quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Divagações de Quarta de cinzas

"Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela ainda está sambando"
Chico Buarque

Foi-se o tempo em que a quarta-feira de cinzas era um dia parado, sem comer carne ou sem beber álcool. Em Salvador, no Rio, em Recife, a festa não pára, vai até domingo.

Gosto demais de Carnaval para passá-lo aqui. Definitivamente Brasília não sabe aproveitar os confetes e serpentinas, e a prova cabal disso foi a intransigência que rolou no Galinho na segunda-feira. Vi pelo jornal e me entristeci. Essa cidade-zumbi que pouco tinha, corre um sério risco de não ter mais animação alguma.

Mas apesar do título e introdução vim falar sobre o filme que assisti ontem: O Caçador de Pipas. Baseado no romance homônimo de Khaled Hosseini, o filme é lindo e segue a risca o ritmo do livro.

Durante o filme várias frases e lições de moral surgem, mas a que mais me tocou sem dúvida é “Há um meio de ser bom de novo”. Após vários anos, Amir, o protagonista, ganha uma oportunidade de se redimir diante seu amigo de infância Hassan, e a partir daí a película se desenvolve.

Parei pra pensar na fala de Rahim Khan (amigo de Amir e de seu pai, Baba) e em um meio de ser bom de novo. Haveria realmente uma segunda chance na vida real?

Milan Kundera em A insustentável leveza do ser diz que “tudo será esquecido e nada será reparado”. Baba, em um instante, comenta que é melhor resolver logo as pendências, pois o tempo só piora as coisas. Não concordo com nenhum dos dois. Apesar de muitas vezes querer esquecer tudo, sei que é impossível e o tempo é capaz sim, de reparar certo erros e enganos. “Só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas”, escreveu Raduan Nassar em Lavoura Arcaica. Acredito na justiça do tempo e em um novo meio de ser bom de novo.

2 comentários:

Salve Jorge disse...

O justo da vida
É que nada é justo
Como cada coisa
Tem sua própria medida
Há sempre um custo
E alguma questão mal-resolvida
Mas sempre dá tempo
De cicatrizar alguma ferida...

Daniel Mello disse...

Não acho que Baba e Rahim Khan se contradizem...o tempo realmente piora as coisas e é mais dificíl solucionar as pendências depois que alguma coisa já está enterrada ou enferrujada...Mas eventualmente há chances de se tentar de novo, mas com o peso do tempo sobre elas, como foi o caso de Amir.
O tempo não é justo, é ciclíco, ao ponto de alguns dizerem que a história se repete.