quinta-feira, 12 de junho de 2008

Parabéns, meu bem

Com a preguiça habitual, ela acorda e o vê sorrindo. Com os mesmos dentes amarelados de cigarro e com a gargalhada única, otimista.

"Bom dia querida". Ele diz docemente com seus olhos cor de mel.
"Bom dia", ela responde, como em qualquer outro dia.

Por horas ficam na cama entrelaçados um nos braços do outro. Lembram histórias e dores do passado, coisa sem cor, cheriando a mofo. Até que chegavam em suas histórias e ele a recorda da sua primeira declaração de amor. Seu sorriso é de desdem. O marfim dos dentes dela solta uma risada tão debochada, que constrange até mesmo as paredes bege-claro.

Ela não percebeu o mal-estar, assim como não reparou nas flores ao redor da cama, no café da manhã caprichado e na mudança do porta-retrato.

Os lábios moldados pela barba ruiva murchou até parecer flor morta.

Ele só queria que as amêndoas dissessem: "Parabéns, meu bem".

2 comentários:

Salve Jorge disse...

"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.."

Para bens
Para alguens
Para ninguens
O mesmo trem
Que o cotidiano é ácido
De tão democrático
E um sal de frutas vai bem...

Anônimo disse...

Lindo.