quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Racismo velado

20 de novembro de 1695 : morre Zumbi no Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.

21 de novembro de 2007 : eu abro o jornal e começo a ler as matérias sobre o Dia da Consciência Negra e me assusto.

Por todo país passeatas, palestras, manifestações sobre o tema. Uma semana só para falar da negritude, talvez um mês. Festas nas Universidades, shows de graça.... O povo preto tá em pauta.

No meu país miticamente democrático
todo são iguais perante a lei, dia de comemorar é 13 de maio e as cotas raciais causam furor porque "qual é a diferença entre brancos e negros?" ou "é injusto que os negros possuam duas chances no vestibular".

Leio que um menino se acostumou com racismo. Do lado, uma menina de pele preta, com curtos cabelos escovados diz " que não chega a ser negra", mas o pai dela é. E ainda me questionam se é preconceituoso vestir uma blusa 100% negro.

Nosso [meu?] povo mesmo recém liberto, não aprendeu a valorizar sua cor; o comentário da menina no jornal é prova do preconceito-debaixo-do-tapete. A camisa 100%, as cotas, as tranças e black power são as afirmações que o meu [seu?] povo preto não tem.

Parece sutil, mas os produtos de beleza, os outdoors, os âncoras de jornal, todos eles ajudam a construir a identidade negra perdida e não consolidada. O dia 20 de novembro não deve O dia de afirmação, mas uns dos dias. Um país que seus habitantes se acostumaram com o racismo e vêem o embranquecimento como corda de ascensão tende à um apartheid eterno e com marcas mais profundas que a do açoite. As marcas físicas e psicológicas que estão na população negra brasileira, atada à pobreza pela discriminação, não vão se apagar.


Espero por dias melhores.

2 comentários:

Salve Jorge disse...

Ao ostracismo com o racismo
Com as análises prévias
As indiossincrasias régias
Afinal como dizia Ben Jor
"Essa menina mulher da pele preta
Não está me deixando dormir sossegado..."

Daniel Mello disse...

Bom vou ter que discordar de vc novamente no ponto que acho mais importante da questão racial do Brasil... Não é o embranquecimento que provoca ascensão, mas ascensão embranquece. O povo tenta fugir dos signos da herança negra, pois esses são traços também associados a pobreza.
O termo aprtheid não se aplica bem ao modelo de racismo do Brasil. É um erro que atrapalha o próprio combate ao racismo à brasileira tentar relativisá-lo com o racismo de apartheid como na áfrica do Sul, EUA e Ruanda. O apartheid infere uma tensão racial explicíta, mas no Brasil a tensão racial foi transferida para o plano da falta de oportunidades sociais e econômicas.
O racismo no Brasil está implantado na estrutura social. Os padrões de sucesso e beleza são veladamente brancos. O preto é associado a pobreza e ao feio. Mas ambas estéticas estão presentes na mesma estrutura. No apartheid o negro está a parte, claramente determinado, e inferiorizado. Então não acho que o problema esta em procurar fazer o negro se afirmar, pois no Brasil é difícil definir com clareza o negro, mas promover a identidade negra como uma identificação estética e herança cultural legítima.