sexta-feira, 24 de julho de 2009

Histórias do asfalto

O asfalto de Brasília conta histórias. A primeira delas é o descaso da política na cidade. O descaso dos políticos, reitero. Vivo em um local em que os pobres votam errado pela esperança e os ricos pela pilantragem. Me entristeço, me revolto.

A raiva vem com mais força quando me sinto em alto-mar em pleno Eixo Sul. Pista remendada, sobre e desce, quando não os buracos, capazes de engolir um carro sem grandes esforços.

Carros. Eles são as pernas do brasiliense. A bicicleta não aguenta o tranco. Os pés não suportam os quilômetros. O asfalto é o leva e traz, é a aorta de Brasília.

Outro dia, aqui, do lado de casa, vi sangue no chão. Vi porque sabia do acidente noticiado no jornal. Era uma senhora que ia na farmácia. Não chegou lá. Ela, a mulher com o corpo estirado que fez o Eixão parar e outros tantos narram os atropelamentos do dia a dia. O sangue - para lembrar o cuidado e atenção dobrada - some com o tempo, com a chuva ou se perde pelos pneus dos veículos. A história desaparece e só fica gravada no coração daqueles que perderam um pedaço, irreparável.

Uns, mais insistentes, picham o chão, como está a pista na direção norte-sul, na altura da 712 Sul. Um menino de 16 anos não chegou ao colégio. A revolta da perda fez com que um protesto silencioso registrasse a dor em grafite. Está lá, é só parar e ver.

E eis porque não vemos: não paramos. Na verdade, nem precisa parar, é só passar com cuidado pelas ruas frias e vazias e ver, no asfalto, prostitutas, meninos de rua e outros à margem. Existe um rio de piche que vai e vem, mas tome cuidado, para não morrer afogado.

5 comentários:

Gustavo disse...

Eu tenho um conto em que o banho da chuva lavava o sangue de uma vítima de acidente de trânsito. rsss
Pow, gostei do novo Caderno Cultura, ficou legal, tem material novo bem interessante.

Anônimo disse...

Oba, voltou a escrever! (Vou colocar anônimo pois vc jamais entenderia que eu gosto dos seus textos)

Mah disse...

revele-se, meu caro, minha cara.
=)

Jaque disse...

Você pediu, tudo bem eu falo quem sou: Jaque... Você escreve muito bem , Maíra. Parabéns. Gosto muito de ler seus textos....

Mah disse...

obrigada pelo elogio.
continue nos visitando!