terça-feira, 5 de junho de 2007

A crônica das saudades e das lembranças

Engraçado como às vezes as lembranças insistem em permanecer.
Esses dias ela lembrava dele de um jeito tão triste, tão melancólico, tão saudoso... Saudades do que ela não viveu.
É estranho acreditar nisso, mas ela tinha um dom raro: o sentir antes de viver - chorar de ausência sem ter tido a presença.

Ela sentia falta das conversas com ele na cama, depois do amor; falavam de abrobrinhas, de diferenças astrológicas e de como roubar um banco. "Nunca menos que 10 mil", ele dizia. Ela se perguntava da onde ele teria tirado aquele conselho. Mas só. Nunca falaram dos seus sonhos, desejos ou medos; no máximo elogios doces dele e alguma sacanagem pra esquentar a situação. Ela imaginava o dia que falariam do seu cotidiano, da vida mais abissal de cada um.

Ela sentia o sorriso dele, a risada,o sono e o cansaço. Ela nunca compartilhou seu sono com ele. Talvez por aprender que existe diferença entre amar, fazer amor e dormir com uma mulher. O sono dele já pertencia a outra, e o dela vagava em busca de repouso.

Ela sentia o telefone tocar e emitir a voz dele, ou os braços largos pelo seu corpo, confortado de qualquer mal que pudessa aflingí-la.

Em determinado momento ela parou de sentir, ou melhor, sentia um peso leve, um frio aquecido, uma dúvida certeira. Ela sentia a morte. Mas não a morte, a sra.morte, e sim a do baralho da cigana que anuncia a metamorfose. As lembranças dela mudaram de lugar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cada dia melhorando mais!Gostei :)