mais apropriado impossível: Rafael. Esse companheiro de viagem com nome de anjo, foi quem me ajudou a chegar até o topo e deixar de lado muito medo.

O Rafa com palavras de apoio começou a me incentivar dizendo que eu ia conseguir subir tudo, que ia superar meu medo e que seria uma vitória minha. “Olha Mamá, olha o presente que Deus fez pra gente, vamos contemplar”, disse ele. E assim caí no choro, emocionada com tantas palavras bonitas, emolduradas pelo Sol indo embora. Subi o pouco que faltava e admirei como ninguém aquele pôr-do-sol com o Titikaka como protagonista. A visão mais linda e mais forte de toda viagem.

O Lago Titikaka - maravilla del mundo, como diriam os nativos de lá - com seus 8.500 km² é o lago navegável mais alto do mundo. E o mais bonito também.



próximo capítulo: A capital inca e a trilha simbólica
*imagem: maíra brito

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Parte 5 - La Paz


Cochabamba à La Paz
Os efeitos da altitude


Mais de seis horas de ônibus e chegamos na capital boliviana. La Paz está a 3.660 metros de altitude e é muito seca e fria no inverno. Mas antes da chegada, mais emoção.

A mata que marcou o caminho para Cochabamba vai sumindo e se torna montanhas secas, com muita poeira e pedra. Antes de sair daqui, sabia que a altitude poderia causar alguns sintomas, mas não esperava sentir todos. Taquicardia, tontura e nariz sangrando. Chegar no hotel foi um alívio.

La Paz
Prédios, outdoors e buzinas


Nuestra Señora de La Paz é o verdadeiro nome da capital da Bolívia. Cidade que lembra uma São Paulo mais caótica. Tudo lá é muito intenso. Há muitos prédios altos – coisa que não havia visto desde então; muitos outdoors - colorindo e enfeiando a cidade e buzina, pra tudo.

La Paz é uma cidade como qualquer outra capital e por isso é mais agitada. A noite foi uma das melhores da viagem (claro, perdeu pra Cuzco) e o tempo todo tem gente na rua. Gente, carro, mais carro e mais gente. Basicamente isso.

Pertinho da capital está Tiwanaku, um sítio arqueológico considerado patrimônio da humanidade e de extrema importância para a história da América Latina. Na verdade, do mundo todo. Nesse sítio viveu uma civilização de mesmo nome, anterior aos Incas e muito sábios. Os Tiwanaku tinham avançadas técnicas de astronomia, o que torna o passeio mais cheio de informações e mistérios. Imprescindível no roteiro Bolívia-Peru.





próximo capítulo: Copacabana. E não é a princesinha do mar. he he he
*imagens: maíra brito

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Parte 4 - Cochabamba


Santa Cruz à Cochabamba
Uma miséria compartilhada


Se eu estava achando o Trem da Morte ruim era porque eu não tinha visto nada ainda. Nesse caminho que deveria ter sido o tranqüilo, afinal é só uma estrada, foi o mais tenso de todos. Pegamos um ônibus que apelidamos de “O Ônibus da morte”, porque ele era muito³ pior que o Trem da Morte.

A começar pela própria estrutura: o tal do ônibus não tinha banheiro. Agora me explica, como eu faço esse trajeto – de mais de 12 horas – sem banheiro? Ah, isso porque ainda tinha a parada pro “almoço”. Simbólico, como qualquer outra coisa na Bolívia.

Pense num lugar sujo, agora pense num lugar que cheira a urina, agora pega isso e misture com um lugar em que as pessoas botam a comida no prato com a mão. Justamente. Era assim lá. Foi a experiência mais louca minha vida, pois ao mesmo tempo que era desesperador ver tanta miséria espalhada, era aliviador pensar na minha situação.

Todos os dias aqui no Brasil eu via a pobreza, mas lá na Bolívia era diferente: eu compartilhava da pobreza. Eu tava ali, como qualquer outro, só uma opção de almoço, mas ainda sim eu estava em vantagem: tinha o luxo de ter cream creaker e pode pagar por uma coca-cola. Loucura. Experiências.

Cochabamba
A cidade de nome engraçado

Cochabamba tem um nome engraçado e é a terceira maior cidade boliviana. Tem um Cristo (de la Concórdia) quatro metros mais alto que o nosso, e que foi construído pela Petrobrás. Lá de cima (da base do Cristo mesmo) é possível ver a cidade, bem pequeninha.

A cidade também tem uma feira super-bacana com vários produtos artesanais, onde a gente fez a festa. Ponchos, casacos típicos, mantas e touquinhas fizeram parte dos nossos achados.

Agora um Momento História – Foi em Cochabamba em que nasceu o famoso Simon I. Patiño. É, talvez você nunca tenha escutado esse nome, mas sem dúvida já ouviu falar no Tio Patinhas. Pois é, foi esse boliviano, magnata do estanho, que inspirou Walt Disney para criar seu milionário personagem. Patiño veio de uma família humilde, mas depois de encontrar estanho em terras que possuía, se tornou um dos homens mais ricos do mundo. Riqueza que pode ser vista em sua casa, que hoje é a Fundação Simon I. Patiño. As fotos dentro da casa são proibidas, por isso vale a pena “perder” um tempinho e conhecer esse pedaço da história.



próximo capítulo: o árido percurso entre Cochabamba e La Paz
*imagem 1: sheyla. imagem 2: maíra brito

domingo, 24 de agosto de 2008

Desabafo

Vou fazer uma pausa nos relatos da viagem pra falar um pouco das Olimpíadas.

Confesso que me emocionei muito ao ver a final feminina de vôlei. Quando a bola foi fora da quadra e as americanas incrédulas fizeram cara de “perdi”, nem eu acreditei.

A medalha de ouro que as meninas, comandadas por Zé Roberto, ganharam era um entalo na garganta. Era não só aquela derrota em Atenas; era o ouro que o futebol perdeu; que a ginástica não ganhou e que arrancaram bruscamente de Fabiana Murer.

Muitas vezes ouvimos: “AH! Mas chegar nas Olimpíadas já é uma vitória”. Mas pow! Não, não é uma vitória.

Eu sei que é uma ralação só, que o Brasil não dá apoio nem estrutura, mas vitória é mesmo sem patrocinador chegar em Pequim, passar por atletas muito mais bem preparados e mesmo com toda pressão e subdesenvolvimento, ganhar o ouro.

Por sorte e por talento só César Cielo, Maurren Maggi e o time feminino de vôlei subiram mais alto no pódio. Só eles souberam o que é a vitória plena. O Brasil, que ganhou a ilusória alcunha de “país do esporte”, precisa aprender uma lição com seu desempenho em Pequim: só vence o melhor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parte 3 - Santa Cruz



Santa Cruz de la Sierra
Começo do contato com a Bolívia


Em quesito calor Santa Cruz empata com Quijarro, mas tem um ponto positivo crucial: não tem tanta poeira e é mais limpo. A cidade de Santa Cruz é a capital do distrito homônimo mais rico da Bolívia. E por isso, a partir de agora é interessante observar as questões políticas bolivianas. Santa Cruz é a favor da autonomia (administrativa e financeira) em relação à La Paz, e contra o presidente Evo Morales. Viajando pelo país é bem clara a posição dos distritos de acordo com a sua situação econômica. Os mais pobres apóiam Evo e são contra a autonomia e os mais ricos seguem a posição de Santa Cruz.

E é lá também onde se intensifica o contato com a comida boliviana. Fomos apresentados ao Dumbo’s, uma das redes de comida mais seguras por ali, mas nossa como era ruim. Assim, não horrível, mas uma coisa que os bolivianos não sabem: fazer comida com pouco óleo. Pedi um bife que boiava, (argh!). E claro que isso irá resultar em um intestino solto no futuro; foi só uma questão de espera.

Proximidade com a comida e com as pessoas do local. Vamos conhecendo os bolivianos e percebendo a discrepância entre eles. Uns muito simpáticos, outros rios de grosseria, mas no time da simpatia, encontrei uma menininha linda, chamada Carolina. Ela deve ter uns 5 anos de idade e é uma fofa (assim como qualquer criança boliviana), porém, ela tem algo a mais: não tem medo dos estrangeiros e conversou coma gente numa boa.

A bolivianinha estava aprendendo a escrever e a contar e foi revelando no papel as letras que compunham os nomes das brasileiras bobocas, que estavam perdidamente apaixonada ela. Carolina ganhou meu coração de vez quando disse “Tus cabellos son lindos. Me gustaría ser negrita como tu”. Putz haja coração, quase coloquei ela debaixo do braço e levei pra casa.


Assim foi nossa passagem ligeira por Santa Cruz, que sem dúvida, foi marcante.



próximo capítulo: o perigoso caminho ente Santa Cruz e Cochabamba
*imagem: maíra brito

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Parte 2 - Quijarro e o Trem da Morte

1ª Parada – Puerto Quijarro
Calor, poeira e Zona Franca


Puerto Quijarro foi fundada por Antonio Quijarro e se conecta o resto do país com estradas e ferrovias. A mais conhecida é a que possui o famoso Trem da Morte. Quijarro é quente à beça e só tem, além do calor, poeira e uma Zona Franca marotíssima.

Lá é possível comprar José Cuervo por U$ 8, Red Label por U$ 17 e Black Label por U$ 27. Mas nem só de álcool vive a Zona Franca; produtos de beleza, como Victoria’s Secret saem por preços simbólicos e perfumes são uma verdadeira pechincha, como o Calvin Klein One por U$ 44.

Depois de comprar, chega a hora do descanso. Uma festinha com karaokê boliviano e Absolut anima o pessoal da viagem. O resultado? Muitas risadas e uma ressaca colossal no dia seguinte; dia de sair para pegar o tão famoso Trem da Morte.

O Trem da Morte
Desespero à 20 km/h


Quando me falavam sobre o Trem da Morte eu queria saber o porquê do nome. Será que era tão zela assim?

Há várias teorias em torno da nomenclatura. Uns dizem que é por causa dos assaltos que existiam há uns 30, 20 anos trás; outros especulam que é pelos passageiros que viajavam “surfando” em cima do trem e alguns ainda comentam sobre uma epidemia de febre amarela que assolou a Bolívia há algumas décadas e o trem teria se tornado transporte para corpos. Mas sem dúvida a melhor resposta que ouvi foi de uma senhora muito simpática que conheci na fila pro Trem. Quando perguntei sobre o nome ela me respondeu bem humorada: “É porque a morte demora a chegar, que nem o trem”. Hahaha! Que bem humorada, não? Não, era a pura verdade.

Esse trem, com o percurso de Puerto Quijarro até Santa Cruz, vai no máximo à 25 km/h, e na melhor das hipóteses! Escolhi o Super Pullman por ser um dos menos piores, mas tem uma galera que gosta de aventura e se arrisca em uns mais populares, porém, eu não recomendo. Além de ser extremamente desconfortável (você pode ir com uma galinha no seu ombro ou com uma criança desconhecida no colo), é perigoso. Não fui nele, mas quem foi adverte: é uma experiência boa, mas se for feita, vá de galera.

O Super Pullaman até que é limpo e tem ar-condicionado, que vira um gelo depois de algumas horas de viagem; eternas diga-se de passagem. Saímos por volta de 16h, 16h30, de Quijarro para chegar em Santa Cruz umas 10h da manhã do dia seguinte. Dores nas costas, noite mal dormida e corpo sem banho. Era só o começo da aventura.





próximo capítulo: Santa Cruz de la Sierra
*imagem: de uns dos membros da excursão (esqueci de quem eu peguei)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aventuras na Bolívia e no Peru - Parte 1


A partir de hoje começo a contar como foi a viagem mais louca da minha vida. Desde a idéia, até a volta, vários causos vão passar para aqui só para dar uma pequena noção das maravilhas e dos desesperos vividos por 22 dias.


A idéia

Sinceramente eu não sei de onde eu tirei a brilhante idéia de ir para Machu Picchu de ônibus. No começo, quando eu dizia isso pros meus amigos, eles assustados me perguntavam “Sério? Você é louca!”. E eu toda orgulhosa dizia que sim.

E foi mais ou menos em Santa Cruz ou Cochabamba, não sei, quando me dei conta da loucura que estava fazendo. Ninguém normal vai de Brasília até Cuzco de ônibus, e justo, era aquilo que eu e mais uns 40 estávamos fazendo. Às vezes, quando as costas estavam moídas ou olhos fundos pelo pouco sono, batia um arrependimento, mas logo depois toda dor e cansaço sumiam, assim como o remorso.

A preparação

Depois de Santa Cruz o frio aperta e eu precisava de roupas, muitas roupas de frio, melhor dizendo, e assim eu me desesperei. Apesar de fazer um friozinho bem xarope aqui, eu não tinha NENHUMA blusa de manga ou casaco grosso, nem calças confortáveis para andar muito no clima andino.

Dessa maneira, comprei uma calça bailarina, uma de tactel (que eu nunca mais vou usar), e duas blusas de manga comprida, além de um casaquinho. Como eu já sabia que isso não seria o suficiente, peguei emprestado mais duas blusas, um casaco e um corta-vento. Quem quiser fazer uma viagem dessa, vá preparado: a média em La Paz e em Cuzco é de 7°C, além do vento que coloca a sensação térmica lá em baixo.

Escolhi a trilha de 2 dias já sabendo que eu sou mole e sedentária, mas para não chegar muito mal lá, eu prometi que assim que eu entrasse de férias, caminharia todo dia. Ledo engano. Como toda promessa que eu faço, descumpro, caminhei pouquíssimos dias e cheguei lá do mesmo jeito que saí daqui. Mas dou a dica: faça um exercício, vai fazer falta.

11 de julho – A saída

A hora prevista para saída era 9 da manhã. Com um friozinho na barriga saímos com uns 40 minutos de atraso, cheios de idéias e desejos. Esse começo foi bem bacana porque foi o momento em que o pessoal se conheceu. Tinha gente de Brasília (a maioria), gente de Goiânia, até do Piauí, que tava encarando aquela aventura só pra conhecer a cidade perdida dos Incas.

Até chegar na Bolívia, passamos por São Paulo, Mato Grosso do Sul, fronteira e carimbo dos passaportes, até o hotel, em Puerto Quijarro, bem ali, colado com Corumbá.




próximo capítulo: Quijarro e o Trem da Morte
*imagem: Google

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Breve comentário

Sim, esse blog ainda existe.
Mais de um mês sem atualizar volto só pra comentar o que vi no Fantástico esse domingo.
Lá deu que o "escritor" Paulo Coelho estava perto de alcançar o número de dez mil exemplares vendidos em todo o mundo.

Quanto desperdício de papel...

ps: depois, no dia em que meu computador voltar a funcionar, eu escrevo minhas aventuras dessas férias.