domingo, 14 de setembro de 2008

A readaptação

Como é (e está sendo) cruel voltar ao marasmo da vida cotidiana. Depois de tanta coisa e de tanta história, é difícil olhar com meus novos olhos para o que continuou estático.

Eu amo muito minha cidade e tenho a leve sensação que sempre precisarei partir para poder voltar. Mas sempre, sempre mesmo, fico com uma angústia aqui no peito, quando piso no solo vermelho.

Outro dia tava num desses eventos de graça aqui em Brasília, quando uma ciranda foi formada. Cara, que saco. Detesto esse papo de ciranda. Sabe porque? Porque é uma grande roda de hipocrisia. Todo mundo lá dando as mãos e dizendo “ó somos irmãos, somos iguais”. Peraí! Só até um certo ponto. Até ali, com seus semelhantes de ideologias e de economia.

Porque quando o morador de rua, cheirando a cola, chega perto, a ciranda se fecha e ele se torna invisível? Porque fechamos o vidro do carro a cada vez que paramos em um semáforo? Porque a gente vive tantas contradições?

Esses e outros porquês me afligem, me questionam e me fazem querer partir mais uma vez.

Me sinto um peixe fora d’água.

4 comentários:

Salve Jorge disse...

Sabe, peixe
Não se deixe
Aturdir pela maré
Quando se arreda pé
Tudo fica diferente
É o peito indolente
Levando a mente pra frente
Melhor que se queixe
QUe se encante com o feixe
De possibilidades
Do que se conformar
Com as discrepâncias na cidade
As meias-verdades
Entremeadas pra distanciar
As pessoas que pode se encontrar
Mas se apartam
Melhor que partam
Mas não partem
Elas só ficam...

Daniel Mello disse...

Quando se está só de passagem qualquer lugar é deslumbrante. Mas as mazelas que estão dentro das pessoas, estão em todos os lugares onde há pessoas.

"A verdadeira arte de viajar...
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

Eduardo Ferreira disse...

reciclagem de idéias e paisagens continua sendo uma boa pedida contra a hipocrisia e mesmice.

curti muito esse texto.

Tainá Falcão disse...

Saudades desse coração de seda.