sexta-feira, 6 de julho de 2007

Do outro lado da ilha

Quando penso em Cuba me vêm à cabeça Fidel Castro, Che Guevara, Gantánamo, Comunismo e outros mais. Esforçando-me bastante, proclamo discursos sobre a medicina e a educação cubana, e só. Talvez uma ilha bonita no meio Caribe, água azul...

Há uns quinze anos atrás, uma família brasileira desembarca em Havana: pai, mãe e três filhos. Funcionários da embaixada com direito a casa à beira-mar, carro e salário em dólar, num país em que se seus habitantes usarem roupas ou possuírem dinheiro do Tio Sam são acusados de traidores.

A alegria acabou por aí. Eram meados dos anos 90 e com certeza Cuba mudou muito de uns anos pra cá. Mas alguns desses relatos ainda devem permanecer iguais. As coisas que ouvi desfizeram a imagem de bela ilha, resistente e vermelha para um pedaço de terra no meio do mar, longe de tudo, de todos e com gente gritando por ajuda ou discretamente pedindo clemência.

A família brasileira em questão é negra, assim como os habitantes do país e, por isso, ironicamente, sofreram mais preconceitos do que no Brasil – a terra mítica miscigenada. Tanto mãe como filha foram inúmeras vezes confundidas com prostitutas, humilhadas em cafés e bares ou bateram de frente com policiais, dizendo que não eram cubanas e que o consulado resolveria tais confusões.

Com o filho mais velho do casal não foi diferente. O documento teria que estar sempre em mãos e nem sempre o zelo era válido: delegacia, junto com os outros garotos locais.

Ouvindo tudo aquilo me senti aliviada, porque apesar de muito preconceito, apesar de já ser sido confundida com prostituta, empregada doméstica (que são profissões muito dignas, diga-se), menina de rua, jamais pararam um carro do meu lado me oferecendo duzentos dólares por um programa. Pensando bem, o mais desesperador é saber que as meninas do secundário, na terra de Fidel, se prostituem por um estojo de maquiagem, ou por um perfume. Claro que no Brasil também ocorre isso, mas imaginar a dor de mais milhares de mulheres é desanimador.

Na mesma terra onde todos lêem e escrevem, a educação básica passa longe de certos estabelecimentos. Donos de padaria, por exemplo, fazem seus clientes e conterrâneos buscarem o pão na garagem, próxima à loja. Açougueiros negam carne visando lucro em cima dos estrangeiros, que lhe pagam propina. Dizer-se brasileiro, africano, ou qualquer coisa, menos cubano é um cartão de passagem para uma vida mais tranqüila.

E a saúde? Tem que ser muito boa mesmo para os absurdos que eles vivem. Gelo, mercúrio e sacarose, é a receita para o geladinho de morango, vendido por lá. Além de um pano, que é congelado, cortado em fatias, temperado, colocado no pão, e vendido como sanduíche de carne. Nosso churrasquinho de gato fica no chinelo.

Além de todos esses absurdos, deve haver muito mais que não se conta, que não se vê e que queima como chagas na vida desse povo pedindo socorro.

Pra mim o Socialismo não deu certo, só foi uma utopia imposta e que destruiu milhares de pessoas e sonhos. Em Cuba é assim, na China [que falaremos mais tarde] também, e em outros vários lugares que sentiram a obrigação de criar a igualdade. Suas populações estão com feridas difíceis de cicatrizar.

Cuba ainda vai ser a quimera revolucionária de alguns, mas será sempre a prisão ilhada de muitos outros.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. E muito bom ver que nem sempre "a grama do vizinho é mais verde". Problemas existem por todos os lados e em todos os lugares. Quisera eu importar as coisas boas de Cuba e exportar as coisas boas do Brasil. Fazer uma troca como um brinde de whisky de Lula e Fidel. Só acho que ruim com Fidel, pior sem ele, caso Cuba seja tomada pelos Norte Americanos. Temo muito isso, acho que não deve ser fechado como é, mas daí pra os EUA dominarem ali, é algo indesejável...

=}

Marjorie Chaves disse...

Mas então... a ilha de Cuba, bom , ainda não fui lá, mas irei... enfim, o Socialismo não deu certo, mas como daria? Utopia total! Ao menos aos 26 anos, com a maturidade não me iludo mais que e sei que certas coisas não irão mais acontecer...kkkkkkkkk

Mas vai ai uma piadinha: vc sabe porque o homossexualismo em Cuba é crime? Pq é um comportamento pequeno burguês!

Aehhaeauheaueuaeuauhuhuuhaueh


=*

Henrique César Santana disse...

Hmm. Não sei o que falar de Cuba senão dos estudantes brasileiros que passam anos lá estudando e encontram barreiras nas universidades brasileiras pra certificarem seus diplomas. Sem falar que mutas dessas instituições exigem que os recém-formados façam cursos de especialização aqui no Brasil, com ônus para os estudantes, com a justificativa de adequar o padrão cubano ao brsileiro.

É o que se falar mais ou menos bem, depois de ouvir por cerca de uma hora e meia uma médica recém-formada em Cuba e a mãe de uma estudante que protestavam pelos direitos e blá.

Bjos do Rique

Anônimo disse...

"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."