quarta-feira, 30 de abril de 2008

Salva-vidas

Era uma vez eu, eu e os meus milhares de amigos.

Em uma explicação subjetiva diria que o fato de ter muitos amigos ocorre por eu ser aquariana. O signo de ar, penúltimo do zodíaco, Aquário confere muita fraternidade para quem o carrega em alguma de suas casas astrais, e como meu Sol está em Aquário não seria diferente.

Em uma explicação mais objetiva e menos modesta, tenho muitos amigos por ser gente boa. Simples assim.

Mas teve uma época que eu tive muitos amigos, que hoje os classificaria como “amigos de buteco”. Não que não valham muito, mas por serem típicos dessa fauna.

Todo grupo de amigos tende a acabar um dia, cedo ou tarde, por motivos vários. Aquele que eu fazia parte durou muito: cinco anos após, lá estavam todos, ou quase, sempre com a cerveja gelada na mão e com muita energia.

Mas todo carnaval tem seu fim, como diria a música, e o nosso chegou sem pedir licença.

Vendo aquela minissérie Queridos Amigos, percebia a cada capítulo como a história da tevê parecia (ou não) com a história daqueles meus amigos. Nós sempre estávamos dispostos, éramos descolados, modernos e felizes. Minto, felizes não, mas tínhamos o grande dom de acreditar “que tudo estava bem o tempo todo”, e foi nesse embalo que a ponta do iceberg surgiu.

As amizades devem ser baseadas na cumplicidade, respeito e confiança, mas essa tríade não caminhou sempre conosco. Um dia, uma mentira foi contada, alguém não aceitou mais aquele tipo de política e rompeu laços aparentemente indestrutíveis. Léo, também aquariano, protagonista da minissérie, disse uma vez “Sinto saudade do que fomos”, e eu em uma nostalgia às avessas digo “Sinto saudade do que não fomos”.

A relação criada naquele grupo era uma utopia doce e viciante; quanto mais se tinha, mais se queria, porém, alguns enjoaram da docura.

De pouco em pouco, vi vários, daqueles que jurei amigos, partirem. Uns acham outros grupos, outros acharam a si mesmo e no final, senti uma certa leveza dos que foram para outros rumos.

Outro dia, conversava com uma dessas, que trilham novos caminhos, e a última mensagem do bate-papo foi “O último que sair desse barco afunda”. Os salva-vidas já estão a postos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Verdades de Blog

Outro dia li num blog sobre um fim. Um desses tristes fins que você torce para que não dure muito. É estranho e engraçado, porque às vezes eu leio coisas no blog do alheio e penso "será que a pessoa passou mesmo por isso?". Normalmente não. As pessoas custam a acreditar, mas se inventa demais nesses casos. São histórias ué, coisas que foram criadas, outrora vividas, mas nem tudo é verdade. Nada é verdadeiro o tempo o todo, assim como aquele fim que eu li. O que mais me impressionou é que lá no fundo eu sabia de quem se tratava. Era uma menina bonita, de olhar meigo e sol em um elemento de ar. As histórias ficam mais tristes quando se enxerga através do espelho. E mais belas também.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Salve Salve!!!

Acordei e nem me dei conta de que dia era. A televisão me lembrou: 23 de abril.
Hoje, mais que nunca queria estar no Rio de Janeiro. Ali na rua da Alfândega, do lado do Parque Sant’Ana, quase na Vargas. Simplificando, na Igreja de São Jorge, no Centro da cidade.

Dia 23 de abril é dia de São Jorge. Ogum pra alguns, e Santo de devoção pra mim. Ano passado, um amigo meu estava lá e me descreveu a festa: Católicos misturados com adeptos ao Candomblé e Umbanda. Blusas vermelhas, brancas e azuis. Brasileiros e estrangeiros. Todos juntos. Celebrando a força do meu Guerreiro Santo, tão complexo como a fé do povo do meu país.

Eu queria estar lá. No meio de tanta gente, com velas acesas e tambores falando. Ali de joelhos, em frente da imagem, na Igreja pequenininha, no fim do Saara. Mas tempo e dinheiro não me permitiram estar lá. Não importa. Fé remove montanhas e em pensamento estou na Cidade Maravilhosa, em dia do jogo do Mengo, em tempos de sincronia religiosa.

Que São Jorge Guerreiro ilumine o caminho de todos nós.


“Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge.
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter, para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem. Amém.”

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Nova Postagem

Escrever sobre o que?
As postagens andam lentas, esparsas...vagas.
Mas tem o bar. O papo do vizinho. A dor de cutuvelo. A paixão recém saída do forno. O debate da tevê. A música nova na rede. O sapato novo. A chuva que cai lá. O sol que sai aqui. O sorriso sereno. A risada calma. A paz de espírito. Tudo caminha. Como vai? Devagar e sempre, por que sei lá, de repente...

sábado, 12 de abril de 2008

Peito nú

Ela acorda com o tremor dele.
Quando dorme tem espasmos musculares que a assustam um pouco.

O ângulo de visão dela é um peito nú, com poucos pêlos, mas o suficiente para se distinguir homem. Homem. Ele era seu homem, não pra sempre, mas por aqueles instantes.

E por aqueles instantes ela se vagava. Passava pelas linhas do tempo e se perguntava "onde estaria o outro?". Bebendo em um bar sujo? Trabalhando como escravo? Ou entre as pernas de outra?Isso era o que mais a incomodava.

O orgulho e o rancor a transformaram em dois castanhos oblíquos e interrogativos. Seu sorriso era um marfim esperançoso e sua risada era um soluço de desespero.

Uma mistura de sentimentos, dúvidas, certezas, premonições, sonhos e devaneios.

Ela pensou no quanto queria caminhos novos e finais felizes.
Cansou de pensar.
Voltou a dormir.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cores e calores de uma tarde quente

Cor
Color
Calor
Fevor
Febre
Tese
Tenso
Denso
Duro
Puro
Curto
Corte
Forte
Dose
Dor
Calor
Color
Cor

terça-feira, 1 de abril de 2008

Uma questão de fé II

A mulher negra de ancas largas abre a bolsa e de lá retira um crucifixo. Com uma mão ela segura forte a cruz e com a outra me toca. Ela começa a orar em línguas e penso “quanta gente nem sabe o que é isso”, e suas mãos gordinhas começam a me esquentar. A voz vai subindo e continuo a pensar sobre a dimensão da fé de cada um e a sorte de compreender o metafísico. “Feliz é aquele que crê no que não vê”, eu penso. Pode ser em Deus, em deuses, em santos, anjos, fadinhas, orixás ou duendes. A fé não se compra, nem se impõe, se adquire. Eu tenho fé. Acredito em diversas coisas como na oração que aquela mulher iluminada faz. Sua mão esquenta mais e mais. Para quem crê é o Espírito Santo agido.