quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Chuva crônica

“Era leve o vento que senti roçar a pele
Me arrastando como ao pólen.
Carregadas nuvens cobriam meu céu

Choveu, choveu.
Molhando minha terra seca.”

Ellen Oléria


(Te vi hoje indo pro trabalho. Nem teria visto, se não tivesse reconhecido o carro. Esse era o novo né? Preto, quatro portas, placa MCG. As inicias dela. Sorte a dela ter um homem tão atencioso...)

Quase ali, na altura da rodoviária, a chuva tornou a cair. Chovia como se lá em cima alguém estivesse tão triste, que não cabia em si. A tristeza devia ser tão intensa, que devia ser compartilhada com todos, a fim de amenizá-la.

Ela já havia chorado que nem a chuva de hoje. Teria chorado uma tristeza tão avassaladora que não pôde carregá-la sozinha. Levou consigo pai, mãe, irmãos, amigos, vizinhos, cachorro, papagaio e assim vai. Não podia acreditar que um amor tão doce e tão sereno como aquele podia acabar assim: num passe de mágica (como um soco no estômago, eu diria mais apocalipticamente).

As gotas fortes machucavam seus braços e ela se lembrou da época que ele tinha que ir de ônibus. Ele sempre reclamava do tempo, porque sempre tirava o guarda-chuva no dia errado. A vida era mais dura, mas eles eram muito mais felizes.

(Ele parece muito bem agora...Me esqueceu tão rápido....Deve ter sido numa dessas chuvas fortes que as lembranças nossas escoaram pelo ralo.)

Um comentário:

Eduardo Ferreira disse...

um dia, com muita fé, ainda conseguirei alcançar esse ritmo de narrativa.

lindo

Beijos