quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Fim do festival II - A Festa

Só não são tão boas quanto os filmes do festival. As festas de abertura e encerramento são um prato cheio pra quem quer ver gente famosa ou quase-famosa, expor a figura ou simplesmente comer uns salgadinhos de graça. Ontem eu tava lá no Teatro Nacional, e me diverti um bocado.

Coxinha, empada e gente se matando por uma tulipa de cerveja. Todos os típicos da cena “eventos de graça” estavam lá [inclusive eu!]. Só faltou o cara do incenso.

Mas os filmes que interessam. Repasso alguns dos vencedores da Mostra Competitiva [Prêmios Oficiais]:

21 - Quarta-feira

Um ridículo em Amsterdã
[de Diego Gozze, 13 min, SP].
Espalhadas pelo ar [de Vera Egito, 15 min, SP]: Um absurdo não ter levado nada.
Amigos de risco [de Daniel Bandeira, 88 min, PE]: Outra injustiça...

22 - Quinta- feira

Café com leite
[de Daniel Ribeiro, 18 min, SP]: Levou o Prêmio Aquisição Canal Brasil, mas acho que não foi o suficiente.

Décimo segundo [de Leonardo Lacca, 20 min, PE]: Melhor direção. O diretor agradeceu a quem gostou e a quem não gostou. O prêmio foi um cala a boca nas vaias da quinta-feira.

Meu mundo em perigo [de José Eduardo Belmonte, 92 min, DF]: Melhor ator, Melhor ator coadjuvante. Ver o ator Eucir de Souza chorando de novo deu gosto. Foi um choro de alegria, como disse o próprio.

23 – Sexta-feira

O presidente dos Estados Unidos
[de Camilo Cavalcante, 23 min, PE].

Uma [de Nara Riella, 13 min, DF].

Cleópatra [de Júlio Bressane, 116 min, RJ]: Melhor filme, Melhor atriz, Melhor Fotografia, Melhor Direção de arte, Melhor Trilha sonora, Melhor som. O exagero de prêmios do filme de Bressane revoltou a platéia do Teatro Nacional. As tímidas vaias se tornaram coletivas com o anúncio de Melhor Filme.

24 – Sábado

Enciclopédia do inusitado e do irracional
[de Cibele Amaral, 17 min, DF]: Melhor ator. Wolney de Assis [que também está em Meu mundo em perigo] me encantou no curta de Cibele Amaral.

Trópico das cabras [de Fernando Coimbra, 23 min, SP]: Melhor direção, Melhor atriz, Melhor fotografia. Levou um tantão de prêmio. Vai entender...

Falsa loira [de Carlos Reichenbach, 101 min, SP]: Melhor atriz coadjuvante - Djin Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla.

25 – Domingo

Tarabatara
[de Julia Zakia, 23 min, SP]: Deviam ter dado mais atenção ao curta 35 mm de Julia...

Eu sou assim – Wilson Batista [de Luiz Guimarães de Castro, 16 min, RJ]: Melhor montagem. Ganhou também no Júri Popular. Junto com Espalhadas pelo Ar e Café com Leite, foi meu curta predileto.

Chega de Saudade [de Laís Bodansky, 92 min, SP]: Melhor direção, Melhor Roteiro. Vencedor no Júri Popular. Vai bombar na telona em 2008.

26 – Segunda

Busólogos
[de Cristina G. Muller, 12 min, SP].
Eu personagem [de Zepedro Gollo, 16 min, DF].
Anabazys [de Paloma Rocha e Joel Pizinni, 90 min, RJ]: Melhor montagem, Prêmio especial do Júri. As falas de Antônio Pitanga explicam porque as pessoas continuam a fazer cinema: “Viva Glauber!”.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Fim do Festival



A 40ª edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro acabou. Filmes cabeças, incompreensíveis ou pura besteira mesmo agora só ano que vem. Bati meu recorde: só não fui na sexta e na segunda [na segunda por puro cansaço].

O Festival é um barato: tem a tribo da chinela rasteira [a fauna mais típica do local], as deslocadas com bolsa platinada...Tem a galera que empacou no tempo e acha que tá nos anos 80.... E um monte de desconhecidos com rostos familiares. Mas Brasília é assim mesmo...Minha pequena ilha quadrada no meio do Goiás, com gente que não conhece rua de paralelepípedo.

Mas também sempre tem o pessoalzinho efusivo demais: sorrisos, gritos, aplausos, tudo em demasiado. Um saco.

Além disso, rola a parte que tem que sentar no chão pra ver o filme, levar uns chutes, querer esganar o pessoal que fica zanzando durante os filmes e ver gente famosa. Tudo incluso no pacote do Festival.

Mas vamos aos comentários, porque é isso que interessa. [infelizmente somente da Mostra Competitiva...]

21 - Quarta-feira
Um ridículo em Amsterdã [de Diego Gozze, 13 min, SP]: Não gostei, achei disperso demais o falso documentário produzido.

Espalhadas pelo ar [de Vera Egito, 15 min, SP ]: O Projeto de Conclusão de Curso da aluna da USP me encantou. Uns dos melhores curtas ao meu ver. Sensível, delicado, como toda transformação feminina.

Amigos de risco [de Daniel Bandeira, 88 min, PE]: O filme criado com magros R$ 200 mil, encantou a platéia do Cine Brasília. Até que ponto agüentamos as pressões? Quem são as pessoas ao nosso redor? Como as amizades são solidificadas. Amigos de risco em um certo momento cansa pela longa saga dos protagonistas, mas vale a pena, sem dúvida.

22 - Quinta- feira

Café com leite [de Daniel Ribeiro, 18 min, SP] : Não conto a sinopse do filme se não perde toda a graça. Mas a frase do filme resume tudo: “É difícil se acostumar quando as coisas mudam. Mas depois...ah depois sei lá.”

Décimo segundo [de Leonardo Lacca, 20 min, PE]: Com o mesmo protagonista de Amigos de Risco (Irandhir Santos, ganhador do troféu de ator coadjuvante do Festival do ano passado, com Baixio das Bestas) causou vaias e aplausos na sessão de 20h30. Acho que o pessoal não entendeu. Décimo segundo é assim mesmo: desconfortante.

Meu mundo em perigo [de José Eduardo Belmonte, 92 min, DF]: O cineasta formado em cinema pela UnB , e que trabalhou com Nelson Pereira dos Santos (!!!), me fez sentir um nó na garganta com Elias e seu mundo em pedaços.

23 – Sexta-feira

O presidente dos Estados Unidos [de Camilo Cavalcante, 23 min, PE].
Uma [de Nara Riella, 13 min, DF].
Cleópatra [de Júlio Bressane, 116 min, RJ].

Como havia dito não fui na sexta. Mas as fofocas que ouvi foram que todos os filmes desse dia foram chatos. O do Bressane era o mais aguardado e foi o mais detonado no saguão do Cine Brasília....

24 – Sábado

Enciclopédia do inusitado e do irracional [de Cibele Amaral, 17 min, DF]: o melhor do dia. O curta inspirado nos filmes de terror dos anos 20, deixou todo mundo em casa. A base das gravações foi na biblioteca da UnB.

Trópico das cabras [de Fernando Coimbra, 23 min, SP]: Achei confusa a viagem do argentino [brasileiro?!] no seu Chevette 79 ...

Falsa loira
[de Carlos Reichenbach, 101 min, SP]: É do mesmo diretor de Garotas do ABC. Não entendi lhufas, mas valeu pelas risadas com Maurício Mattar, Cauã Reymond e Rosanne Mulholland [que também faz parte do elenco do filme do Belomnte].

25 – Domingo

Tarabatara [de Julia Zakia, 23 min, SP]: Está no Top Curtas pra mim também. A fotografia arrasou.

Eu sou assim – Wilson Batista [de Luiz Guimarães de Castro, 16 min, RJ]: Pra quem gosta de samba um prato cheio. Maurício Tizumba é Wilson Batista, sambista carioca de primeira linha, que na ficção, escreve suas memórias e relembra aventuras vividas na década de 50. Merece nota 10 da mesma maneira que o filme Noel – Poeta da Vila. Noel e Wilson protagonizaram uma polêmica famosa, geradora de sambas inesquecíveis como Rapaz Folgado, Lenço no Pescoço e Palpite Infeliz.

Chega de Saudade [de Laís Bodansky, 92 min, SP]: Sempre vai ter um pra dizer “ahh, mas é Globo Filmes né?”. E daí? Globo Filmes ou não foi lindo. Conta com um elenco estrelar, mas vale a pena mesmo pela lição de vida dada e pelos convidados especiais. Elza Soares e Marku Ribas representaram muito bem a trilha sonora assinada por Bid, que não recebeu o número de palmas devidas. Sabe Mandingueira? Que a Elza canta..o clipe tem o seu Jorge e a Fernanda Lima? Então a música é dele!

26 – Segunda

Busólogos [de Cristina G. Muller, 12 min , SP].
Eu personagem [de Zepedro Gollo, 16 min, DF].
Anabazys [de Paloma Rocha e Joel Pizinni, 90 min, RJ].

A preguiça me fez perder Glauber Rocha na telona. Dizem que foi bacana.

.........

Acho importante de dizer que todas as críticas [positivas e negativas] são subjetivas ao extremo e não podemos jogar fora o trabalho de meses e anos desses cineastas. Esculachar o trabalho do alheio é fácil e se chegaram ao Festival foi por algum motivo.

Mas era só isso mesmo, até o próximo.

*Imagem: Google

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Racismo velado

20 de novembro de 1695 : morre Zumbi no Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.

21 de novembro de 2007 : eu abro o jornal e começo a ler as matérias sobre o Dia da Consciência Negra e me assusto.

Por todo país passeatas, palestras, manifestações sobre o tema. Uma semana só para falar da negritude, talvez um mês. Festas nas Universidades, shows de graça.... O povo preto tá em pauta.

No meu país miticamente democrático
todo são iguais perante a lei, dia de comemorar é 13 de maio e as cotas raciais causam furor porque "qual é a diferença entre brancos e negros?" ou "é injusto que os negros possuam duas chances no vestibular".

Leio que um menino se acostumou com racismo. Do lado, uma menina de pele preta, com curtos cabelos escovados diz " que não chega a ser negra", mas o pai dela é. E ainda me questionam se é preconceituoso vestir uma blusa 100% negro.

Nosso [meu?] povo mesmo recém liberto, não aprendeu a valorizar sua cor; o comentário da menina no jornal é prova do preconceito-debaixo-do-tapete. A camisa 100%, as cotas, as tranças e black power são as afirmações que o meu [seu?] povo preto não tem.

Parece sutil, mas os produtos de beleza, os outdoors, os âncoras de jornal, todos eles ajudam a construir a identidade negra perdida e não consolidada. O dia 20 de novembro não deve O dia de afirmação, mas uns dos dias. Um país que seus habitantes se acostumaram com o racismo e vêem o embranquecimento como corda de ascensão tende à um apartheid eterno e com marcas mais profundas que a do açoite. As marcas físicas e psicológicas que estão na população negra brasileira, atada à pobreza pela discriminação, não vão se apagar.


Espero por dias melhores.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Lembrete

Há dias quero escrever isto.

Pra quem gostou de O ano em que meus pais saíram de férias, tem também o filme Machuca.

Nessa onda de infância e regimes totalitários, o filme espanhol, lançado em 2004, traz Gonzalo Infante, Silvana e Pedro Machuca, três crianças que criam uma amizade durante a transição dos governos de Allende e Pinochet.

Em meio de um caos em que se encontrava Santiago do Chile, as crianças constroem uma relação que supera barreiras políticas, econômicas e sociais.

Merece. Muy precioso, como diriam...

sábado, 3 de novembro de 2007

"Brilha uma estrela"

Vou fechar a trilogia cinematográfica aqui no blog com um documentário: Peões de Eduardo Coutinho.

Eduardo Coutinho é um cineasta das antigas e ficou conhecido com Cabra Marcado pra Morrer. Assisti dele Babilônia 2000 e é fenomenal.

Coutinho utiliza a mesma abordagem de Babilônia em Peões. Perguntas feitas pelo diretor, praticamente em off, com a câmera atenta nos entrevistados. O suor, o riso, o olhar desconfiado... Nada fica de fora.

Peões mostra os metalúrgicos, companheiros de Lula, em 2002, ano da eleição e primeira vitória esquerda. Dói, dói tanto ver a fé de um povo que acredita na política e na revolução. As coisas cresceram demais e perderam a dimensão.

Homens e mulheres marcados pelas demissões nos anos 80, um mar de gente que acreditava [e acredita] na estrela vermelha. Uma mulher chega a dizer: "Ainda vou fazer um café pro meu presidente, lá em Brasília. Lula é meu pai, meu irmão meu tudo". Assutador.

Aí me pergunto cadê aquele cara de barba mal-feita, fumante, espontâneo, popular. A ideologia de Lula se perdeu, quando em 2003, ele recebeu a faixa no Planalto. Ele tinha que mudar sim, mas será que tanto? Será que tinha que ser assim? Não sei.

Não sei disso e não entendo como tanta gente pode agradecer a Wolks mesmo depois das demissões. Coutinho fez um documentário pra deixar a boca aberta e a mente pensante.

Em um determinado momento, uma das entrevistadas diz que sua parte predileta do hino é: "verás que um filho teu não foge a luta", e que Lula seria a representação desse trecho do hino.

Eu não entendo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Passando pelo Passado

Cinema de novo.

Antes de qualquer coisa: estréia hoje, [sim hoje!] Noel - Poeta da Vila. O filme dirigido por Ricardo von Steen está em três salas, aqui em Brasília.
....

Pois é, andaram falando de filmes latinos, e sem dúvida eles também merecem nossa atenção. São inúmeros os títulos de destaque dos nossos vizinhos, mas hoje recomendo El Pasado.

O filme , do conhecido Hector Babenco, é uma co-produção Brasil-Argentina. Baseado no romance de Alan Pauls, a narrativa revela a história de Rimini, um homem atordoado com a lembrança da ex-mulher Sofia, que mesmo depois da separação, ainda se faz presente em sua vida. O elenco traz o queridinho [e talentoso!] Gael García Bernal e novamente, Paulo Autran.

A película que abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo está em cartaz em toda cidade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Férias para a ditadura

A pauta de hoje é cinema.

Domingo, assisti um filme bem bacana: “O ano em que meus pais saíram de férias”. Dirigido por Cao Hamburger e com um time da pesada. Paulo Autran [saudoso], Caio Blat e outros globais fazem parte da trupe.

Mas o destaque, claro, fica para as atuações das crianças Michel Joelsas e Daniela Piepszyk, Mauro e Hanna, respectivamente.

A história é de um menino que adora futebol e mora em Belo Horizonte com pais. A ditadura, pano de fundo do enredo [junto com a Copa de 70, no México], faz que os pais de Mauro o deixem na casa do avô, em São Paulo. Mas as coisas se tornam um pouco mais complicadas com a chegada do garoto.

Não vou contar a história, se não perde a graça. Mas queria dizer que o filme vale muito a pena, pelo álbum de figurinhas, pelo jogo de botão, pela paixão pelo futebol [de jovens, adultos,todo mundo, ah!, e meninas também! Hanna joga um bolão! ; ) ]. Todas coisas tão simples e que com certeza fizeram parte de cada um de nós, em um determinado instante.

O filme, que foi lançado em 2006, deve estar nas locadoras e merece uma atenção. É uma das obras de destaque desde a retomada cinematográfica brasileira.

Fica a dica de deixar a ditadura hollywoodiana de lado e apostar em películas tupiniquins.

Ah sim, pra quem quer apostar em filmes nacionais, está prevista para novembro o lançamento do esperado Noel – Poeta da Vila, com Camila Pitanga e Rafael Raposo, no papel do músico.

Até o próximo filme.