quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A CASA

"Os sonhos não encontram os respectivos donos quando homem e mulher dormitam entrelaçados."
Mia Couto em Terra Sonâmbula.


Eu me perguntava o que fazia ali, repetindo para mim mesma que quem vive de passado é museu, e era exatamente isso que eu vivia. Aquela casa era um museu de amargas lembranças rememoradas melancolicamente.

Já na porta podia lembrar de cada sorriso que ele emitia ao me ver; aqueles abraços com gosto de saudade que me levava ao sofá, cantinho onde eu pude ver pela primeira vez o olhar apaixonado dele.

A mesa da cozinha e o nosso pão compatilhado; a mesa da sala e o nosso prazer esparramado.Era cruel demais respirar aquela poeira de que já havia me curado.
A constatação mais indigesta era aquela cama, que permanecia ali, arrumada do mesmo jeito, tentando esconder como os lençóis já tinham sido usados, revirados, castigados.

Eu não me via ali, pois, aquele quarto, com paredes verde esperança, nunca foi meu. Nem sua cama marcada de medos e desejos, muito menos seus sonhos e sonos, compartilhados com uma outra, cujo cheiro ainda exalava, me nauseando.

Um comentário:

Salve Jorge disse...

A casa
Acaso?
Dobras cada asa
Cada parte
É o caso
Pela casa
Passas
E narra
Cada passo
O feito
Refeito
No espaço que não mais é tempo
Não é alento
Nem é alívio
Não tem jeito
Só uma casa
Onde não cabem mais suas asas
Mas ainda é o ninho
De algum passarinho
Que voou de sua vista...