domingo, 29 de junho de 2008

Uma vitória verde, amarela e negra.

Hoje se comemora os 50 anos do primeiro título mundial do país do futebol. Após a triste derrota de 1950 em pleno Maracanã e a inexpressiva participação na Copa da Suíça (a Seleção empacou nas quartas-de-final), em 1954, o time comandado por Vicente Feola foi para Suécia fazer o que não tinha feito nas duas copas anteriores: trazer a taça.

Mas o episódio mais marcante da Copa está nos bastidores. Surgiu um relatório recomendando a escalação do maior número possível de jogadores brancos, o que ocorreu nas duas primeiras partidas. Contra a Áustria, Didi foi o único negro a jogar. Após o empate com a Inglaterra o quadro mudou e Pelé e Garrincha foram escalados.

Racismo no futebol, contudo, não era daquela época. Em 1920, evitou-se ao máximo a presença de negros no campo do Fluminense, em um jogo assistido pelo rei Alberto da Bélgica. E na década de 30, o jogador Leônidas acabou sendo afastado do jogo por seus companheiros não treinarem com ele.

Em um campeonato marcado pelo racismo declarado, os maiores destaques são os jogadores negros. Comento dois: Pelé, um mineiro de 17 anos, intitulado Rei; e Valdir Pereira, mais conhecido como Didi ou como o Príncipe Etíope, alcunha dada pelo gênio da literatura Nelson Rodrigues.

Mas antes de Bellini imortalizar o gesto de levantar a taça com as duas mãos sobre a cabeça e do Brasil vencer os donos da casa com gols de Vavá (2), Pelé (2) e Zagallo (1), é bom lembrar de Didi. Foi o Meia, que começou a carreira em 1943, lá em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, quem classificou a Seleção Brasileira com a história “folha seca”. Um negro.

Os campeões mundiais

1 Castilho 2 Bellini 3 Gilmar 4 Djalma Santos 5 Dino 6 Didi 7 Zagallo 8 Oreco 9 Zózimo 10 Pelé 11 Garrincha 12 Nilton Santos 13 Moacyr 14 De Sordi 15 Orlando 16 Mauro 17 Joel 18 Mazzolla 19 Zito 20 Vavá 21 Dida 22 Pepe

Técnico: Vicente Feola



Jogos do Brasil na Copa de 1958:

1ª Fase:
08/06 - Udevalla – Brasil 3x0 Áustria
11/06 - Gotemburgo – Brasil 0x0 Inglaterra
15/06 - Gotemburgo – Brasil 2x0 União Soviética

Quartas-de-final: 19/06 Gotemburgo – Brasil 1x0 Gales
Semifinal: 24/06 - Estocolmo - Brasil 5x2 França
Final: 29/06 - Estocolmo - Brasil 5x2 Suécia




*imagem: Google

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Suporte

Ela me acorda com aquele beijo cotidiano, cheirando a café. Odeio café, mas por ela, suporto o amargor misturado com o enjoativo.

Ela liga o som e coloca Chico Buarque. Não sei o que mais me desespera: a voz dele ou a repetição da Rita. É.. ela levou tudo do cara; devia ter levado o som também, assim, não me torturaria tanto. Odeio o Chico, mas por ela, ouviria a mais desafinada melodia.

Ela sempre compra comida natural. Insossa.
Sempre caminha no parque aos domingos. Desgastante.
Sempre lê Milan Kundera. Leve demais.
Sempre deixa os sapatos na porta. Demasiado ritualístico.

Odeio tudo isso, mas por ela, suportaria qualquer coisa.

sábado, 14 de junho de 2008

Verde e Rosa de luto

Hoje a Estação Primeira acordou de luto. A Mangueira e o Brasil perderam uma das vozes mais marcantes que existia. Jamelão, conhecido por não gostar de ser chamado de “puxador”, faleceu hoje, no Rio, de infecção generalizada.

Lendo algumas notícias, percebo o carinho que tinham por ele e fico feliz. Apesar da tristeza da partida, o céu está verde e rosa e em festa, como diria uma mangueirense por aí. Zeca Pagodinho disse que enterro de sambista não pode ter chororô, tem que ter alegria. Que seja feito assim então. Vou escutar nas alturas um LP Lupicínio, cantado pelo Jamelão, seu melhor intérprete.

Pranto de Poeta - Cartola

Em Mangueira, quando morre um poeta, todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque, sei que alguém há de chorar quando eu morrer
Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço que alegra a gente
Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro ou de um tamborim

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Parabéns, meu bem

Com a preguiça habitual, ela acorda e o vê sorrindo. Com os mesmos dentes amarelados de cigarro e com a gargalhada única, otimista.

"Bom dia querida". Ele diz docemente com seus olhos cor de mel.
"Bom dia", ela responde, como em qualquer outro dia.

Por horas ficam na cama entrelaçados um nos braços do outro. Lembram histórias e dores do passado, coisa sem cor, cheriando a mofo. Até que chegavam em suas histórias e ele a recorda da sua primeira declaração de amor. Seu sorriso é de desdem. O marfim dos dentes dela solta uma risada tão debochada, que constrange até mesmo as paredes bege-claro.

Ela não percebeu o mal-estar, assim como não reparou nas flores ao redor da cama, no café da manhã caprichado e na mudança do porta-retrato.

Os lábios moldados pela barba ruiva murchou até parecer flor morta.

Ele só queria que as amêndoas dissessem: "Parabéns, meu bem".

terça-feira, 3 de junho de 2008

Malandragem de amor

"Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem,
que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem
não existe mais..."

Homenagem ao malandro - Chico Buarque


E assim começava o sambinha do Chico, no mesmo lugar de sempre, cheio de rostos novos e desconhecidos, e com uma saudade ferrenha, abafada pelo som do surdo.

Ainda posso me arrepiar lembrando da dança no salão. Uma noite fria, de algum mês perdido no tempo e na lembrança de tanto lembrar. Naquela época, nem sabia das malandragens de amor, muito menos dos delitos que cometem nos corações.

O amor chega assim: com um olhar atento, cheio de colares no peito, com a blusa aberta aparecendo os pêlos; de calça branca, acompanhada por sapatos da mesma cor. O bigode, impecável, como a blusa bem passada listrada.

O amor bebe cerveja gelada, mas não dispensa uma cachaça. Tá sempre com um cigarro na mão, na outra violão.

O amor te pega pela cintura e rodopia por todo salão, cheira o cangote e te lasca um beijo. Daqueles de cinema ou de música dor de cotovelo.

A noite cai e o Sol se levanta preguiçoso, levando o amor e suas malandragens, dando espaço para a saudade, chorar as mazelas nas cordas de um violão.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um dia de caos

No mês passado, o Distrito Federal atingiu a absurda marca de 1 milhão de carros, praticamente um veículo para 2 habitantes. A ilha concreta (Brasília e seus arredores) está inundada de automóveis, e quando o transporte público - ineficiente - pára, o caos toma conta.

Hoje acordamos sem ônibus. Nove mil motoristas e cobradores reivindicam reajuste salarial de 20%, redução da jornada de 40 para 36 horas semanais, entre outros. Eles possuem todo o direito de luta, mas me bate um desespero ver um monte de gente plantada nas paradas de ônibus, torcendo por um milagre ou uma por uma carona e quando chegam no trabalho, quando chegam, atrasados e exaustos, ainda escutam desaforos dos chefes, incompreensíveis com seus carros 0km na garagem.

O Governo do Distrito Federal soltou na capa do Correio Braziliense que concordou em reduzir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o óleo diesel para evitar o aumento das passagens; só não disse a grana que rola solta entre os proprietários das empresas de ônibus, o que explica, em partes, o baixo salários dos empregados.

O metrô transbordou de gente pela manhã, o que deve se repetir no fim da tarde. Os funcionários do Itamaraty foram liberados pouco depois das 14 horas, para facilitar a volta para casa. Infelizmente nem todos possuem essa sorte.

Amanhã, tudo indica que as coisas voltam ao normal: ônibus e metrôs cheios, carros insandecidos pelas ruas e muita gente andando a pé, para economizar o preço absurdo de uma das passagens de ônibus mais caras do país.